Ucrânia escala guerra de drones com novo ataque a Moscou e a navios

Pela segunda vez em três dias, Kiev atacou pontos simbólicos da Rússia, como forma de ameaça ao país de Putin

Folhapress Folhapress -
Ucrânia usou drones para atacar prédio russo. (Foto: Reprodução/ YouTube)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ainda sem um avanço decisivo na contraofensiva contra forças russas em seu território, a Ucrânia escalou a guerra de drones contra Vladimir Putin.

Pela segunda vez em três dias, Kiev atacou pontos simbólicos de Moscou com drones de longa distância, e houve um novo ataque contra navios da Rússia no mar Negro.

A ação ocorreu na madrugada desta terça (1º) e, como sempre, foi admitida apenas de forma indireta pelos ucranianos.

Segundo a Defesa russa, dois drones foram derrubados na periferia moscovita, e um terceiro foi desabilitado por contramedidas eletrônicas, espatifando-se em um prédio no distrito de Moscow-City.

Aqui a narrativa engasga: o prédio atingido na área empresarial já havia sido alvo de outro drone na ofensiva de domingo (30).

Trata-se do IQ-Center, que concentra escritórios de três ministérios russos (Desenvolvimento Econômico, Digital e Indústria e Comércio) e de empresas de tecnologia.

Por um lado, faz parte do único núcleo de arranha-céus da capital, cidade de prédios imponentes, mas de perfil usualmente mais baixo.

Por outro, é um edifício simbólico. Fica no Centro Internacional de Negócios, conhecido como Moskva-Citi, ou Moscow-City, remetendo à análoga City londrina.

O centro foi idealizado em 1992 como símbolo da Rússia pós-soviética e tem a maior concentração de torres envidraçadas da Europa.

Ninguém ficou ferido. “Moscou está rapidamente se acostumando a uma guerra total”, exagerou o assessor presidencial ucraniano Mikhailo Podoliak no X, o ex-Twitter.

Já o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que, “de fato, há uma ameaça, isso é óbvio, e medidas estão sendo tomadas”.

Por precaução, o aeroporto de Vnukovo, um dos três internacionais que servem a capital, ficou fechado por algumas horas, o que já havia acontecido duas outras vezes.

A baixa frequências de voos de e para o exterior no país sob sanções tornam o incômodo menos perceptível, mas ele existe.

“Fomos orientados a trabalhar remotamente nesta semana”, disse Aleksander, que atua numa empresa de monitoramento de mercado de trabalho em Moscow-City e pediu para não ter o sobrenome revelado.

A Iandex, gigante equivalente ao Google na Rússia, fez o mesmo e pediu cuidado aos seus funcionários.

“Estamos avaliando os danos”, postou no Telegram Daria Levtchenko, porta-voz de Desenvolvimento Econômico, pasta cujos funcionários estão trabalhando de casa.

Desde maio, Moscou foi alvo de ao menos cinco ataques com drones, um deles contra o Kremlin, que fica a 5 km da área atingida nesta terça.

Por ora, o impacto é psicológico, e a Ucrânia aposta nisso. Mas há o que Aleksander, um apoiador moderado da guerra iniciada por Putin em 2022, chama de “estoicismo histórico dos russos”.

Sob essa visão, vidros quebrados não são nada para quem vem de famílias que sofreram os pavores da invasão nazista na Segunda Guerra.

Além disso, é incomparável com o que ocorre em solo ucraniano, como a ação que matou seis pessoas em Kriivi Rih, cidade natal de Volodimir Zelenski, na véspera.

A contraofensiva ucraniana ganhou um novo empuxo no final da semana, com um ataque mais concentrado com blindados e tropas equipadas pela Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos, em Zaporíjia, no sul do país, mas por ora não logrou um grande sucesso.

NAVIOS SÃO ATACADOS NO MAR NEGRO

Assim, como escreveu Podoliak, a Rússia deve esperar “mais drones não identificados, mais colapso, mais conflitos civis, mais guerra”.

Com efeito, Kiev também tentou atacar, pela segunda vez em duas semanas, navios russos no mar Negro, uma área nova de crise na guerra desde que a Rússia deixou o acordo que permitia o escoamento de grãos ucranianos por lá, na semana retrasada.

Dois navios-patrulha, o Serguei Kotov e o Vassili Bikov, foram alvo de ataques com drones marítimos nesta madrugada, noite de segunda no Brasil. Segundo Moscou, não houve danos.

Na semana retrasada, o Serguei Kotov já havia sido atacado. As embarcações estão operando em uma área distante do mar Negro, 340 km a sudoeste de sua base em Sebastopol, na Crimeia, visando as rotas que chegam à Ucrânia.

A Defesa russa também disse que houve ataques com três drones a navios civis de bandeira não revelada que rumavam para o estreito de Bósforo, na Turquia.

As embarcações de guerra russas teriam barrado os drones, algo impossível de verificar a essa altura, mas que insinua uma alta na tensão no mar Negro.

Tanto Moscou quanto Kiev anunciaram, após Putin deixar o acordo de julho de 2022 que permitia a passagem de navios com grãos ucranianos, que qualquer embarcação seria vista como hostil e passível de inspeção, para não falar em algo pior.

Desde então, operou bombardeios contra a infraestrutura portuária da Ucrânia, incluindo portos no rio Danúbio a 200 metros da Romênia, um membro da Otan.

Em resposta, a aliança anunciou que reforçaria a vigilância no mar Negro, visando a proteger a navegação em áreas internacionais.

Na segunda-feira, uma consulta a sites de monitoramento de tráfego aéreo mostrava a presença de um avião-tanque, um aparelho de patrulha e guerra antissubmarina e um drone de ataque americanos na região. Isso implica riscos de esbarrões, acidentais ou não.

Com efeito, navios estão concentrados perto do estuário do Danúbio, mas em águas romenas, embora três embarcações vindas de Israel, Turquia e Grécia tenham trafegado na região sob a cobertura da Otan – resta saber se irão se abastecer de grãos em Izmail, no lado ucraniano do Danúbio.

Enquanto isso, Kiev acertou um arranjo para tentar escoar sua produção por meio da Croácia, mas é incerto como isso ocorrerá, dada a distância física entre os países.

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