Aglomeração estimada da nova cracolândia em SP supera a da antiga
Antes da mudança, a soma era de 500, aproximadamente, segundo o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional do Centro
A nova cracolândia, localizada desde o último dia 18 na praça Princesa Isabel, na região central de São Paulo, já tem um número estimado de usuários de drogas maior do que a antiga, no entorno da praça Júlio Prestes.
Segundo integrantes de reunião do programa Redenção ouvidos pela reportagem, foram contabilizadas pela administração municipal, nesta segunda-feira (28), por volta de 530 pessoas no chamado fluxo, aglomeração de dependentes químicos em cena de uso de drogas.
O número foi apresentado pela prefeitura em encontro virtual que ocorreu no mesmo dia, quando o assunto foi discutido por policiais civis e militares e representantes dos governos estadual e municipal.
Antes da mudança, a soma era de 500, aproximadamente, segundo o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional do Centro.
O aumento diário de usuários na praça é relatado pelos assistentes sociais que atuam na cracolândia. Eles usam como parâmetro a maior presença de barracas no centro da praça, estratégia usada para se proteger da vigilância, já que há maior concentração de copa de árvores que impedem o registro de imagens aéreas feitas por drones.
Procurada, a Prefeitura de São Paulo não comentou a estimativa de 530 pessoas na cracolândia apresentada na reunião e forneceu os dados referentes à contagem de pessoas na praça Princesa Isabel durante o turno da manhã.
A administração municipal disse que na segunda-feira havia 120 barracas e 111 pessoas e que na última sexta-feira (25) assistentes sociais contabilizaram 256 barracas e 310 pessoas.
No período da manhã há menor concentração de usuários na cracolândia porque é quando a maioria dos usuários sai em busca de comida, material reciclável para vender ou vai aos centros de convivência de moradores de rua.
A prefeitura também disse que foram feitas 4.400 abordagens na praça Princesa Isabel de 19 a 25 de março, o que representa 628, em média, por dia.
Apesar de não ser uma medida de contagem de pessoas, e sim de atendimentos feitos pelos assistentes sociais, o número de 628 abordagens por dia é bem maior do que o dado fornecido pela administração em relação à presença de pessoas na praça apenas no período da manhã.
As abordagens resultaram, segundo a prefeitura, em 20 pessoas que aceitaram a oferta de abrigo e foram encaminhadas para o CTA (Centro de Acolhimento Temporário) Arsenal da Esperança e para o CTA 11, ambos na Mooca, na zona leste.
Na reunião do programa Redenção desta segunda-feira, os agentes públicos demonstraram preocupação com o fato de a nova cracolândia estar em meio a duas avenidas movimentadas, Duque de Caxias e Rio Branco, diferente da situação anterior, em que os usuários se concentravam em duas ruas com pouca circulação.
O novo cenário exige, por exemplo, maior número de guardas-civis para conter os usuários e mais servidores municipais para fazer a limpeza.
Além disso, exige a criação de outras rotinas de limpeza, que já estavam consolidadas anteriormente.
Durante as ações de limpeza, costumava haver conflitos entre usuários e guardas-civis que auxiliavam os agentes municipais no processo de mover o fluxo para permitir a passagem do caminhão com jatos d’água.
A concentração de usuários de drogas mudou de endereço após ordem do crime organizado para que a multidão saísse das ruas que antes formavam a cracolândia, de acordo com a polícia.
Antes, a praça Princesa Isabel era ocupada, em maior parte, por moradores de rua que perderam a renda durante a pandemia de Covid-19.
Segundo assistentes sociais ouvidos pela reportagem, os sem-teto têm deixado a praça após a chegada do fluxo com medo do aumento da violência.
A mudança do fluxo do ponto que concentrava havia pelo menos 30 anos pegou muita gente de surpresa. Uma comerciante da alameda Dino Bueno conta que chegou para trabalhar no sábado (19) e simplesmente não viu mais os usuários de drogas.
Uma das motivações da mudança apontada pelos usuários e representantes de movimentos sociais que atuam na região é o fato de a praça Princesa Isabel oferecer mais rotas de fuga durante as operações policiais.
Frequentadores relatam que eram cada vez mais frequentes as abordagens policiais que os encurralavam na rua Helvétia e na alameda Cleveland, antigos endereços da cracolândia.
Duas vezes por dia, agentes especiais da GCM (Guarda Civil Metropolitana) obrigavam o fluxo a se deslocar para permitir a limpeza das ruas pelos funcionários da prefeitura. Muitas vezes a movimentação terminava em conflito.