“Essa gestão naufragou em absolutamente tudo que ela se propôs”, diz Aava Santiago sobre Rogério Cruz

Vereadora é a entrevistada desta semana do '6 perguntas para'

Pedro Hara Pedro Hara -
Aava Santiago é vereadora em Goiânia e a entrevistada dessa semana do ‘6 perguntas para’. (Foto: Foto: Mariana Capeletti/Câmara de Goiânia)

Caminhando para o fim do primeiro mandato na Câmara de Goiânia, Aava Santiago (PSDB) considera que a experiência de legislar na Casa é totalmente diferente daquela que viveu por mais de uma década nos bastidores elaborando políticas públicas para o Executivo.

Socióloga de formação, a vereadora é uma das principais opositoras do prefeito Rogério Cruz (Republicanos) na Câmara. No ‘6 perguntas para’ desta semana, Aava tece diversas críticas ao que ocorre no Paço Municipal ao longo dos três últimos anos.

A dança das cadeiras promovida por Rogério no secretariado e a troca de cargos por apoio são pontos destacados pela peessedebista que fizeram o prefeito ter uma gestão abaixo da crítica.

Aava ainda não sabe qual será o cargo que irá disputar em 2024. Cotada para a Prefeitura de Goiânia, ela diz o que faria de diferente se estivesse a frente do Paço Municipal. Internamente, enfrenta a concorrência dos correligionários Matheus Ribeiro e Valdivino de Oliveira, mas destaca que não existe disputa interna, principalmente com o jornalista.

1. Você caminha para o último ano de mandato na Câmara Municipal de Goiânia. Está valendo a pena?

A minha chegada até a Câmara de Goiânia foi resultado de uma longa caminhada de envolvimento em vários processos políticos que se retroalimentaram, tanto na universidade, onde me tornei uma socióloga e pesquisadora na arena dos direitos e da redução das desigualdades, como no campo do ativismo de várias bandeiras que eu defendo há mais de uma década, especialmente no fortalecimento de mulheres, juventudes e territórios periféricos. Eu também estive no processo de elaboração da política pública no Executivo por quase dez anos. Então, esse caldeirão de coisas e a efervescência delas resultaram no meu mandato.

Em três anos de parlamento eu afirmo categoricamente que eu vivi política de maneira muito mais visceral e produzindo resultados muito mais eficazes do que ao longo de mais de uma década que antecedeu a minha chegada na Câmara.

Eu sou a única mãe de filho pequeno na Câmara de Goiânia hoje e isso fez toda a diferença, porque eu montei um mandato formado por mulheres. Mães trabalhadoras, mães engajadas com causas sociais que vem da universidade, dos movimentos e isso nos garantiu o pioneirismo em uma série de iniciativas. Por exemplo, a gente criou na Câmara o Gabinete Kids, que é um espaço para acolher crianças enquanto suas mães estiverem em alguma atividade na Casa. Lá tem uma brinquedoteca pequena, trocador e tudo. A Câmara não possuía este espaço até a nossa chegada. 

Nós gastamos R$ 300 porque foi uma vaquinha pra montar. Isso logo de cara nos revelou que a maior parte dos gargalos que as mulheres, especialmente as mães trabalhadoras enfrentam, não é por falta de recurso público, mas por falta de vontade política. Entender isso logo na minha chegada também me ajudou a pensar a política a partir não só da entrega do resultado pontualmente, mas de uma mudança de perspectiva e de vontade política. Então, hoje eu entendo que em três anos de Câmara a gente conseguiu deixar algumas mudanças de paradigma dentro desse horizonte do que deve ser priorizado no campo da política pública.

Então, sem dúvida, não só valeu a pena, como a gente conseguiu nesse mandato composto 100% de pessoas trabalhadoras. A gente não tem herdeiros de ninguém no mandato. Somos mulheres, juventudes, de territórios periféricos da cidade construindo não só um mandato parlamentar, mas também um compromisso com uma forma diferente de ocupar os espaços de poder.

2. Como avalia o trabalho do presidente Romário Policarpo? 

Assim que cheguei na Câmara eu fui procurada pelo presidente Romário Policarpo que à época era candidato a sua primeira reeleição e eu me identifiquei muito com a figura dele pessoalmente, por ser um jovem negro, primeiro presidente negro da história da Câmara, vindo do Criméia e que gosta de Racionais, mas eu não o conhecia politicamente. 

Eu me identifiquei com ele por isso e resolvi então abrir esse diálogo com ele porque na época a gente tinha dois grupos disputando a Câmara e o perfil dele tinha muito mais a ver com o perfil do que eu acredito que sejam as pessoas que devam ocupar esses espaços. Mas isso não era suficiente para construir uma aliança política. Então, eu coloquei algumas coisas na mesa de negociação. Eu falei olha eu topo eu vou estar contigo pra te reconduzir à presidência se você me garantir que nós vamos reestruturar a Ouvidoria da Mulher, que na época quando fui eleita era só uma assessoria, um cargo pequeno estrutura, na verdade era um e-mail que as mulheres mandavam se precisassem e não tinha uma equipe envolvida nisso. Então, eu pedi a reestruturação da Ouvidoria da Mulher e da Escola do Legislativo. Ele honrou os dois compromissos comigo e hoje a Ouvidoria da Mulher da Câmara, sob a minha coordenação, nós estamos concorrendo ao prêmio Innovare na categoria Cidadania e Justiça. É uma das únicas iniciativas parlamentares do país que está na semifinal. A Escola do Legislativo da Câmara de Goiânia, também sob minha coordenação. Vale ressaltar que eu coloquei duas técnicas nesses dois espaços. Na Ouvidoria da Mulher a Maria Clara, que é doutoranda em literatura e gênero pela Universidade de Brasília (UNB) e na Escola do Legislativo a Milka, que é uma socióloga negra com especialização em políticas públicas. A gente deu um salto qualitativo na Câmara tão grande que, como eu disse, na ouvidoria a gente tá concorrendo ao prêmio Innovare e, na Escola do Legislativo, nós fomos convidados pela Escola do Legislativo do Senado para ser uma das escolas do Brasil que tem o certificado deles tamanha qualidade do nosso trabalho aqui. Isso é um dos depoimentos que eu posso dar acerca da forma séria, generosa e ao mesmo tempo inovadora do do presidente Romário Policarpo de conduzir os trabalhos na Câmara. Além de toda a sua habilidade política, de toda a sua capacidade de aglutinar, que inclusive fez com que já junto com ele sendo membro da mesa diretora a gente fosse reconduzido para um terceiro mandato dele, segundo mandato nosso dessa composição de mesa, mais do que essa habilidade, porque isso todo mundo fala eu quero falar sobre a qualidade técnica que ele permite que a Câmara tenha. 

Em áreas que às vezes não são do domínio dele, da especialidade dele, ele não se apega a um ego de não permitir que outras pessoas façam. Então, tudo que eu precisei para colocar essas coisas que pra mim são bandeiras fundamentais e que ajudam a qualificar o parlamento, ele nos deu carta branca e a gente está entregando esses resultados. 

Então, votei nele duas vezes. Votaria uma terceira tranquilamente porque volto ao início do meu raciocínio, essa figura que não herdou nada, que não é forasteira que não é um rosto comum ao rosto da política, ele compreendeu que ele não deveria ser a exceção e ele tem usado esse espaço de poder e de privilégio para oportunizar uma democratização do Parlamento e fortalecimento de pautas importantes com as quais o parlamento não tinha se envolvido então.

3. E do prefeito Rogério Cruz?

O prefeito Rogério Cruz recebeu a cidade num momento muito peculiar, no refúgio da tragédia que foi a perda do Maguito, ele se tornou prefeito da décima maior cidade do país, na sucessão de Iris Rezende e diante da comoção pela perda do Maguito.

Então, politicamente para ele a circunstância era muito favorável, porque eles tinham muito boa vontade de todo mundo. Todos os atores políticos que estavam nascendo estavam em estado de choque pela forma como as coisas aconteceram e ao mesmo tempo todo mundo sabia que a cidade estava com um superávit deixado pelo Iris. Eu não conhecia o Rogério, mas eu esperava que ele fizesse um governo razoável pelo menos. Eu não sei exatamente das razões dele para isso, mas ele foi perdendo paulatinamente cada chance, cada oportunidade que ele recebeu, seja do destino, seja da classe política, porque ele foi incapaz de aglutinar em torno de si pessoas capazes de fazer uma gestão com entrega de resultados. 

A maior prova disso é que ou ele operou mais de cem trocas de secretários e secretárias e de auxiliares nesses três anos de governo. Essas trocas ela não diz só respeito a instabilidade política. A instabilidade política é uma crise, mas o resultado dessa crise para as pessoas, porque as pessoas estão tocando a vida delas, elas não estão muito ligando para essa instabilidade política. Isso bate muito mais em quem vive a política, mas o resultado dessa instabilidade é a interrupção dos serviços, é a descontinuidade dos serviços, é a completa impossibilidade de manter uma linha permanente de gestão e é isso que as pessoas sentem. 

O contribuinte goianiense não quer saber se o Rogério trocou de secretário dez vezes. Ele quer saber porque que não está funcionando o serviço e aí uma das respostas é porque ele trocou de secretário tantas vezes, porque ele trocou de grupo e de aliado tantas vezes, então ele começou com o grupo do Maguito, trocou aí veio o famigerado o grupo Brasília, trocou, aí ele começou a negociar a granel para tentar resolver, então entra partido, sai partido e sempre toda movimentação política do prefeito, toda, toda diz respeito a acomodar aliados e solucionar crise grupos que estão famintos de espaço de poder. Você não vê o prefeito realmente dedicado a resolver os problemas da cidade, porque ele está resolvendo essas pendências políticas. 

Esse é um esse é um ponto crucial para entender como que Goiânia chegou a esse estado de caos, de instabilidade e de abandono. 

Outro ponto fundamental é não haver uma meta de gestão, um guarda-chuva, um planejamento macro que seja, em quatro anos eu vou entregar tais resultados. Mesmo que eu não consiga entregar 100% desses resultados, eu entreguei 70%, 60%, mas se tem uma linha mestra pros auxiliares trabalharem dentro dela, para a gestão funcionar independente dos nomes, porque o nome um secretário ou de um de um diretor, ele é menos importante do que a política pública, mas para isso a política pública precisa estar definida, senão o nome acaba sendo tudo e na mudança de nomes frequentes, todo o processo se desestabiliza e a gente não consegue então enxergar qual é a diretriz de gestão e de entrega de resultados. 

Tanto é que no início desse governo o Rogério falava em cidade inteligente como sua principal marca e ele abandonou essa marca porque ele foi atropelado mesmo pela completa ausência de inteligência e quando eu estou falando isso não é trocadilho algum. Essa ideia de cidade inteligente muita gente atribui exclusivamente a tecnologia, mas não é isso. Inteligência é a cidade que funciona. É a cidade que tem planejamento, é a cidade que você pode saber que o recurso vai ser aplicado da melhor forma pro serviço chegar. Então ,dentro desse campo de entendimento de cidade inteligente, ele contratou câmeras que não estão funcionando, contratou carro inteligente para mapear buraco, contratou empresas sem licitação para aprimorar tecnologicamente o serviço e nada disso se converteu em resultados, muito pelo contrário. 

É muito dinheiro, dinheiro público indo para investimentos que não dão em lugar nenhum. O que infelizmente, além de tudo coloca essa gestão em suspeição, em suspeição mesmo. Então, quando você vai pensar numa segunda marca que ele tentou anunciar foi a do Goiânia Adiante, um bilhão de reais em obras porque a prefeitura estava em superávit e não durou três meses. O que era superávit de repente virou contingenciamento porque bateu no teto de gastos e agora não está podendo nem pagar licença premium. Você estava anunciando um pacote bilionário de obras e em três meses isso virou limite prudencial em risco assim o que que aconteceu nesse intervalo tão curto de tempo sabe? Essa ausência da capacidade de deixar marcas somada à incapacidade política de controlar crises e a crise generalizada de prioridades, é que faz com que hoje a prefeitura esteja enfrentando uma série de problemas simultaneamente sem ter no horizonte como resolvê-los.

Tem mais de um mês que os administrativos da educação estão em greve e até hoje não houve uma proposta razoável do Paço, o Imas acumula denúncias de ausência de repasses que já foi descontado da folha dos servidores, o que é gravíssimo.

O aniversário de Goiânia passou com a cidade cheia de lixo, 20 dias de coleta interrompida parcial ou totalmente. Então, essa gestão naufragou em absolutamente tudo que ela se propôs. A única coisa em que essa gestão acerta é em negociar cargos e nem nisso ela acerta, porque cada negociação sai mais cara que a anterior.

4. O que faria de diferente caso fosse a prefeita?

Antes de dizer o que eu faria de diferente é preciso sublinhar o que eu e o Rogério temos de diferente. O quanto nós somos diferentes. Antes de qualquer coisa o que nos difere é a finalidade de nossas trajetórias na vida pública, os ideais, os compromissos mesmo que nos trouxeram até aqui. 

Eu não vim teleguiada por um conglomerado erguido em um tríplice império que é religioso, televisivo e partidário. Eu não cheguei em Goiânia com uma missão com data pra começar e terminar coordenada pelos magnatas multimilionários que comandam um projeto de poder com tentáculos espalhados no Brasil, na América do Sul, no continente africano, com métodos altamente questionáveis e histórico de dezenas de investigações e condenações em território nacional e internacional. 

Não, ao contrário disso, eu sou uma mulher periférica da escola e da universidade pública que fiquei órfã muito cedo e fui criada pela minha mãe trabalhando desde os treze anos para ajudá-la a colocar sustento em nossa casa. O meu ponto de partida na vida pública foi ter experimentado todas as precarizações, negligências e brutalidades do estado brasileiro e de agentes públicos comprometidos com a manutenção do poder na mão de poucos. Eu sempre estive de um lado e ele do outro. A figura dele nesse caso é menos significativa do que o projeto político ao qual ele pertence e serve. 

Dito isso eu acho que a primeira coisa que eu faria de diferente já foi feita antes mesmo de comentar nesse momento em que eu estou vereador por ele prefeito, por isso o meu primeiro compromisso é com a redução das desigualdades qualquer pessoa que sentar na cadeira de prefeito de Goiânia precisa dormir e acordar sendo brutalmente incomodado pelo fato de que estamos em uma das cinco cidades mais desiguais da América Latina, que onde há grande concentração de riqueza e luxo, há bolsões de pobreza vulnerabilidade semelhantes a de países em guerra civil. Quando comparamos o índice de desenvolvimento e de qualidade de vida do Marista com o do Maisa 2, por exemplo, é como se estivéssemos diante de uma Suíça e de um Haiti convivendo a poucos quilômetros de distância. O que não é bom nem pra um e nem pra outro.

Então, a minha primeira e mais importante decisão política e de gestão seria tornar Goiânia uma cidade mais justa, segura e menos desigual. Para isso, é claro, eu me cercaria de pessoas melhores do que eu como eu já faço no meu mandato. Sim porque o gestor não tem obrigação de saber sobre tudo, mas ele tem a obrigação de se cercar dos melhores em cada área. No meu caso das melhores porque o meu mandato é majoritariamente composto por mulheres e todas elas brilhantes. Com isso a gente conseguiria redistribuir os gastos públicos fechando as torneiras dos contratos milionários sem licitação e trazendo parcerias sérias com resultados comprovados. Assim a gente já consegue fazer aquilo que a cidade precisa. Organização, funcionamento, limpeza e tranquilidade. Nada absolutamente nada que um prefeito faz pode ser feito antes de que ele estabeleça uma ordem de prioridade e a minha ordem de prioridades teria como meta a redução das desigualdades e para alcançar essa meta a potencialização do que o serviço público pode fazer e já faz comprovadamente em outros lugares para tornar a vida das mais qualitativa, para tornar a permanência na cidade melhor pra fazer as pessoas mais felizes.

5. Se o PSDB for disputar a Prefeitura de Goiânia em 2024, será para valer ou marcar posição?

O PSDB vai disputar a Prefeitura de Goiânia. Não existe “se”, já é uma decisão política consolidada e vai ser pra valer. Esse é o melhor momento do PSDB disputar com tudo que a gente tem de histórico de entregas pro estado de Goiás, para cidade de Goiânia e colocar essas ideias para o futuro consolidadas a partir da experiência bem-sucedida do passado à disposição dos goianienses. E a gente vem com chances reais de ganhar a eleição porque cada vez mais a gente sente e as pesquisas qualitativas apontam nessa direção de que o goianiense está se cansando dos herdeiros e dos forasteiros.

Então, esse é o momento para um partido como o PSDB que herdeiros políticos e nem de gente que parou aqui só pra disputar a eleição, mas de gente que tem compromisso claro comprovadamente eficaz com as demandas da cidade.

6. Você e o Matheus Ribeiro conversaram recentemente sobre o processo eleitoral que está chegando. O que não estão dispostos a fazer nessa disputa interna?

Não existe disputa interna do PSDB. Isso é muito interessante porque o Mateus fica falando sobre a minha pré-candidatura e eu falando sobre a dele, porque tanto eu como ele a gente se espelha muito no outro e a gente acredita muito um no outro. 

Eu tenho áreas de potencialidade mais desenvolvidas do que ele e ele tem outras áreas mais desenvolvidas do que eu. Isso faz com que a gente esteja mais azeitado entendendo onde um pode auxiliar o outro a aprimorar para que a gente foque daqui em diante no que o partido tem a dizer sobre a cidade mais do que o Matheus ou a Aava. 

Então, as nossas vozes vão se fortalecer de tal modo que eu creio que a gente vai chegar ali no primeiro semestre do ano que vem ecoando de tal modo as nossas ideias que as pessoas não vão mais tanto saber se a Aava ou o Mateus que está falando mas o que o PSDB está dizendo a partir desses dois interlocutores e de todos os outros que virão conosco fazer essa conversa sobre a cidade.

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