Psicóloga em Goiânia explica o que é Red Pill, movimento que tem atraído jovens e prega o retorno da masculinidade
Ao Portal 6, especialista fala explica sobre o comportamento que afeta ambos os gêneros


Na Grécia Antiga, aspectos como submissão, educação limitada e responsabilidade pelas tarefas domésticas definiam o que era ser mulher. Na época, pessoas do sexo feminino só eram consideradas “um indivíduo” perante o Estado e a sociedade se fossem propriedade do pai e, posteriormente, do marido. Milênios depois, e após diversas mudanças a respeito do papel feminino, um novo movimento — sob o nome Red Pill — tem reverberado nas redes sociais e busca resgatar aquele modelo anterior.
Abordando termos como “machosfera” e “manosfera”, os participantes da iniciativa discutem o papel dos homens na sociedade, destacando a supervalorização do masculino em oposição à conquista de direitos de minorias — sendo mulheres e pessoas LGBTQIA+ os principais alvos. Os discursos, geralmente, apresentam conteúdos machistas e, por vezes, misóginos (de ódio à mulher).
Em entrevista ao Portal 6, a psicóloga e coordenadora de Psicologia da Estácio, em Goiás, Ana Cláudia Carvalho, explica que o nome do movimento — que, em português, significa “Pílula Vermelha” — faz alusão ao filme Matrix, de 1999, no qual o protagonista deve escolher entre dois caminhos: tomar a pílula azul e viver numa ilusão ou tomar a vermelha, que trará a compreensão nua e crua da realidade.
Na teoria, os integrantes do Red Pill alegam ter uma visão consciente e sem “firulas” do cenário atual que, para eles, seria injustamente dominado pelas mulheres. Nesse contexto, as mulheres devem exercer um papel de submissão total, enquanto o homem representa a autoridade.
“É uma mulher que vai ter que se submeter a algumas situações. […] Se a gente for pensar na época antes da Revolução Industrial, a mulher estava em casa, cuidando dos filhos, geralmente em uma família numerosa. Com a Revolução, ela sai do lar, e aí vem o anticoncepcional e as famílias têm uma redução de filhos, e a mulher começa a escolher. O movimento Red Pill é como se fosse um retorno àquele processo anterior”, explica.
As redes sociais são compreendidas por ela como um dos principais canais de disseminação dessas mensagens. Thiago Schutz, de 34 anos, também conhecido como ‘Calvo do Campari’, é um dos seguidores desse pensamento e dono do perfil Manual Red Pill Brasil. Ele viralizou após compartilhar um vídeo exemplificando uma suposta manipulação, em que uma mulher oferece cerveja a um homem que bebe Campari.
Para Ana, o amplo compartilhamento — mesmo que por meio de memes ou piadas — tem servido para reforçar os ideais do movimento e atingir, principalmente, os mais jovens que não tiveram uma referência paterna dentro de casa.
“A gente precisa entender que, antigamente, tínhamos uma criação um pouco mais autoritária, mais rígida. Os jovens de hoje podem buscar essa referência por não terem tido nenhuma. Com essa mudança no lugar da mulher, ele pode não ter essa referência de masculinidade. […] Mas o grande problema, no sentido da internet como um todo, é que ela não pode ser algo que devemos tomar como referência”, explica.
O impacto nos jovens pode perdurar por anos. Segundo ela, enquanto os homens podem desenvolver falas e comportamentos machistas, as mulheres podem criar aversão a relacionamentos.
Nas relações, embora defenda que cada casal tenha sua própria forma de se relacionar, a psicóloga salienta que esse tipo de pensamento pode colaborar para a criação de relacionamentos tóxicos, uma vez que a mulher, nesse contexto, poderá ocupar uma posição desconfortável, gerando sofrimento emocional.
“Cada casal vai ter sua forma de se relacionar. Isso é algo individual. Mas quando isso é imposto à mulher, e quando ela está dividida entre tantos papéis, isso pode causar um grande angustiamento”, conclui.
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