Sem apoio da Prefeitura, casal de idosos é obrigado a se mudar da casa onde moravam há quase 70 anos em Anápolis

Defesa Civil esteve presente ainda no início do ano e constatou o perigo eminente de viver ali, já que as fortes chuvas danificaram toda a estrutura

Samuel Leão Samuel Leão -
Casal teve que fugir devido ao risco eminente da casa cair. (Foto: Samuel Leão)

Após tentar de todas as formas alguma ajuda por parte da Prefeitura de Anápolis, a fim de evitar a queda da casa em que vivem desde 1955, o casal de idosos Loide Silva e Sérgio Anacleto, de 69 e 72 anos, juntamente com o neto que criam, tiveram de deixar o local e alugar outra casa.

As chuvas de fevereiro de 2023 levaram grande parte do quintal da residência, localizada na Avenida Miguel João, no bairro Vila Jussara, e o medo do imóvel ceder se tornou constante, ao ponto de toda a situação ficar insuportável – tamanho o medo de colocar a cabeça no travesseiro à noite sem a certeza de que teriam um teto intacto sobre a cabeça e um chão sólido sob os pés quando acordassem pela manhã.

“Mudamos no sábado (04), porque o Giovani [neto] sofre com síndrome do pânico, então resolvemos procurar alguma casa. Tivemos mais essa despesa, não contávamos com isso no orçamento da família. Abandonamos porque meu marido insistentemente foi atrás e não conseguiu nada, sequer resguardaram para a casa não cair”, desabafou Loide, em entrevista ao Portal 6.

Como se a experiência de abandonar o lar depois de quase 70 anos por puro medo não fosse o bastante, eles ainda relatam fortes impactos psicológicos causados pela situação vivida, especialmente no netinho Giovani, de 10 anos.

“Estamos bem, tentando melhorar a cada dia, vendo o neto mais tranquilo. Mas, ainda assim, ele continua olhando para o céu para ver se vem nuvem, fica arraigado naquele lugar porque ele nasceu ali, assim como eu, que também fui para lá com um ano de idade. Não é fácil, o poder público está parado de braços cruzados, infelizmente”, completou a idosa.

Situação crítica não é nenhuma novidade

Segundo a família, apesar de ter se tornado insustentável em 2023, os problemas teriam se iniciado ainda em 2006, quando o córrego foi mudado do lado Oeste para o Leste da via – o que fez com que as águas passassem a lavar o entorno do imóvel, desgastando a fundação e desbarrancando até a Avenida Brasil, a menos de dois metros da pista.

Em abril de 2023, a Defesa Civil esteve no local e constatou o risco eminente para quem vivesse ali, sinalizando que a Secretaria de Obras teria se comprometido a realizar obras para resolver o problema ainda neste ano.

Entretanto, nenhuma ação foi tomada e a família teve que se virar por conta própria – resultando, então, no abandono do que foi um lar de uma vida inteira.

O que diz a Prefeitura de Anápolis?

Ainda no começo de outubro, o Portal 6 ouviu a família, denunciou o caso e pediu um posicionamento à Prefeitura, que se calou diante da situação. Em uma nova solicitação, nesta sexta-feira (10), a gestão jogou a responsabilidade para os moradores.

“A Secretaria Municipal de Obras informa que se trata de um problema crônico e de década, e a cada ano que passa há uma deterioração natural pelas circunstâncias, já que as moradias foram construídas há anos na encosta do córrego”, declarou a assessoria do Centro Administrativo, em nota.

“Inclusive dentro de área de preservação ambiental, não respeitando a legislação que é de no mínimo 30 metros de distância de córregos e 50 metros de nascentes”, completou.

Entretanto, apesar da afirmação da Prefeitura, a casa foi construída na década de 50, e foi a mudança do curso do córrego, ocorrida em 2006, que deu início ao desgaste estrutural.

Ainda na nota emitida, foi sinalizada a realização de obras paliativas para lidar com o problema: “mas a Prefeitura vem trabalhando com o projeto de macrodrenagem que tem duração de três anos para ser totalmente concluído e, atualmente, é realizada a infiltração para diminuir o volume das águas. Além disso, pontualmente no local, é feita a limpeza e o desassoreamento para dar mais vazão”.

Por fim, a reportagem também indagou a possibilidade do casal ser contemplado com o benefício do Aluguel Social, visto que possuem idade avançada e despendem boa parte da renda em remédios, procedimentos e na criação do neto. Somado a isso, contam agora com uma nova despesa – o aluguel do novo espaço, após terem que deixar para trás a antiga casa.

Porém, a gestão municipal destacou apenas que a renda mensal do casal impossibilita a distribuição desse benefício.

“Sobre o aluguel social, é benefício eventual instituído pelo governo federal e que compete aos estados e municípios a sua gestão para famílias em vulnerabilidade social, sendo observados critérios como renda mensal, que deve ser igual ou inferior a um quarto do salário mínimo. A família já fez a solicitação, mas não se enquadra nos critérios por ter renda mensal fixa superior a cinco salários mínimos”.

*Colaborou Caio Henrique.

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