Como é a universidade federal com turma de 1 aluna só em MG
Estudante Isadora Rezende compartilhou sua rotina sem colegas de sala no campus de São Sebastião do Paraíso
PIETRA CARVALHO – A Universidade Federal de Lavras (Ufla), que virou assunto por ter uma turma com apenas uma aluna, inaugurou seu novo campus há três anos. A estudante Isadora Rezende compartilhou sua rotina sem colegas de sala no campus de São Sebastião do Paraíso (MG).
COMO É O CAMPUS NOVO?
O campus de São Sebastião do Paraíso fica no sul de Minas, perto da divisa com São Paulo. Cidades grandes como Franca e Ribeirão Preto ficam a cerca de 75 km e 107 km, respectivamente. A cidade de 70 mil habitantes foi escolhida por apresentar características semelhantes às de Lavras, com forte presença da cafeicultura e da pecuária, e por estar em um raio de 150 km sem a presença de um campus de uma universidade federal, segundo a Ufla. O campus tem área de 150 mil metros quadrados.
A unidade abriga o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (Ictin) e oferece o bacharelado interdisciplinar em Inovação, Ciência e Tecnologia (BICT). Esse curso tem duração de três anos e pode ser emendado com uma formação em engenharia, de mais dois anos. Ou seja, após a conclusão do BICT, o aluno pode optar por continuar os estudos e se formar engenheiro (são três opções de engenharia: software, produção e elétrica).
O QUE TEM NO CAMPUS DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:
Um pavilhão de aulas;
Prédios de “incubadoras de empresas”. Segundo a Ufla, “esse programa normalmente consiste em dar acesso a espaço físico, cursos, palestras, treinamentos, serviços de orientação gerencial (consultorias, assessorias), rede de contatos empresariais, entre outros benefícios” para os negócios que entram na incubadora.
Laboratórios.
Um campo de futebol.
Uma quadra multiuso.
Prédios das engenharias (elétrica, software e produção).
A faculdade ainda trabalha na conclusão de obras. Estão previstos um anfiteatro, biblioteca e um centro de convivência e inovação. Equipamentos ligados à tecnologia da unidade foram prioridade na hora de montar a estrutura da universidade.
“Durante 2022 e 2023, foram realizados significativos investimentos em infraestrutura de TI, visando a operacionalização iminente de equipamentos de informática, telefonia, redes de comunicação de dados e pontos de acesso sem fio à internet. Este investimento é estratégico, dada a concentração dos cursos em áreas de desenvolvimento tecnológico, empreendedorismo e inovação”, disse Neumar Malheiros, vice-diretor do Ictin, ao site da faculdade.
PROFESSORES E ALUNOS
O campus de São Sebastião do Paraíso tem 29 professores, todos doutores e com dedicação exclusiva ao campus. Em nota, a Ufla destaca que, além das aulas, eles também atuam em “pesquisa, extensão e inovação”, o que “amplia o impacto acadêmico e científico do campus”.
Atualmente, 124 estudantes estão matriculados no campus de São Sebastião. O campus da universidade oferece 180 vagas por ano, distribuídas em duas entradas semestrais. A universidade reconhece os desafios de atrair mais alunos. Segundo a Ufla, o formato do BICT e a forma como aparece no Sisu “foi um desafio logo no momento inicial da implantação do campus”.
“Como os cursos específicos de engenharia não aparecem diretamente como escolha no Sisu, torna-se fundamental uma comunicação mais ampla sobre as possibilidades do modelo interdisciplinar, ainda um modelo em crescimento no Brasil. Além disso, o período pós-pandemia trouxe mudanças no comportamento dos jovens em relação ao ensino superior”, disse a Ufla, em nota ao UOL.
‘BASE’ É ANTIGA
Apesar de a “filial” ser nova, a universidade de Lavras tem 116 anos de existência. Ela foi fundada em 1908 por um pastor da Igreja Presbiteriana, o americano Samuel Rhea Gammon, sob o nome de Escola Agrícola de Lavras, sendo federalizada em 1963.
A faculdade é pioneira em projetos envolvendo a agropecuária. Promoveu a Primeira Exposição Nacional do Milho, a Primeira Exposição Agropecuária do Estado de Minas Gerais e introduziu um dos primeiros tratores a arar terras brasileiras.
POR QUE ALUNA FICOU SOZINHA EM UMA TURMA?
Isadora Rezende entrou na primeira turma do bacharelado interdisciplinar em Inovação, Ciência e Tecnologia (BICT), e apenas 12 de 90 vagas foram preenchidas, segundo ela. A já pequena lista de alunos continuou a reduzir quando cinco dos 12 deixaram o curso.
Além disso, Isadora e os colegas tiveram de decidir quais seriam suas especialidades dentro da área: engenharia de software, elétrica ou de produção. E apenas ela seguiu para engenharia de produção. Os colegas também atrasaram o cumprimento de disciplinas obrigatórias —e Isadora acabou pegando matérias eletivas ligadas à engenharia de produção. Com isso, ficou sozinha em sala. Ao UOL, ela contou os prós e contras de fazer aulas sem colegas, apenas com o professor em sala.