Filha de brasileiros, refém do Hamas pertence a família vítima de atentado em 2001
"Eu imploro que alguém interceda por ela. A gente não sabe mais a quem recorrer", pediu tia da jovem
MARÍLIA MIRAGAIA, SP – Tchelet Fishbein, 18, filha de brasileiros, está entre as 155 pessoas sequestradas pelo Hamas desde que o grupo terrorista realizou, no sábado retrasado (7), a maior ofensiva sofrida por Israel em 50 anos. De acordo com a família, a informação foi confirmada pelo Exército israelense.
Tchelet vivia no kibutz de Be’eri, ao sul do país, onde trabalhava cuidando de crianças. Ela e o namorado foram vistos pela última vez no local. Segundo informações do jornal The Times of Israel, o kibutz foi invadido pelo Hamas e atingido severamente, com estrutura reduzida a escombros, e os residentes, assassinados ou sequestrados.
“Hoje [domingo, 15] aconteceu um enterro coletivo de cem pessoas que pertenciam ao kibutz. Eram pessoas que viviam juntas há anos. Minha tia de 94 anos era uma fundadora. Como enfrentar isso? Não tem mais kibutz”, afirma Rinat Balazs, que é prima de terceiro grau de Tchelet. A tia a quem se refere, que sobreviveu aos ataques, é a avó de Tchelet.
Rinat estava em Israel com o filho, que participava de um programa de estudos no país, e retornou ao Brasil em um voo da FAB (Força Aérea Brasileira) na sexta (13).
“No começo, pensamos que a Tchelet pudesse estar dentro de um esconderijo. Muitas pessoas ficaram dentro dos bunkers esperando serem resgatadas. Mas então soubemos que ela estava na lista dos sequestrados. No caso dela, não acharam nenhum DNA, dela ou do namorado, no kibutz.”
A mãe de Rinat, Flora Rosenbaum, aparece em um vídeo que circulava pelas redes sociais neste domingo pedindo ajuda para que Tchelet seja localizada. “Toda a família, todos nós somos brasileiros. E eu queria que alguém tomasse conhecimento disso. Ela [Tchelet] cuida de crianças e não está fazendo Exército porque 12 anos atrás já havia sido ferida por um foguete atirado de Gaza”, afirma Flora.
Segundo conta na filmagem, Tchelet ainda tem estilhaços do projétil no corpo. “Ela já tinha esse trauma anterior, já fazia tratamento. Imagina como não está agora… Eu imploro que alguém interceda por ela. A gente não sabe mais a quem recorrer”, finaliza Flora.
Além de ter presenciado os eventos da invasão do Hamas em 7 de outubro, Rinat foi vítima, ao lado de sua mãe, Flora, de um atentado ocorrido em Jerusalém em 2001.
O ataque deixou ao menos 90 feridos e causou a morte de 16 pessoas –entre elas, o pai de Rinat, o brasileiro Jorge Balazs. No episódio, a família estava em frente à pizzaria Sbarro quando o local foi atingido por um homem-bomba.
“Eu tinha parado porque uma amiga pediu para jogar na loteria. E eles [os pais] ficaram esperando na esquina. Depois daquele dia, fiquei anos colocando no papel… [Me perguntando] se eu tivesse ido junto, se eles não teriam parado. Hoje eu entendo que é um trauma, que me sentia culpada por eu não ter me machucado também”, diz Rinat. No episódio, sua mãe e irmã ficaram hospitalizadas.
O Exército de Israel confirmou neste domingo às famílias que 155 pessoas foram sequestradas pelo Hamas na Faixa de Gaza desde o ataque de 7 de outubro.
“Eu sei que, para a família dos reféns, cada segundo é uma eternidade. Faremos de tudo para trazer seus familiares de volta para casa”, afirmou Daniel Hagari, porta-voz militar, em uma conferência de imprensa.
O governo de Israel tem sido alvo de críticas de alguns dos familiares de israelenses desaparecidos, que o acusam de terem abandonado esses cidadãos.
Segundo informação do Times of Israel, o porta-voz desse grupo, Ronen Tzur, reprova a declaração do conselheiro de Segurança Nacional, Tzachi Hanegbi, que diz que não se envolverá em negociações de reféns com o Hamas.
“Estamos aguardando clareza do governo”, disse Tzur no sábado (14).