Enxergando pelo coração

Carlos Henrique Carlos Henrique -
Enxergando pelo coração

Mesmos as pessoas de bom coração acabam tendo problemas psicológicos num mundo em que são mais valorizados o que possuem do que a maneira de como são. Numa manhã entrou no consultório uma mulher de 23 anos, ruiva, expressão suave, olhos meigos, gestos calmos e uma inteligência aguçada para compreender as pessoas ao seu redor. Quando solicitada que descrevesse com quem se relacionava, os descreveu pelo que essas pessoas transmitiam, pelas emoções que viviam. Não citou profissão, o que fazia e nem o que tinha. Para ela o importante estava na subjetividade. Ela tratava todos com muito carinho. Este modo de ver o mundo me lembrou um trecho do livro Pequeno Príncipe “o essencial é invisível aos olhos”. Foi uma das poucas pessoas que conheci até hoje que enxergava pelo coração. E qual o seu problema? Estava na relação com as pessoas que enxergavam os outros como números, ações, resultados, fardos e status. Em resumo ela estava inserida num mundo em que o importante é o que se tem e o status que isso representa.

No caso dessa paciente ela trabalhava numa empresa que era dessa forma que os colaboradores e clientes eram vistos e tratados. Era seu terceiro emprego e novamente não estava se adaptando. O problema é que agora estava insegura e angustiada, se questionava senão era ela que estava errada, pois o que escutava a definiam como ingênua, frágil e que não vai se dar bem no mundo corporativo. Com angústia ficava na dúvida entre continuar onde trabalhava ou construir algo para si. Mas como empreender estando insegura.

O trabalho desenvolvido com essa paciente foi de fortalecimento do seu projeto de Ser, pois mais importante do que ela iria fazer e ter era definir-se de maneira segura o que queria Ser. Historicamente ela relacionava-se muito bem com as pessoas, tinha uma legião de amigos que a queriam muito bem. E por sua vez, ela sentia em seu coração que tinha um projeto grande para realizar, mas não sabia o que. No decorrer da psicoterapia foi se encaminhando para montar seu próprio negócio, para gerir da forma como acreditava que devia tratar os colaboradores e clientes. Anos depois tive a oportunidade de encontrá-la e verificar que sua empresa é praticamente uma comunidade e contrariamente ao que lhe diziam, ela se deu muito bem no mundo corporativo.

Flavio Melo Ribeiro é psicológo e blogueiro. Escreve todas as terças-feiras.

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