Como o Aeroporto de Anápolis entrou em decadência após realizar voos até para os EUA

No auge, ele chegou a oferecer 40 voos diários por causa da localização estratégica

Caio Henrique Caio Henrique -
Galpão e pista do Aeroporto de Anápolis. (Foto: Francisco Garcez/ Acervo do Instituto Jan Magalinski)

Atualmente, muitos nem se lembram da existência do antigo Aeroporto de Anápolis que, inclusive, batiza o setor onde ele está localizado, o Industrial Aeroporto, na região Leste da cidade.

Porém, o local é marca registrada nos livros de história e não só num recorte municipal. Na verdade, é para além disso.

Foi lá que o ex-presidente Juscelino Kubitschek assinou a ordem para a construção de Brasília. Um sonho dado como devaneio para muitos, mas que se tornou a capital federal.

A vasta pista – que é maior até mesmo que a do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro – abrigou voos comerciais para os principais pontos do Brasil e funcionou até como escala, em um popular trajeto para Miami, nos Estados Unidos.

De forma quase inacreditável para os dias atuais, era possível comprar um ticket num pequeno espaço localizado na Rua Manoel D´Abadia, região Central, para pousar a milhares de quilômetros de distância – em solo estadunidense.

Aeroporto de Anápolis em momento de intensa movimentação. (Foto: Anápolis na Rede)

Estas, e diversas outras curiosidades, foram obtidas pelo Portal 6 durante conversas com alguns dos maiores estudiosos e pesquisadores locais.

Claudiomir Justino Gonçalves, autor de “Anápolis no Fluir dos Anos”, destacou que o aeroporto teve uma fase de movimentação intensa, com registro de até 40 voos diários, muito por conta da localização estratégica.

A construção começou em 1935 e se tornou icônica por ser o único espaço que cumpria esta função na região.

Durante a década de 1950, diversas empresas atuavam no local, que chegou a embarcar quase 12 mil passageiros e mais de 205 mil quilogramas de carga.

A decadência, segundo Claudiomir, teve início após a inauguração do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, que foi muito além da simples concorrência.

“A pista em Anápolis não era pavimentada e isso gerava diversos problemas: poeira, lama, aviões atolando e até mesmo a presença de animais”, pontuou.

Ele explica que também faltava estrutura, como torre de controle, tornando suscetível a todos os tipos de acidentes.

A junção destes fatores afastou as empresas daqui. Então presidente, Juscelino Kubitschek chegou a autorizar as obras de pavimentação no local, ainda em 1957, mas elas só foram entregues em 1964 – e apenas na região da própria pista, sem a inclusão do pátio e cabeceiras.

Nesse meio tempo, as companhias já haviam sido transferidas para a capital estadual, que fornecia uma estrutura muito mais desenvolvida e moderna.

Aeronave na pista do Aeroporto de Anápolis. (Foto: Anápolis na Rede)

Outro especialista consultado pelo Portal 6 foi Jairo Alves Leite, historiador e coordenador do Museu Histórico e da Estação Ferroviária de Anápolis. Ele também é presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural e fundador do Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural Professor Jan Magalinski.

Jairo relembra que, apesar do sucesso do aeroporto anapolino, a cidade já dava os primeiros passos na área bem antes da construção sequer ter começado. Um episódio curioso, trazido à tona por ele, foi o primeiro contato dos anapolinos com uma aeronave.

“A história do município com a aviação começa em dezembro de 1931, com a chegada do Correio Aéreo Nacional (CAN), que havia sido recém-criado, apenas seis meses antes de aparecer por aqui.”

“Anápolis, que nunca tinha visto um avião na vida, se deparou com um pousando em uma região de pasto, que gerou uma baita correria. Relatos da época contam que a garotada chegou a abandonar a escola correndo, só para ter a chance de presenciar”, detalhou Jairo.

Aeronave do aeroporto com a famosa Casa JK ao fundo. (Foto: Anápolis na Rede)

Outra participação importante do município foi durante a Segunda Guerra Mundial – que ocorreu entre 1939 e 1945.

De início, os países americanos resistiram e evitaram a participação no evento, que teve a maior parte da trama desenvolvida na Europa.

Porém, por volta de 1942, o Brasil começou a mostrar presença nos cenários de confronto. E foi bem aí que a tal rota internacional da cidade de Anápolis entrou em cena mais uma vez.

Como explicado por Jairo, as aeronaves passavam por aqui em uma constante dinâmica de suporte de materiais bélicos.

O município goiano de Cristalina, por exemplo, proporcionou materiais para diversas viagens de apoio aos Estados Unidos, por conta dos cristais de altíssima qualidade que, inclusive, deram origem ao nome da cidade.

Hoje, o aeroporto que existe na cidade não se caracteriza por uma atuação tão relevante, ficando restrito ao transporte de cargas específicas.

O relacionamento anapolino com a aviação, por outro lado, ganhou outra vocação, com a construção da Base Aérea de Anápolis, em 1970.

Em 2010, começou a ser construído na cidade o Aeroporto de Cargas. A expectativa era de que, ao ser concluído, ele fosse um dos principais do país.

No entanto, por questões técnicas e de licenciamento, a obra se arrasta há mais de 10 anos.

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