Comandante da Marinha colocou tropas à disposição de Bolsonaro, diz ex-chefe da Aeronáutica à PF

Carlos Almeida Baptista Júnior relatou ao menos três reuniões em que foram discutidas minutas golpistas

Folhapress Folhapress -
Ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior prestou depoimento relativo a minuta golpista ligada a Bolsonaro. (Montagem: Agência Brasil/Folhapress)

FABIO SERAPIÃO, CÉZAR FEITOZA E JULIA CHAIB

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior afirmou à Polícia Federal que o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos colocou tropas à disposição de Jair Bolsonaro (PL) ao discutir planos para tentar impedir a posse do presidente Lula (PT).

“Que em uma das reuniões com os comandantes das Forças após o segundo turno das eleições, dentro do contexto apresentado pelo então presidente Jair Bolsonaro, de utilização dos institutos, de GLO e defesa, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, afirmou que colocaria suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro”, diz trecho do depoimento de Baptista Júnior ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso.

A declaração do almirante reforça a declaração do ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, que sugeriu à PF que Garnier concordou com as ideias propostas nas versões das minutas golpistas discutidas com Bolsonaro.

Segundo o depoimento de Freire Gomes, ao qual a Folha de S.Paulo também teve acesso, Almir Garnier teria se colocado “à disposição” do então mandatário durante uma das reuniões em que foi discutida uma das versões da minuta golpista.

Freire Gomes relatou que no encontro também estava o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, além de Bolsonaro e os três comandantes das Forças.

“Disse que ainda em outra reunião em data que não se recorda, Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação de uma comissão de regularidade eleitoral para apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral. Que na reunião estavam os três comandantes e o ministro da Defesa”, como consta no depoimento de Freire Gomes.

“Disse que ele e Baptista afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto. Que não teria suporte jurídico para tomar qualquer atitude. Que acredita, pelo que se recorda, que o almirante Garnier teria se colocado à disposição do presidente da República”, diz outro trecho da oitiva do general.

O ex-comandante relatou ao menos três reuniões com Bolsonaro em que foram discutidas minutas golpistas. Ele relatou também um encontro no Ministério da Defesa no qual hipóteses para impedir a posse de Lula também foram debatidas.

Nesta reunião, relatou Freire Gomes, o próprio ministro da Defesa apresentou uma minuta “mais abrangente” do que a que havia sido apresentada por Bolsonaro em encontro anterior, “mas da mesma forma decretava o estado de defesa e instituía a comissão de regularidade eleitoral.”

“Que da mesma forma o depoente e Baptista Júnior se posicionaram contrários às medidas constantes na minuta de decreto, que impediria a posse do governo eleito. Que acredita que da mesma forma o almirante Garnier não se manifestou sobre o conteúdo do decreto. Que o ministro não questionou a posição do depoente e de Batista Júnior”, relatou Freire Gomes.

As declarações do almirante e do general reforçam o que havia sido dito pelo tenente-coronel Mauro Cid, de que Ganier havia anuído com a ideia do golpe.

O ex-comandante da Marinha foi alvo de mandados de busca e apreensão expedidos pela PF em fevereiro, com base na colaboração de Cid.

No pedido de buscas, a Polícia Federal informou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que Garnier participou de reunião no Palácio da Alvorada, em 7 de dezembro, na qual Bolsonaro discutiu com chefes militares e auxiliares uma minuta de decreto golpista.

Garnier também teve de entregar o passaporte, ficou proibido de sair do país e de manter contato com outros investigados.

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