Disputa por sucessão de Boris Johnson começa com 8 candidatos e endosso a favoritos
Comitê 1922 divulgou a lista final de oito postulantes, que devem passar pela primeira votação nesta quarta (13)
MICHELE OLIVEIRA
MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – A corrida pelo lugar de Boris Johnson como líder do Partido Conservador e primeiro-ministro do Reino Unido começou para valer nesta terça (12), com a definição dos oito candidatos que vão disputar os votos dos 358 parlamentares. Da lista inicial de 11 nomes, 1 desistiu e 2 não conseguiram superar a regra do mínimo de 20 indicações entre os correligionários.
Boris deve ficar no cargo até o final do pleito. O Comitê 1922, responsável pela disputa, divulgou no fim da tarde a lista final de oito postulantes, que devem passar pela primeira votação nesta quarta (13).
Com a saída de Grant Shapps, Sajid Javid e Rehman Chishti, permanecem no páreo Rishi Sunak, ex-secretário de Finanças; Liz Truss, secretária de Relações Exteriores; Penny Mordaunt, com cargo no departamento de Comércio Exterior; Suella Braverman, procuradora-geral do Reino Unido; Nadhim Zahawi, ex-secretário de Educação; Jeremy Hunt, ex-secretário de Relações Exteriores; Tom Tugendhat, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento; e a parlamentar Kemi Badenoch.
Sunak e Truss, figuras proeminentes da gestão Boris, são considerados os mais fortes entre os parlamentares, enquanto Mordaunt fica à frente nas sondagens entre os filiados do partido. O nome da pessoa que vai liderar a legenda e o Reino Unido deve ser anunciado no dia 5 de setembro.
Um dos detonadores do estopim que levou à renúncia de Boris na semana passada, o ex-titular das Finanças lançou sua campanha apoiado pelo vice-premiê Dominic Raab e por Shapps, titular dos Transportes.
Em seu discurso, Sunak enalteceu Boris e repetiu que um eventual corte de impostos só ocorrerá quando a inflação, em 9,1%, estiver controlada. A proposta vai na contramão de outros concorrentes, que defendem o corte imediato das taxas como resposta ao aumento do custo de vida. “Precisamos ter uma conversa adulta sobre a questão central desta eleição, a que todos os candidatos devem responder: ‘você tem um plano confiável para proteger nossa economia e fazê-la crescer?'”, disse.
Ao jornal The Telegraph, completou: “Vamos cortar impostos de forma responsável. Minha visão é a do senso comum ‘thatcherista’, acredito que é isso que ela [a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher] faria”.
Daniel Gover, professor de política britânica da Queen Mary University of London, explica que a economia está no centro dos debates por uma combinação de dois fatores: a crise no custo de vida, vista em outras potências como França e Estados Unidos; e o aumento da tributação, que atinge recordes históricos no Reino Unido devido à pandemia.
Uma das que defendem o corte de impostos é Truss. Sem realizar um ato oficial de candidatura, ela viu seu nome ser endossado pelos secretários Jacob Rees-Mogg (Brexit) e Nadine Dorries (Cultura), próximos a Boris e pertencentes à ala mais rígida dos pró-saída da União Europeia.
De papel de destaque no envolvimento diplomático britânico na Guerra da Ucrânia, Truss é a principal face por trás do projeto de lei em tramitação que permite ao Reino Unido desobedecer trechos do Protocolo da Irlanda do Norte, o que elevou o risco de uma guerra comercial com a UE. “É a melhor candidata, uma verdadeira eurocética”, disse Rees-Mogg.
Segundo Gover, muitos conservadores calculam que a secretária seja a candidata com maior chance de derrotar Sunak, que enfrenta resistências por suas posições econômicas e por ter disparado o estopim da renúncia de Boris. “Mas, pelo formato da disputa, muitos votam em um nome para barrar outro”, diz.
A partir desta quarta, os candidatos concorrem pelo voto dos parlamentares conservadores. Avançam para a disputa de quinta-feira os que tiverem ao menos 30 votos. Na sequência, novas votações são realizadas e eliminam os menos votados até restarem dois nomes. A expectativa é que esse processo seja finalizado até o dia 21, antes do recesso. A campanha, então, continua entre os 200 mil filiados à legenda, que escolhem o vencedor.
A pessoa que chegar ao cargo terá como tarefa neutralizar o legado de Boris -cuja reprovação atingiu 69% em junho-, enquanto lidera a mesma maioria parlamentar. Será, nas palavras de Gover, uma “continuidade, mas de maneiras distintas”. O quase certo é que se opte por um perfil menos estridente.
“Muitos conservadores querem se distanciar disso; vão preferir alguém que esteja menos no centro das atenções e que lidere uma equipe.”
Ainda no cargo, Boris foi alvo, nesta terça, de uma tentativa da oposição de removê-lo do posto -o que poderia resultar na convocação de novas eleições, interrompendo o processo interno dos conservadores. O líder trabalhista, Keir Starmer, levou ao Parlamento um pedido de voto de desconfiança, mas o governo conseguiu barrar a iniciativa alegando uma incorreção no texto do pedido.