A mudança que precisa ocorrer para o MBL virar partido, segundo Kim Kataguiri
Em entrevista ao Portal 6, o deputado federal recém eleito também diz que a esquerda não será o maior obstáculo para Bolsonaro aprovar a Reforma da Previdência
Rosto mais conhecido do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, com apenas 22 anos, conseguiu ser eleito recentemente o quarto deputado federal mais bem votado de São Paulo.
Deixou para trás até mesmo campeões de pleitos anteriores, como o palhaço e humorista Tiririca.
Tanto prestígio político foi angariado pelo protagonismo que o MBL teve no impeachment de Dilma Rousseff com multitudinárias manifestações de rua.
Foi por causa do impedimento da petista, inclusive, que Kim passou por Anápolis pela primeira vez, em 2015, em uma marcha que terminou em Brasília para entregar ao então presidente da Câmara Eduardo Cunha mais um pedido de afastamento da ex-mandatária.
Agora, de volta à cidade, ele deu uma palestra pra a Juventude do Democratas, partido ao qual se filiou para disputar as eleições de 2018.
O evento ocorreu no Park Imperial Hotel, em um auditório que ficou pequeno para as quase 400 pessoas interessadas no que Kim tinha a dizer.
Antes de pegar o microfone, o deputado eleito conversou com a reportagem do Portal 6 em uma sala onde atendeu a imprensa local.
O poder e a popularidade, pelo menos por enquanto, não parecem terem
lhe subido à cabeça. Mesmo nitidamente cansado, Kim foi pura simpatia.
Além do impeachment e dos desafios do Governo Bolsonaro, Kim falou sobre como o MBL pode se tornar um partido político. Missão nada fácil e que só valeria a pena, na visão dele, caso o atual sistema eleitoral fosse alterado.
O MBL fez uma bancada mesmo não sendo partido político, mas a ideia é mesmo se tornar um?
Só faz sentido o MBL se tornar um partido político se a gente conseguir mudar o sistema eleitoral, que hoje é proporcional de lista aberta, para um sistema distrital misto ou distrital puro. A eleição passa a ser majoritária e faz com que haja debates dentro dos municípios e estados para o Legislativo, coisa que não existe até hoje e aí sim faria sentido o MBL se transformar em partido. Enquanto não houver essa mudança no sistema eleitoral faz mais sentido a gente permanecer como uma estrutura suprapartidária.
Qual será a agenda do MBL no Congresso?
Economia e segurança pública. Acho que a principal pauta a ser debatida no ano que vem vai ter bastante ligação, necessariamente, com o governo que será a reforma previdenciária, que é um dos nossos focos. A gente tem se reunido e levado parlamentares para conversar com economistas lá em São Paulo para eles entenderem a necessidade de se fazer uma reforma e quais modelos de reforma existem hoje. Já preparando a legislatura para esse debate. O governo, de certa maneira, vai ter que dar uma atenção especial tanto para economia quanto para a segurança pública que foram dois dos principais anseios nessas eleições e o mesmo discurso de campanha do presidente eleito.
A reforma da previdência sai mesmo com o histórico corporativista do Bolsonaro no Congresso?
Ele entendeu a necessidade de se fazer uma reforma previdenciária. Vejo essa convicção principalmente na área técnica da economia, liderada pelo Paulo Guedes, que quer uma reforma muito mais profunda que a imaginada pelo presidente [eleito] da República. É bom ter um ministro que pense assim porque naturalmente vai ter um filtro do Congresso Nacional, que vai tirar parte dessa reforma e a gente aprovar o que é politicamente possível. O sucesso do governo está na aprovação dessa reforma, mas o grande desafio está na articulação do próprio governo junto ao Congresso Nacional.
Precisa ser feita ainda no primeiro semestre de 2019?
Precisa começar a ser debatida ainda no primeiro semestre. Regimentalmente é impossível ser aprovada já no primeiro semestre porque a ideia [defendida pelo novo governo] é começar uma do zero. Mas só de se sinalizar para o mercado uma aprovação na Câmara já neste primeiro semestre já será um indicativo de que será aprovada e de que o governo está tomando um rumo bem sucedido e tem vontade de aprovar a reforma.
Qual estratégia deveria ser tomada para enfrentar a bancada petista e de esquerda que é contra a reforma?
O PDT tenta formar um blocão para isolar o PT e lançar o Ciro Gomes à Presidência em 2022. Mas do que se preocupar com essas bancadas o governo e o Congresso terão de enfrentar as corporações e funcionários públicos. Esse é o maior problema a ser trabalhado pelo Jair Bolsonaro e pelo ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni. A melhor estratégia é expor que no sistema previdenciário só 3% dos recursos vão para os mais pobres e mostrar que a seguridade social é um sistema de transferência de renda do mais pobre para o mais rico.
O MBL teria coragem de propor o fim da estabilidade no setor público?
É uma agenda que já está em trâmite no Senado e que não necessariamente trata do fim da estabilidade, mas coloca critérios mais objetivos para demissão. Sendo aprovado no Senado a gente dá encaminhamento na Câmara, mas se não for aprovada no Senado a gente toma a iniciativa.
A última vez que você passou por Anápolis foi durante aquela caminhada pelo impeachment da Dilma. Foi essa a iniciativa que deu impulso para o impedimento andar ou as manifestações de rua foram mais eficazes?
Foi uma conjunção de fatores. A marcha aconteceu num momento em que as manifestações tinham esfriado e a gente sabia que se fosse convocasse outra poderia ser um tiro no pé. A ideia [com a marcha] foi fazer algo diferente para ter um impacto midiático e político muito grande para pressionar os parlamentares a adotar a posição do impeachment, que até o PSDB à época era favorável mesmo sendo o principal partido de oposição. De qualquer forma, foi um ponto de inflexão para o impeachment e começar a ter na Câmara discursos abertamente favoráveis e a defesa de líderes da oposição.
Então o impeachment não teria ocorrido sem o MBL?
Dificilmente. Falar que não teria é um exercício de futurologia, mas o MBL teve um papel fundamental sim.