Biden sofre nova queda de aprovação e vê risco de derrota crescer em novembro

Ele completa 18 meses no poder com poucos avanços no Congresso, muitas decisões adversas na Suprema Corte e sem resolver a inflação no país

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Biden sofre nova queda de aprovação e vê risco de derrota crescer em novembro
(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

RAFAEL BALAGO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – “Tem uma velha expressão em Delaware que diz: ‘Somos como parentes pobres. Aparecemos quando nos convidam e ficamos mais do que deveríamos. Então, tomem cuidado, podemos não voltar para casa”, brincou o presidente americano, Joe Biden, durante visita ao palácio real de Madri, na terça (28).

Biden tem razões para ficar distante. Ele completa 18 meses no poder com poucos avanços no Congresso, muitas decisões adversas na Suprema Corte e sem resolver o principal problema do país, a inflação.

Nos últimos dias, dois indicadores mostraram que a paciência dos americanos está diminuindo. A média de aprovação do democrata caiu para 38,9%, menor cifra durante o mandato. E projeções para o pleito de novembro, quando haverá renovação do Congresso, indicam a chance de uma ampla vitória republicana.

Uma das pesquisas, realizada pelo instituto Ipsos, aponta que 71% dos americanos dizem considerar que o país está na direção errada. Entre eleitores democratas, 49% afirmam ter esta percepção. Para 34% dos entrevistados, o maior problema atual é a economia. “O governo não tem resposta para a inflação. E é difícil combatê-la a curto prazo”, avalia Clifford Young, diretor do Ipsos para assuntos públicos nos EUA.

“Ele ainda deve recuperar um pouco [da aprovação], porque problemas como a Guerra da Ucrânia não devem durar para sempre, mas dentro de um limite, uma vez que temos um cenário de muita polarização no país. Os presidentes dificilmente vão muito além de 50% [de aprovação].” Mas o tempo para obter resultados é curto, e, nos últimos meses, Biden não conseguiu aprovar no Congresso propostas para a economia, como um pacote bilionário de gastos públicos.

Ele também propôs um corte temporário de impostos sobre combustíveis, mas os parlamentares partiram para o recesso do 4 de Julho sem votá-lo.

A alta de preços, na faixa de 8,6% ao ano, é muito perceptível nos postos. Os EUA estão em período de férias de verão, quando milhares de pessoas viajam de carro. A gasolina custa, em média, US$ 5 (R$ 26,6) o galão, segundo dados do Departamento de Energia. Em janeiro, a média era de US$ 3,40 (R$ 18).

A chegada do verão esfria o ritmo em Washington: os parlamentares voltam do recesso em meados de julho, trabalham duas semanas e depois partem para outra pausa em agosto. Quando retornarem, em setembro, faltarão apenas dois meses para as chamadas midterms, as eleições de meio de mandato.

Uma análise do site FiveThirtyEight, especializado em estatísticas, aponta que os republicanos têm 87% de chances de obter maioria e assumir o controle da Câmara, e 55% de fazer o mesmo no Senado.

Na Câmara, Casa na qual haverá renovação completa, os democratas são favoritos para manter 195 assentos, mas enfrentam disputas acirradas por outras 13 cadeiras. Mesmo que haja vitórias nessas 13 disputas, o partido chegaria a 208 deputados, dez a menos do que o necessário (218) para obter maioria. Assim, será preciso reverter o favoritismo de candidatos republicanos em muitas disputas.

No Senado, a renovação será menor: 35 dos 100 assentos estão em jogo, 21 dos quais sob controle republicano atualmente. Como a divisão no momento é de 50 senadores para cada partido, a previsão fica mais difícil: apenas uma vitória pode mudar todo o cenário. É comum que presidentes percam maiorias no Congresso nas eleições de meio de mandato, como ocorreu com Barack Obama em 2010 e Donald Trump em 2018, o que torna bem mais difícil aprovar medidas nos dois últimos anos do governo.

Apesar de ter vantagem na Câmara e no Senado, os democratas avançaram pouco nos últimos meses, por vezes devido a falta de consenso entre os próprios membros do partido. Neste ano, houve apoio dos republicanos para uma lei de restrições às armas de fogo e a pacotes de ajuda à Ucrânia. A guerra, porém, já passa de quatro meses sem uma perspectiva clara de quando o conflito vai acabar.

A inflação também vai corroendo o plano de investimentos em infraestrutura, de US$ 1,2 trilhão, aprovado em novembro. Com a alta de preços de materiais -o custo do ferro e do aço quase dobrou no último ano–, os projetos para ampliar estradas, ferrovias e outras estruturas do país estão sendo reduzidos.

Biden enfrenta ainda reveses na Suprema Corte, hoje com sólida maioria conservadora. Na quinta (30), o tribunal decidiu que a EPA, agência federal de proteção ambiental, não pode limitar as emissões de poluentes em usinas. Assim, o governo terá menos ferramentas para combater a crise climática.

A corte também derrubou o direito constitucional ao aborto no país, e o presidente prometeu agir para atenuar a mudança, mas não pode fazer muito sem o apoio do Congresso. Biden defendeu alterar regras do Senado para aprovar uma lei federal que garanta o acesso ao procedimento, o que exigiria que os democratas afrouxassem o filibuster, mecanismo que permite ao partido minoritário barrar propostas.

Mas não há consenso, e, com maioria estreita, a divergência de um só membro do partido já barra a ideia. E os democratas conseguem ter dois: Joe Manchin e Kyrsten Sinema são contra mudar o filibuster.

A expectativa dos democratas é que a decisão sobre aborto estimule a ida às urnas, o que pode favorecê-los. Historicamente, porém, as midterms atraem menos eleitores. Em 2018, só 53% dos eleitores votaram, contra 66% de comparecimento na eleição presidencial de 2020. O voto não é obrigatório nos EUA.

Newsletter China, terra do meio Receba no seu email os grandes temas da China explicados e contextualizados; exclusiva para assinantes. * A sensação de urgência trazida por temas como combustível caro e fim da interrupção voluntária da gravidez acabam deixando de lado pontos positivos para Biden, como o baixo desemprego, na faixa de 3,6%, e o controle da pandemia de coronavírus, que hoje já não é mais um grande problema no país.

“Na política, não importa muito o que você fez ontem. Se não consigo comprar comida ou estou gastando muito com gasolina, vem a pergunta: ‘O que você está fazendo por mim agora?'”, afirma Young, da Ipsos.

Em novembro, Biden pode acabar pagando o preço de voltar para casa sem encontrar essas respostas.

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