Conheça o cinema adulto no Centro de Goiânia que marca a capital desde a década de 70

Cine Astor é um dos cinemas mais antigos da capital e sobreviveu às diversas mudanças do setor

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
(Foto: Reprodução/Google Maps)

No Centro de Goiânia, entre uma clínica odontológica e uma ótica, encontra-se uma fachada curiosa que anuncia “cinema para adultos”. No entanto, o local está longe de ser um segredo para a população goianiense, que já tem o Cine Astor como uma espécie de marco de como um comércio pode sobreviver a décadas e como alguns costumes não mudam.

Aberto em 1979, o Cine Astor é um dos cinemas mais antigos da capital e, o que poucos sabem é que nem sempre foi destinado ao público adulto. Até o ano de 2001, os filmes que ali eram exibidos eram os chamados “culturais”, ou comerciais, ou seja, para o público geral.

Ao Portal 6, o proprietário Edson Randal apontou que a decisão se deu após a digitalização dos cinemas, momento em que se parou de usar filmes tradicionais. “Ficou muito difícil investir nos aparelhos necessários, que custavam cerca de R$ 600 mil”, explicou. De acordo com o dono, a tecnologia usada para a exibição de filmes adultos são mais em conta, com projetor custando em média R$ 330 mil – sem contar o sistema de som, servidor e outros aparatos.

Além disso, as grandes produtoras como a Warner e Fox possuem condições mais rígidas para se poder exibir os filmes comerciais, vendidos separados e no sistema DCP (Digital Cinema Package), que padroniza a distribuição e reprodução.

No cinema adulto, por sua vez, compra-se o direito de pacotes de filme e, também, não há tanta proteção contra a pirataria, que acaba por encarecer as operações, afirmou Edson.

“Isso vira um peso da balança. Sofremos com a falta de apoio governamental para conseguir continuar com o cinema cultural e, por isso, se tornou um cinema adulto”. Assim, o local conta com duas salas, uma que exibe conteúdos heterossexuais e a outra com filmes para o público homossexual.

Segundo o proprietário, o público LGBTQIA+ é o mais tradicional, não só em Goiânia como no mundo todo quando se trata de cinema adulto. De diferentes idades, desacompanhadas ou não, as pessoas vão até o Cine Astor, compram um ingresso e podem assistir quantos filmes desejarem.

O vai e vem de expectadores, no entanto, não deve ser confundido com bagunça, destacou Edson, que afirma se tratar de um ambiente em que a educação e respeito prevalecem.

Desse modo, como a clientela tende a ser fiel, não é incomum que, após tanto encontrar as mesmas pessoas, amizades se formam. “Já até ouvi casos de pessoas que desenvolveram relacionamentos”, disse.

O auge foi vivenciado entre 2009 e 2013, quando o cinema recebia aproximadamente 140 pessoas por dia, uma boa quantia para o gênero, explicou Edson. Os números atuais, porém, não foram compartilhados pelo dono, que assegurou ainda ter movimento o suficiente para manter o local.

Diante da ascensão do streaming, outra onda de crise atingiu o mercado, principalmente os cinemas de rua, que não contam com o movimento dos shopping centers. Ainda assim, para Edson, o que garante vida longa aos locais é o prazer de estar em uma sala de cinema, a qualidade da imagem, do som e a experiência compartilhada.

Tanto que o plano é voltar a exibir somente filmes comerciais no Cine Astor, sendo que o proprietário aposta no projeto de requalificação do Centro para atrair consumidores. “O cinema já enfrentou muito, mas nem a pirataria conseguiu acabar com o cinema. A pandemia quase conseguiu. Sobrevivemos no amor pela arte”, reforçou.

“O cinema nunca vai acabar. Ele pode mudar de local, mas não acaba. Em 1980, Goiânia tinha 11 salas de cinema. Hoje, estamos com acima de 60 salas. O cinema não foi se acabando, foi se evoluindo”, finalizou.

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