Comerciantes do Centro de Goiânia criticam projeto de requalificação apresentado pela Prefeitura

Após 20 anos de promessas, o Portal 6 ouviu o que pensam empresários da região sobre o projeto Centraliza

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
Zé Latinhas, no Centro de Goiânia (Foto: Maria Luiza Valeriano/Portal 6)

A revitalização do Centro de Goiânia tem sido debatida e prometida há mais de 20 anos, a ponto de ganhar o status de lenda entre moradores da capital. Diversos projetos e gestões municipais já tentaram mudar tal realidade, mas sem sucesso, o que perpetuou o sentimento de abandono, principalmente entre os comerciantes da região.

O projeto mais recente é de autoria do atual prefeito Rogério Cruz (Republicanos), intitulado “Centraliza” e foi apresentado no último dia 23. Com início imediato, o plano de ação aborda sete eixos temáticos: segurança, mobilidade, lazer, cultura, infraestrutura, meio ambiente e, por fim, habitação e atividades econômicas.

Apesar da prefeitura afirmar que consultou diversas entidades representantes do Centro, o Portal 6 esteve presente na Rua 8, uma das regiões mais movimentadas do setor, recebendo cerca de 6 mil pessoas por semana, e ouviu a insatisfação dos comerciantes perante o plano de ação.

Beatriz Gonçalves, sócia de um dos bares mais tradicionais do local, o Zé Latinhas, aberto em 1967, apontou que não teve a oportunidade de ser consultada.

“O principal problema do projeto de requalificação do centro é a falta de abertura e de ouvidos para muitos dos comércios que tem aqui na cidade. Pelo que a gente consegue ver, as associações e as empresas que foram ouvidas são grandes empresas ou associações que muitas vezes excluem pequenos comércios ou aqueles que não estão ligados ao varejo, de forma geral”.

Segundo o governo municipal, algumas entidades consultadas foram a Associação Comercial e Industrial do Centro de Goiânia (ACIC), Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Goiás (Abrasel-GO) e Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO).

Vale destacar que bares e restaurantes, por exemplo, funcionam fora do horário comercial, momento em que o setor se torna mais perigoso, característica destacada pela representante como uma das mais cruciais de serem resolvidas.

“Não temos segurança se não tiver pessoas na rua. Isso por falta de incentivo aos comércios para a utilização da cidade em todos os horários”, explicou. Diante disso, Beatriz defende que o projeto não apoia os comércios de maneira satisfatória, determinado em isenção de IPTU de 100% por três anos e 40% por mais dois anos.

Enquanto isso, estacionamentos receberiam isenção de 100% do imposto por 15 anos, o que favoreceria a especulação imobiliária e destruição de prédios existentes, de acordo com Beatriz.

“Você incentivar que existam mais estacionamentos leva a necessidade de ter mais lotes utilizados para estacionamento. Como que a gente cria lotes utilizados para estacionamento em uma cidade já completamente construída? É demolindo, tirando espaços que poderiam ser utilizados de outra forma e muitas vezes até coisas históricas”, afirmou. Como contraponto, a goiana levantou a necessidade de melhorar o transporte coletivo e criar ciclovias e ciclofaixas na região.

Heitor Vilela, um dos proprietários da Casa Liberté, bar também localizado na Rua 8, compartilhou do mesmo argumento. “A gente vê que esse projeto de requalificação do Centro vai favorecer muito mais a especulação imobiliária do que a vida dos moradores do centro da cidade ou de quem já empreende aqui”, disse.

Casa Liberté (Foto: Maria Luiza Valeriano/Portal 6)

De acordo com o dono, a sensação é de que o poder público mais trabalha contra que a favor. “Em vez de um apoio, de readequação, […] a gente sempre enfrenta, na verdade, uma repressão muito grande, uma fiscalização excessiva e multas muitas vezes abusivas”.

Alguns pontos foram bem vistos, no entanto, como o de pedestrianização da Avenida Anhanguera e fechamento da Avenida Goiás aos domingos, embora a Rua 8 também apresente tal demanda e não foi contemplada.

Com isso, a esperança segue viva entre os comerciantes e, caso o projeto não seja alterado, seguirão batalhando pela ocupação do Centro – como já tem sido feito nas últimas décadas.

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