Setor de beleza de Goiânia abraça o sistema híbrido de vendas após a pandemia

Redes sociais se impõe como aliada a um caminho sem volta para o tradicional comércio de rua da capital

Karina Ribeiro Karina Ribeiro -
Imagem mostra Isabela Bastos, gerente da Shopping dos Cosméticos, com celular na mão e loja ao fundo. (Foto: Elvis Diovany)

O comércio de rua e o mundo por trás da tela nunca estiveram tão interligados. Forçados pela pandemia, muitos estabelecimentos tradicionais – daqueles cujos clientes são cumprimentados pelo nome – tiveram que se render às redes sociais para manter ou reerguer os negócios.

Mesmo setores onde estímulos sensoriais são colocados à prova por conta da busca pela textura e cheiro na hora da tomada de decisão da compra, estão cada vez mais reféns desse movimento. Para especialistas é um caminho praticamente sem volta.

E com essa tonificação, itens de cosméticos e higiene pessoal tiveram aumento nas vendas no acumulado do ano de 7,4% – conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Goiânia, até outubro deste ano, são 3.041 estabelecimentos varejistas registrados neste ramo – segundo levantamento da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg).

O gerente de uma loja do Shopping Beleza Cosmética, Thiago Alves, explica que o setor passou por momentos difíceis. Endossada pela necessidade do isolamento, distanciamento social e do uso da máscara, é como se a vaidade tivesse sido deixada em outro plano.

Entretanto, após quase oito meses da flexibilização do uso obrigatório da máscara e a retomada de grandes eventos em Goiânia, o profissional explica que o setor respira um pouco mais aliviado, mas que os padrões de compra não voltaram como antes.

“Aquele cliente de porta, de rua, diminuiu. Já utilizávamos bem a ferramenta do WhatsApp, mas tivemos que abrir todos os outros canais online”, diz. Para ele, boa parte do consumidor migrou a compra para internet.

Já a gerente da Surya Cosméticos, do setor Campinas, Juliana Silva, é mais enfática. Situada numa região em que as pessoas ‘batem perna’, o comércio foi pego totalmente desprevenido.

“Aqui nosso cliente é de rua, aquele que sai e aproveita para fazer compras de tecido, roupas e outras coisas em lugares próximos”, diz.

Ela explica que a queda nas vendas foi de 50% e que o estabelecimento ainda se organiza para aliar as vendas presenciais com o e-commerce. “Contratamos empresas para trabalhar com o online, mas ainda estamos implementando”, conta.

Para o professor e pesquisador de marketing da Universidade Federal de Goiás (UFG), Marcos Severo, as mudanças de comportamento do consumidor ocorrem a partir da repetição.

“Todo mundo achou que o mundo ia voltar à normalidade após a pandemia, mas ela foi muito longa. Dessa forma, as pessoas mudaram o padrão de consumo basicamente em relação a tudo”, informa.

A coordenadora de marketing da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Goiânia, Cleire Araújo, compartilha da opinião. Ambos reforçam a dica: os comerciantes precisam ofertar experiências positivas memoráveis para o cliente.

Cleire lembra ainda que não há necessidade  de imprimir tanto investimento para iniciar as vendas online.

“O importante é começar. Para que as pessoas do próprio bairro conheçam os produtos. Não pode perder tempo, faça algo orgânico”, explica ao falar sobre economia de bairro.

Cleire é enfática ao dizer que as vendas online não devem ser vistas como antídoto, mas como aliada. “Estamos caminhando para o sistema híbrido”, diz.

Imagem mostra uma séria de lápis para olho. (Foto: Elvis Diovany/Portal 6)

Para alguns empreendedores o amanhã já é agora. Com 13 lojas espalhadas por Goiânia, a Shopping dos Cosméticos tinha praticamente recém-lançado o site da empresa quando as normas para combate à Covid-19  bateram à porta.

“Nosso e-commerce deu um boom, o que esperávamos atingir por meses foi em pouco tempo. Saímos de um dígito para três em pouquíssimo tempo”, relembra Isabela Bastos Veiga.

O gatilho para que todos os esforços fossem concentrados nisso. O que estava planejado para um ano e meio de execução foi feito de forma acelerada.

“Melhoramos as operações, integrações, modelos de pagamento, sistema antifraude, contratamos uma agência”, ressalta Isabela.

E quando diz todos os esforços é de forma literal. “Eu sai para entregar mercadoria”, recorda.

Atualmente, ela diz que as operações da empresa estão mais equilibradas – ao considerar as compras presenciais e online. Mas com uma mudança significativa, as redes sociais são responsáveis pelo primeiro contato com o cliente. “Oito de cada dez pessoas nas nossas redes perguntam se tem o produto na loja. Outra forma de integração é que nossos preços entre um formato e outro são os mesmos”, diz.

Mercado de trabalho

Social mídia há quatro anos, Kamylla Oliveira assistiu de perto essa guinada do consumidor, dos proprietários de lojas e, obviamente, no próprio ramo.

Ela explica que já  trabalhava em uma agência e atendia empresas preocupadas com reforço da marca e a presença no mundo digital.

“Quando chegou a pandemia, fui procurada por microempreendedores, pequenos empresários, donos de lojas de bairro. As pessoas entraram em pânico, porque não sabiam como fazer a transição”, afirma.

Nesse momento, chegou a atender 20 clientes. Como exemplo, cita estabelecimentos de diversos setores situados em Campinas, Novo Mundo, Riviera  “Isso era esperado para acontecer em 15 anos”, diz.

Nessa toada, o mercado de trabalho dos sociais mídias ficou empolvorosa e faltou mão de obra qualificada – que, aos poucos, foi se acomodando.

“Gerenciar uma rede não é só fazer um banner, postar. Vai muito além disso, é planejamento, desenvolvimento”, diz.

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