Entrega de cocaína por aplicativo cresce na Grande Goiânia e revela novas táticas do tráfico

Motoboys são entregadores regularizados que veem no tráfico um atrativo para renda extra

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
(Foto: Reprodução/Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Atualmente, são diversos os itens que se pode comprar online para ser entregue em casa, como refeições, medicamentos, roupas, eletrodomésticos e até drogas. Este último caso, em específico, é um modelo que tem crescido na Grande Goiânia e revela as novas tendências do tráfico.

Há aproximadamente cinco meses, a Polícia Civil (PC) prendeu um usuário e um entregador que, em vez de transportar comida ou outras encomendas usuais, carregava consigo pacotes de cocaína. Por meio dos celulares dos suspeitos, foi possível identificar uma rede de tráfico que funciona como “disque-droga”.

O processo se inicia quando um usuário de droga aciona a central de pedidos que, por sua vez, demanda a encomenda para uma espécie de central de entregadores, como explica ao Portal 6 delegado Hudson Benedetti. “Eram dois números: um era a central de pedidos e o outro era uma central de entregadores”, explica.

No caso específico, a encomenda era passada à central de entregadores, momento em que um motoboy era acionado, encaminhado a um ponto para buscar a cocaína, e, por fim, finalizava a entrega. Ao receber o dinheiro, o motorista ainda levava a quantia ao chefe da associação, ainda não identificado, para então receber.

Vale ressaltar que, para participar das duas pontas do esquema era necessário indicação de terceiros.  A conduta operacional foi criada para que houvesse uma rede de confiança e a operação não fosse descoberta.

Durante a operação, a PC apreendeu 415 porções de cocaína, prontas para serem entregues. Assim, o primeiro motoboy que aderiu à rede entrou ainda em junho de 2022, sendo que 08 foram identificados ao todo.

Contudo, de acordo com o delegado, o modelo de tráfico por delivery iniciou a partir da pandemia da Covid-19. “Percebemos uma mudança na estratégia dos traficantes a varejo. Ao invés de ter uma boca de fumo de fácil identificação, que pode ser denunciada, eles passaram a fazer entregas, o que passa batido entre os policiais”, explicou.

Os motoboys são cooptados por meio dos próprios amigos, que atuam como entregadores de aplicativo e se atraíram pela possibilidade de fazer uma renda extra. “O que chama atenção é que todos eram conhecidos um do outro. Até se adicionaram nas redes sociais, eram amigos”, afirmou o delegado.

Segundo Hudson, cada pessoa poderia receber de R$ 3 a R$ 4 mil ao mês, sendo que chegam a ganhar R$ 13 por entrega de cocaína. A média era de 50 viagens por semana.

Já as entregas eram feitas principalmente em bairros nobres, como o Bueno e Marista. No entanto, o delegado aponta que a rede atuava em toda a região metropolitana.

“Já é uma prática corriqueira em Goiânia. Tem traficante que vende a cartela de clientes, que é o mais valioso. Nesse caso, eram quase 2 mil pessoas cadastradas por meio do WhatsApp”.

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