Moraes já havia ameaçado Silvinei Vasques de prisão no dia do 2º turno

Em reunião, diretor se comprometeu a interromper todas as abordagens em ônibus e obedecer decisão do ministro

Folhapress Folhapress -
Ministro Alexandre de Moraes. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Preso nesta quarta-feira (9) pela Polícia Federal, o então diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Silvinei Vasques, esteve no prédio do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no início da tarde do dia do segundo turno das eleições, um domingo, 30 de outubro.

Em reunião com o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, Vasques se comprometeu a interromper todas as abordagens em ônibus e obedecer a decisão do ministro. Naquele dia, a PRF havia descumprido ordem judicial de Moraes de não realizar operações que envolvam o transporte público de passageiros.

Naquela reunião, segundo relevou o podcast “Alexandre”, uma parceria da Revista Piauí com a Trovão Mídia, Moraes teria dito o seguinte ao então chefe da PRF: “Ou você para os bloqueios, ou você vai para a cadeia”.

Ainda segundo a revista, a reunião entre eles durou 15 minutos, e a ordem de Moraes foi a de que as estradas deveriam ser liberadas em até 20 minutos. Foi o que ocorreu.

Silvinei foi preso nesta quarta-feira em uma operação sobre as suspeitas de interferência da corporação no segundo turno das eleições presidenciais de 2022.

A Polícia Rodoviária Federal descumpriu ao longo do domingo de eleição uma decisão Moraes e fez uma série de abordagens em transportes públicos.

Segundo números internos da PRF aos quais o jornal Folha de S.Paulo teve acesso, o órgão já tinha realizado 514 ações de fiscalização contra ônibus até as 12h35.

O número de abordagens no segundo turno já era 70% maior do que o que foi registrado na primeira etapa do pleito, no dia 2 de outubro —não foi possível estimar se essas abordagens ocorrem antes ou depois da votação desses passageiros.

Dados da Polícia Rodoviária Federal obtidos pela Folha de S.Paulo mostraram que houve ao menos 82 abordagens somente a ônibus em Alagoas neste domingo (30).

Até o início da tarde, a quantidade de ações havia alcançado o número de 537. Desse total, 265, ou 49%, foram em estados da região nordeste, onde o ex-presidente Lula (PT) obteve vantagem sobre Jair Bolsonaro (PL) no 1º turno.

Na região Sudeste, a mais populosa e com maior malha rodoviária do país, foram 51 operações contra transporte de passageiros, número que representa 9,4% do total das ações. Nesse região, o presidente Bolsonaro ficou à frente do petista.

Silvinei Vasques teve uma gestão marcada por crises, como a iniciada pelo assassinato de Genivaldo de Jesus, em Sergipe.

Natural de Santa Catarina, ele tomou posse em abril do ano passado, dias após a nomeação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres —um dos principais aliados do presidente.

Desde então, ajudou a consolidar uma mudança no eixo de atuação da corporação iniciada no governo Bolsonaro, priorizando operações de combate ao tráfico de drogas em detrimento da fiscalização de rodovias.

Vasques foi nomeado por Bolsonaro após se aproximar do senador Flávio (PL-RJ), filho do presidente, quando era superintendente da corporação no Rio de Janeiro —último cargo que ele ocupou antes de assumir a PRF.

No dia da eleição, o então diretor da PRF pediu votos para Bolsonaro nas redes sociais. Vasques publicou uma imagem da bandeira do Brasil com as frases “Vote 22. Bolsonaro presidente”. A postagem foi apagada.

No Instagram, o inspetor acumula fotos com o presidente, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e o ministro da Justiça.

Em uma delas, agradece a Bolsonaro “pelos investimentos históricos na PRF” e diz que a corporação “está se transformando e fortalecendo seu processo de presença e ações por todo Brasil”.

Em março, recebeu a medalha de Ordem do Mérito do Ministério da Justiça —cujo objetivo, segundo o governo, é “agraciar autoridades que prestam notáveis serviços” ao ministério.

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