Prefeitura de Goiânia pensa mais em carros do que no ciclista e pedestre, aponta urbanista

Paulo Renato Alves lembra ainda o descaso da falta de padronização das calçadas na capital. Seplanh diz que exigência já existe e Seinfra promete melhorias

Emilly Viana Emilly Viana -
Complexo Viário da Jamel Cecílio é uma dos viadutos entregues neste semestre pela Prefeitura para melhorar o trânsito de Goiânia. (Foto: Divulgação / Prefeitura de Goiânia)

As duas grandes obras viárias inauguradas em maio, em Goiânia, acenderam o debate sobre as prioridades do Paço para a mobilidade urbana.

O popular ‘Viaduto da Enel’, na região Leste, e o Complexo Viário Jamel Cecílio foram liberados para tráfego e prometem destravar o trânsito em pontos estratégicos.

O investimento em infraestrutura para os veículos automotores, todavia, deveria ser acompanhado de intervenções prioritárias para pedestres e ciclistas, segundo o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves.

“Os viadutos podem aumentar a fluidez do trânsito de veículos automotores, mas não trazem segurança para quem usa outros tipos de transportes. Sem falar que, quanto mais espaços você dá para os carros, mais espaço você tira dos outros meios”, lembra.

Ele atuou como consultor junto à Câmara Municipal durante a tramitação do recém-aprovado Plano Diretor de Goiânia e relata preocupação com inaugurações açodadas e que colocam o pedestre em risco.

“Ficou muito perigoso atravessar nesse trecho, pois os carros estão circulando com mais velocidade o que, automaticamente, espanta o pedestre e o ciclista”, pondera.

O urbanista cita, por exemplo, que há falta de padronização em calçadas da capital. Nesse sentido, argumenta, o Paço escancara a prioridade aos carros, enquanto pedestres e ciclistas são preteridos.

“A administração investe milhões para construir viadutos, para fazer corredores exclusivos, cortar a cidade inteira e fazer o BRT, mas não tem recurso para arrumar as calçadas, o que fica a cargo do dono do terreno”, critica.

O arquiteto aponta que não há fiscalização por parte da gestão municipal. “Cada um faz de um jeito, não há um padrão”, lamenta.

Responsabilidade conjunta

O gerente de Educação para o Trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Horácio Ferreira, diz que tão importante como as estruturas é a responsabilidade de cada usuário na via pública.

“É indispensável a colaboração do cidadão junto com o poder público. Nenhuma intervenção é tão importante quanto a nossa educação, consciência e desejo de fazer o certo”, diz.

Ele destaca que, mesmo em locais com espaço e sinalização adequados, ainda há o registro de muitas ocorrências, especialmente relacionadas ao uso do celular.

“O pedestre também tem seus deveres. Apesar de ser o mais vulnerável, sua contribuição é fundamental”, afirma.

Ferreira orienta, ainda, que a educação no trânsito deve vir aliada à fiscalização.

“Muitos enxergam as autuações como um viés ou um caminho de arrecadação, mas não é isso. Pesquisas em vários países mostram que a redução de acidentes ocorre com a junção dessas duas vertentes”, argumenta.

Prefeitura nega negligência

Questionada pelo Portal 6 sobre as considerações do urbanista, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) garantiu que todas as obras foram pensadas para oferecer “total acessibilidade”, inclusive para quem caminha a pé.

As novas estruturas, diz a pasta, “contam com calçadas para pedestres, se não no viaduto em si, mas na área do complexo, como é o caso do Complexo Luiz José Costa, onde os pedestres podem transitar pelo nível intermediário da estrutura, na altura da Alameda Leopoldo de Bulhões”.

As ciclovias também não sumiram do radar, conforme a secretaria. Hoje, Goiânia tem 90 km de vias exclusivas para as bicicletas. Até o fim do próximo ano, a meta é elevar esse número em 40%.

A Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh) afirmou que, desde 2015, exige que proprietários de imóveis façam adequação das calçadas.

Atualmente, há mais de 728 mil imóveis em Goiânia. Destes, todos os que requereram junto ao município alvarás de Localização e Funcionamento ou Certidão de Conclusão de Obras (Habite-se), a partir de 2016, tiveram que promover a adequação dos passeios públicos.

O número supera a casa das 100 mil calçadas já adequadas na capital, de acordo com a Seplanh.

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