Abin cria guia para tentar identificar radicalização e planejamento de ataques em escolas

Documento traz indicadores que buscam auxiliar na identificação

Da Redação Da Redação -

RANIER BRAGON E PAULO SALDAÑA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) elaborou um guia para caracterizar ameaças de ataques em escolas e fornecer ferramentas para auxiliar a detecção antecipada de casos do tipo pelas forças de segurança estaduais.

O órgão afirma, na introdução do documento, que com adaptações e contribuições das instituições de educação é possível utilizar o guia para a “elaboração de um material a ser disponibilizado à comunidade escolar como um todo, visando ao estabelecimento de sensores”.

O documento, de acesso restrito e ao qual a Folha teve acesso, traz indicadores que buscam auxiliar na identificação de indivíduos que estejam em processo de radicalização, com adesão a ideologias extremistas, por exemplo, e também se preparando para atos violentos, o que é classificado como “mobilização para a violência”.

Com 40 páginas, o “Guia para prevenção de ataques extremistas violentos em escolas” foi produzido no fim do primeiro semestre e começou a ser enviado para as secretarias de Segurança Pública dos estados.

Segundo a Abin, o guia tem como objetivos “caracterizar a ameaça e oferecer ferramentas que auxiliem a detecção antecipada de um possível ataque”.

O número de ataques a escolas tem aumentado nos últimos anos no Brasil. Na última segunda (23), um ataque a tiros dentro de uma escola na zona leste de São Paulo deixou uma aluna morta e outras duas estudantes baleadas. O autor dos disparos foi um aluno de 16 anos.

Este foi 36º ataque em escolas no Brasil desde 2001. No entanto, mais da metade (21) ocorreu de 2022 para cá. Já são 11 só neste ano.

Todos os agressores são meninos e, como mostram pesquisas que mapeiam os episódios, tinham histórico de algum tipo de sofrimento no ambiente escolar, como bullying ou isolamento.

Além de uma explanação sobre o fenômeno de ataques no Brasil e em outros países e o perfil dos perpetradores de ataques, o guia aponta para fatores de alerta sobre a possibilidade de novos episódios. Entre eles, indica o fator de imitação, datas significativas e efeito contágio.

Sobre as datas, o documento traz uma infográfico mostrando como a maioria dos ataques realizados e tentados nos últimos anos no Brasil ocorreram em datas próximas a outros eventos iguais, chamados de referência por causa do número de vítimas e repercussão, por exemplo.

O guia da Abin também traz informações como a recorrência de incitação à violência em ambientes online e a associação de indivíduos a esses conteúdos, grupos e ideologias. O documento ressalta que a “dinâmica de radicalização não se mostra como um processo linear e envolve combinações variáveis de fatores”. Há no material, contudo, a descrição de um processo de radicalização, que envolve desde predisposição relacionada à saúde mental até acesso a ideologias extremistas, participação de grupos e disposição para agir, se envolver em ataques e planeja-los.

“Muitos dos que realizam ataques em escolas revelam sinais de suas insatisfações, intenções e de seus planos, de forma que outras pessoas, como familiares, amigos, professores ou contatos online teriam oportunidade de identificar indícios da mobilização para a violência”, diz o guia.

Com relação à mobilização para a realização de atos violentos, o material traz detalhes sobre indicadores, que são: ameaça, comunicação ou vazamento da intenção; financiamento; planejamento; dissimulação; colocação da vida em ordem e treinamento.

Há ainda, no guia da Abin, a sugestão de um formulário para a avaliação desses indicadores, como indícios que demonstram intenção de cometer atos de violência e pesquisas de alvos e táticas.

Outro questionário sugerido pelo guia se refere aos indicadores de radicalização, para a identificação de quadros em que há sinais de marginalização, ressentimentos, apreço a ideologias extremistas e radicais —e consumo de conteúdos com esse teor—, intolerância, discursos de apoio à violência, isolamento e ruptura, bem como atenção a históricos de doenças mentais.

A Abin ressalta que o guia “não é um instrumento preditivo de risco de violência”, mas é destinado a “auxiliar a identificação de potenciais ameaças e estabelecer prioridades na prevenção de ataques”.

Como é de acesso restrito e direcionado para os setores estaduais de segurança, o material da Abin expõe nomes de autores de ataques antigos e aponta para vestimentas e símbolos comuns a agressores, assim como principais termos e hashtags usados nas redes sociais por agressores e por pessoas que planejaram ataques. O intuito é facilitar a identificação por parte dos agentes de segurança estaduais.

A divulgação dessas informações, bem como o nome dos autores, é desencorajada por especialistas por colaborar com o chamado efeito contágio na inspiração de novos ataques. O próprio guia indica cautela para não contribuir com a sua disseminação.

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