Sorteados do Minha Casa Minha Vida em Anápolis tiram da boca para o aluguel ou moram de favor

Carlos Henrique Carlos Henrique -

Atualizada às 14h31 com a nota da Caixa

O fim do mês chega com dor de cabeça. É hora de pagar o aluguel da casa. O desemprego que avança sobre mais de 20 milhões de brasileiros também faz suas vítimas em Anápolis e força famílias inteiras a comprometer a alimentação para garantir o teto. Há ainda os que já não conseguem nem mesmo dar conta do aluguel e moram de favor junto com familiares ou conhecidos.

Essa situação é vivida por cerca de dez mil famílias em Anápolis, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. O poder público, numa parceria entre Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal, Governo de Goiás e Prefeitura tenta diminuir o deficit habitacional por meio do programa Minha Casa Minha Vida, mas a demora na entrega de casas e apartamentos deixa mais dramático ainda o estado desesperador de quase 1.500 famílias que aguardam moradia nos residenciais Colorado, Polocentro e São Cristóvão.

O condomínio do Residencial Colorado I e II está com quase 90% da obra concluída, mas problemas de ordem financeira entre o poder público e a construtora paralisaram os trabalhos.

O Polocentro já tem 100% das casas de cohab prontas, mas o saneamento básico – que em tese deveria vir antes da construção – trava a entrega aos beneficiários que agora dependem da conclusão das obras da Saneago no local para enfim receber as chaves.

Situação não menos agoniante vivem as 640 famílias que aguardam poder entrar com seus pertences no Residencial São Cristóvão, que já está 100% pronto. A entrega do condomínio de apartamentos localizado na região Leste de Anápolis, tem sido prometida e postergada pela Prefeitura desde o primeiro semestre deste ano – como mostram as inúmeras reportagens feitas pelo Portal 6.

A última previsão de entrega era para a segunda semana de outubro e mais uma vez foi adiada “em respeito à uma orientação do Governo Federal, via Ministério das Cidades, que entende não ser adequado fazê-lo em período eleitoral”, informou em nota a Prefeitura de Anápolis.

Esperar esse tempo passar, porém, implica em manter o insustentável. É o que apontam, em depoimentos, os beneficiários ouvidos pela reportagem do Portal 6 nesta segunda-feira (17).

Bruna Louise, de 26 anos

Moro de favor na casa de uma tia do meu marido. Depois de muito sufoco tentando morar de aluguel resolvemos fazer a inscrição e aguardar morando de favor. Estou na expectativa desde 2014, que foi quando fiz a inscrição.

Apesar de não pagar aluguel, nós ajudamos nas despesas com bastante dificuldade, já que estamos desempregados. Meu marido sofreu um acidente em uma serra circular e perdeu um dedo e partes de outros dois, o que dificulta um pouco o trabalho dele. Ele é marceneiro.

Moramos em 6 pessoas (meu marido, a tia dele, uma prima dele, eu e meus dois filhos de 7 e 2 anos).

Sofremos um pouco com falta de privacidade e em certos momentos sinto que estamos incomodando. É muito difícil, em certos momentos sinto que estão brincando com o sonho da população, marcando e cancelando por diversas vezes a assinatura do contrato e a entrega das chaves.

Paula Bueno, de 33 anos

Moro há 12 anos de aluguel. O sorteio dos apartamentos do São Cristóvão foi em dezembro do ano passado. Pago R$ 400 reais de aluguel e no momento estou desempregada. Esse dinheiro daria para alimentar melhor meu filho. Moramos em três eu meu filho e meu marido, que também está desempregado.

Fiz minha inscrição em 2009 e só agora fui sorteada.

Célia Vittor, de 45 anos

Eu fiz a inscrição em 2009. Fui sorteada para o Residencial São Cristóvão e está demorando. Somos quatro pessoas. Eu, minhas duas filhas e minha mãe, que é cadeirante. Pago aluguel a minha vida inteira. Quando entrar para dentro da minha casa eu quero usar o dinheiro para pagar meu tratamento de saúde, que infelizmente o SUS não cobre.

Evelyn Cristina Costa e Silva, de 28 anos

Paguei aluguel por quatro anos, mas agora moro de favor pois estou desempregada e tenho três filhos. Estou aguardando desde o sorteio de dezembro do ano passado.

Passo por muitas dificuldades, pois a pessoa quer vender a casa que moro, mas não posso sair enquanto não tiver um lugar para mim e meus filhos. Moro só eu e meus três filhos.

Elisalma Francisca Teodoro, de 51 anos

Pago R$ 600 de aluguel. Meu filho, minha nora e mais uma neta moram comigo. Eles estão desempregados. Ganho R$ 811 por mês. A dona da casa ainda está tendo um pouco de paciência com gente porque falamos que iríamos mudar agora em outubro. Mas não pudemos desocupar a casa e estamos muito preocupados porque esperávamos mudar esse mês para o apartamento. Minha inscrição foi feita em 2009.

Juliane, de 29 anos

Tenho dois filhos. Estou aguardando a entrega desde dezembro. Paguei aluguel durante muito tempo, mas no momento moro de favor pois não tenho condições de pagar um aluguel de R$ 600.

Rosalina Barbosa dos Santos, de 33 anos

Eu também estou muito necessitada. O meu filho de 11 anos sofreu um AVC e agora meu esposo está desempregado. Preciso muito que essa casa saia o mais rápido possível. Se isso ajudar, eu vou ficar grata a todos que puderem colaborar porque agora nós precisamos mais que nunca dessa casa. A gente está sem dinheiro para pagar o aluguel e precisamos da nossa casa porque meu filho deu isquemia e o lado direito dele ficou paralisado.

Raquel Luísa Ferreira, de 41 anos

Estou esperando minha casa desde 2009 e agora que Deus me deu a honra está aí essa enrolação. Tenho problemas com marido obeso, que não consegue trabalhar e tenho um filho com deficiência. Moro de aluguel e já vai fazer dois meses que não consigo pagar, nessa esperança desse apartamento.

Com a palavra, a Prefeitura de Anápolis

O Residencial São Cristóvão está concluído e ainda não foi entregue às famílias sorteadas em respeito à uma orientação do Governo Federal, via Ministério das Cidades, que entende não ser adequado fazê-lo em período eleitoral. Considerando que o prefeito João Gomes está disputando um cargo eletivo, optou-se por adiar a data de entrega dos imóveis para depois das eleições. Está programada realização de solenidade para assinatura dos contratos ainda na primeira quinzena de novembro e, em dezembro, as famílias poderão se mudar para seu novos lares.

O Residencial Polocentro também será entregue às famílias beneficiárias em dezembro deste ano. A construção da rede de esgoto, fato que impediu a entrega do Residencial na data prevista, está quase finalizada, graças a um acordo feito entre a Saneago e a construtora.

As obras do Residencial Colorado estão paradas porque a construtora contratada não dispõe de recursos para dar continuidade ao trabalho, mas graças a uma negociação entre a Caixa Econômica e o Governo Federal será feita antecipação de recursos para resolver esse problema. A empresa está aguardando o repasse do Governo Federal para retomar as obras e, após essa retomada, a previsão é de que sejam finalizada em, no máximo, dez meses. Considerando esta situação, a entrega do Residencial será somente no próximo ano, mas as famílias já foram sorteadas e podem ficar tranquilas que seus direitos estão assegurados.

Com a palavra, a Caixa Econômica Federal

A Caixa Econômica Federal esclarece que a data de entrega dos empreendimentos do Programa Minha Casa Minha Vida é definida somente após conclusão das obras, legalização do empreendimento e aceite das concessionárias, de forma a garantir a habitabilidade. O empreendimento São Cristóvão está com percentual de 100% de obra, porém falta o Termo de Recebimento emitido pela concessionária SANEAGO.

Em relação às obras do Colorado I e II, está em análise proposta do construtor para retomada das obras e conclusão dos empreendimentos.

O Residencial Polocentro encontra-se com 98% das obras de habitação e infraestrutura concluídas, estando pendente a ligação da rede de esgoto ao empreendimento.

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