“A sensação é de que estamos enxugando gelo”, diz especialista sobre distribuição de energia em Goiás

Ao Portal 6, Augusto Francisco diz que é preciso dar uma colher de chá à Equatorial, mas se atenta à necessidade de fiscalização eficiente

Karina Ribeiro Karina Ribeiro -
(Foto: Reprodução)

Desde a privatização da Celg, em 2016, o cenário de distribuição de energia em Goiás pouco avançou. O que pode causar estranheza é que houve investimentos robustos pelas empresas sucessoras – Enel e Equatorial.

Entre os anos de 2017 e 2021, a primeira chegou a investir mais de R$ 7 bilhões no estado. A Equatorial, por sua vez, segue caminho semelhante, com mais de R$ 1,3 bilhão ao fechar o primeiro ano de prestação de serviços. A título de comparação, a Celg, depauperada e às vias de perder a concessão – investiu valores próximos a R$ 600 milhões nos últimos dois anos de permanência.

Para o engenheiro eletricista e presidente da Associação Brasileira dos Consumidores de Energia Elétrica (Asceel), Augusto Francisco da Silva, Goiás perdeu muito tempo com a inapta presença da Enel – que atualmente atua em estados como São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro.

“A sensação é de enxugar gelo”, diz. A frase remete a opção da linha de investimentos da empresa – que não priorizava o consumidor, nem em qualidade de energia, nem na diminuição das interrupções.

A automação da rede, com instalações de chaves de controle remoto, uma manobra automática para identificar as falhas e interromper a energia – foram os principais motes da Enel. “Mas a rede em si que estava degradada não foi consertada e os efeitos são duradouros”, resume.

Os dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam que os goianos ficaram, ao longo de 2016, 29,55 horas sem energia – aumentando para 32,29 em 2017 – e caindo para 26,61, em 2018. Apesar da melhora, a empresa ficou em última posição de continuidade de serviço em todo o país.

Trazendo um cenário mais recente, em 2022, os consumidores goianos ficaram 15,66 horas em média sem energia – enquanto o recomendado pela agência reguladora é de 12,11. Os números são atribuídos à Enel e Equatorial, embora a última tenha assumido a gestão em dezembro do ano passado. A previsão para este ano, conforme a Equatorial, é de 1,56 h mês sem fornecimento de energia. No ano, o volume chega a 17,52.

Ao olhar a frieza dos números, o consumidor pode ter a sensação de melhora no serviço. Entretanto, com 40 anos de experiência no mercado, Augusto explica que a Aneel mudou as regras e houve maior flexibilização neste cálculo.

“Algumas interrupções são descartadas, quando se trata de um fenômeno de grande volume. Mas se não é feita a manutenção, sempre vão ter eventos de grande volume”, explica. A manobra deu margem para que empresas se ancorem em situações extraordinárias.

Augusto diz ainda que é prematura fazer uma análise em relação a Equatorial, que fará um ano no estado em dezembro. Mas, para ele, soluções simples podem melhorar, e muito, na qualidade da distribuição de energia do estado.

“A poda constante de árvores e investimentos em redes baixa tensão deveriam ser prioridades. Não existe sistema seguro com galhos batendo em fios. É certo que vai ocorrer curto circuito e prejuízo”, explica. Na zona rural, outro conselho, seria a limpeza das faixas.

Agora, diz, é torcer para que a Equatorial cumpra o prometido à Aneel e que a agência reguladora faça o trabalho fiscalizador.

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