“Nossa militância não é em prol apenas de uma eleição”, diz Fabrício Rosa

Suplente de deputado estadual pode assumir cadeira na Alego caso chapas investigadas por fraude na cota de gênero sejam cassadas

Pedro Hara Pedro Hara -
Fabrício Rosa é suplente de deputado estadual e um dos principais nomes da esquerda em Goiás. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

Suplente de deputado estadual, Fabrício Rosa (PT) pode a qualquer momento assumir uma cadeira na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Ele aguarda o desenrolar de processos que estão tramitando no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de chapas que descumpriram a cota de gênero nas eleições de 2022.

No entanto, não parece estar preocupado com a esfera judicial. Ao ‘6 perguntas para‘ desta semana, ele afirma ter deixado a questão nas mãos de advogados e, por enquanto, foca na campanha a vereador em 2024.

Cotado para ser um dos campeões de voto do próximo pleito, ele caminhará lado a lado com Adriana Accorsi (PT). Considera quase impossível a deputada federal não estar ao menos no 2º turno e se diz confiante na vitória da correligionária.

Entretanto, caso as projeções não se confirmem, o petista dá a entender que não teria dificuldade em dialogar com qualquer outro candidato que não seja bolsonarista.

Quando questionado sobre qual perfil deseja para o próximo prefeito de Goiânia, Fabrício afirma que é necessário mais que um bom gestor. Gostaria de alguém que cuide da cidade, dos moradores e pensar a longo prazo, com projetos que impactem a população nos próximos 50 anos.

1. Você quase foi eleito vereador de Goiânia em 2020 e por pouco não conseguiu uma cadeira na Alego em 2022. Ao analisar esses dois processos à distância, o que faltou?

Na eleição de vereador de 2020, eu obtive 4.300 votos pelo PSOL. A questão ali é que o PSOL não fez o quociente eleitoral. Então, eu fui o décimo terceiro mais bem votado entre mais de mil candidatos a vereador em Goiânia. A votação foi excelente, mas o PSOL como equipe não conseguiu obter a quantidade necessária de votos. Já em 2022, a chapa do PT conseguiu eleger três deputados estaduais e faltaram 77 votos para eleger a quarta cadeira. E ainda há a possibilidade de nós assumirmos, tanto se o Gomide for eleito em Anápolis no ano que vem quanto se algumas chapas caírem em 2024. Os processos estão bem avançados, o PP parece ter descumprido a cota de gênero e pode cair três deputados. No PL também pode cair três, no PSDB dois.

2. Goiás é um estado conservador e dificilmente deixará de ser em pouco tempo. Como avançar com a pauta de direitos humanos e de defesa das minorias diante dessa realidade?

Acredito que devemos continuar trabalhando, dialogando com a população e aprimorando nossa abordagem para que as pessoas possam compreender com clareza, agindo com menos rancor, mais generosidade e paciência diante das dificuldades de compreensão das pessoas. Afinal, de contas as grandes transformações demoraram bastante para acontecer, nós vivemos séculos e séculos de monarquias. Com a possibilidade de construção da democracia houve uma expectativa de séculos também para que se construísse a República e democracia para que as pessoas escravizadas pudessem ser libertas.

Então, eu trabalho no horizonte da utopia e acredito que as grandes transformações demoram para acontecer e nós agimos enquanto lutadores de uma transformação local. E essa luta a gente acredita que em determinado momento ela possa se configurar eleitoralmente, mas não só, a nossa militância não é em prol apenas de uma eleição, mas em prol do enfrentamento às opressões estruturais da sociedade no enfrentamento ao modo de produção capitalista, no enfrentamento a LGBTfobia, ao racismo ao machismo. Enfim, o enfrentamento geral às opressões. Nós somos apenas instrumentos para uma transformação maior da sociedade.

3. Antes de chegar à Presidência, em 2003, o PT trabalhou pesadamente na desconstrução de estigmas que o partido tinha frente às massas. Sente a necessidade desse tipo de ação, sobretudo junto aos evangélicos? Há muita coisa em comum que o partido e este segmento defendem. 

Eu acho que as pessoas evangélicas, católicas, religiosas em geral querem um mundo mais igual e acesso às oportunidades. O que nós encontramos nessa quadra da história é que as igrejas atendem com mais proximidade, rapidez, as necessidades das pessoas. Seja uma mãe que tem o filho que foi assassinado e precisa de um velório, precisa de um caixão, seja de uma mãe que está passando fome, precisa de uma cesta básica. Então, nós enquanto sociedade, especialmente o poder público, temos tido muita dificuldade de atender as pessoas em situação de vulnerabilidade. Sim, nós temos que dialogar com os religiosos em geral, mas eu não acho que esse diálogo tem que ser feito de maneira descompromissada com a realidade social de cada um. 

Cada pessoa tem a sua história, não dá para o Fabrício, que não é evangélico, a partir de agora falar: “ah, vamos dialogar com os evangélicos”. Isso me parece muito processo de colonização. Então, isso tem que ser feito de maneira muito cuidadosa por evangélicos e esquerda. Existem muitos pastores evangélicos de esquerda, padres que são de esquerda. Então, nós temos que visibilizar, nós temos que empoderar essas pessoas. Acredito esse processo passa muito mais por esse lugar de visibilizar as lideranças do que por querer ocupar esses lugares sem fazer parte deles. 

Vou dar um exemplo do que estou falando. Eu consigo dialogar com a polícia e a esquerda precisa dialogar com a polícia. Mas não é qualquer um que vai lá dialogar com a polícia. Eu acho que pessoas que são da segurança pública dialogam com mais qualidade e com mais facilidade

4. É possível que você assuma, ao menos por alguns meses, o mandato de deputado estadual? 

Sim, é possível. São três partidos que descumpriram as cotas de gênero, o PP, que foi acionado pelo próprio PL, são três pessoas que já falaram com a desembargadora, doutora Amélia, que de fato foram laranjas na eleição de 2022. Esse processo ainda está avançando. O PL é outro partido. Foram três também que podem cair, mas está uma confusão porque envolve a chapa de deputado estadual, de deputado federal algumas mulheres que foram candidatas a estadual depois foram para chapa de federal, depois elas foram questionadas por uma não apresentação de documento, baixa votação, enfim, são uma série de questões. A Justiça pediu para que eles trocassem essas mulheres, tirassem duas das mulheres e colocassem outras mulheres ou retirassem cinco homens para manter a proporcionalidade e aí eles não tiraram cinco homens. Já no finalzinho quando já não tinha mais prazo porque isso tem um prazo. Tem que ser vinte dias antes da eleição. No finalzinho eles resolveram tirar os cinco homens, mas não informaram esses candidatos e eles concorreram e tiveram votação.

Acredito que há grande chance da chapa do PL cair. Eu acho que não caiu porque é uma confusão de gente. Envolve três deputados estaduais. Aí como essas mulheres também foram para chapa de federal depois envolve quatro deputados federais. É algo um pouco mais impactante, né?

Então, no PP são três, no PL  três e no PSDB colocaram um homem gay como se fosse uma mulher trans. E aí também há chance de cair. São três partidos e oito candidaturas que podem cair. Então, há chance, sim. A gente está vendo aí essa dança das cadeiras de vereadores né? 

Já caíram seis vereadores em Goiânia. Inclusive, eu tenho chance também de virar vereador, a minha vaga é a sétima. Se cair mais um eu entro. Só porque parece que voltaram alguns, enfim. 

Voltando a deputado estadual tem essa chance e tem também o fato de o Gomide estar em primeiro nas eleições de Anápolis. Então, a chance do Gomide é realmente grande. Todas as pesquisas mostram ele com 40%, 43%. Tem grande chance de eu virar deputado estadual em 2024 ou 2025. 

Mas o que estou fazendo é preparando a campanha de 2024. Eu não estou me mobilizando por esse lugar não. Os advogados do PT estão trabalhando, os meus advogados estão trabalhando, mas eu não estou me mobilizando só por isso. Eu estou me preparando para campanha. 2024 vai ter muita coisa boa acontecendo.

5. O que o próximo prefeito de Goiânia precisa ter para tirar a cidade do estado em que ela se encontra?

O próximo prefeito precisa ter algumas características. A primeira é gostar de cuidar da cidade. A segunda é realmente ser um bom administrador. A terceira é ter uma visão de futuro. É pensar em que cidade que ele vai deixar para as crianças, para as pessoas que ainda vão nascer, para as pessoas que estarão em Goiânia em 2080, 2100, que cidade é essa? 

Porque de certo modo nós recebemos essa cidade de outras gestões anteriores. Vou dar um exemplo das gestões do PT mesmo. O PT criou os CMEIs em Goiânia. Não sei se você sabe, mas o Centro de Educação Municipal foi criado pelo PT Goiânia. Antes as crianças pobres eram cuidadas pela assistência social. E nós revolucionamos e tiramos as crianças pobres da assistência social e passamos para educação criando CMEI. E hoje ainda seis mil crianças estão fora das creches em Goiânia. Então, tem que gostar de cuidar das crianças. 

Nós temos que criar mais CREAS para cuidar de grupos vulnerabilizados. Nós temos que criar mais conselhos tutelares. Goiânia tem a metade do número de conselhos que deveria ter. Existe uma normativa federal que diz que tem que existir um conselho tutelar a cada 100 mil habitantes. Goiânia tem só cinco, deveria ter o dobro, deveria ter 10. Enfim, tem que gostar de cuidar da cidade. 

Quando eu digo em pensar no futuro é porque Goiânia se é verde hoje, temos que agradecer muito às gestões que tinham cuidado com o verde e são várias. Eu vou dizer do meu partido que é o PT. O Vaca Brava, o Areião, o Jardim Botânico, Macambira Anicuns são projetos do Partido dos Trabalhadores. O Vaca Brava e o Jardim Botânico são do Darci Accorsi, o Macambira Anicuns é de várias gestões, mas especialmente do Pedro Wilson e do Paulo Garcia, várias praças e parques foram criados pelo Paulo Garcia. Então, quando eu falo dessa preocupação com o futuro é a preocupação com o saneamento básico, é a preocupação com o meio ambiente. 

Então, acho que nós temos que ter um gestor que cuide da cidade, especialmente dos grupos vulnerabilizados. Que cuide do trânsito, que está uma bagunça, da mobilidade urbana, que termine o BRT – outra obra inicialmente do Paulo Garcia. O primeiro empréstimo para fazer o BRT foi do Paulo Garcia com a Dilma Rousseff. Então, que cuide do trânsito, cuide das crianças, dos grupos vulnerabilizados, administre bem a cidade, especialmente a gestão do lixo, a gestão dos resíduos, a gestão das OS, a gestão das maternidades para que não aconteça o que aconteceu recentemente e que tenha uma visão de futuro da cidade. 

Que pense no planejamento urbano da cidade, no planejamento dos carros, no planejamento dos ciclistas, dos motociclistas, dos pedestres, que de fato Goiânia vá se preparando de maneira afetuosa e carinhosa para receber as novas gerações. Porque eu acho que nós seremos cobrados pelas gerações do futuro que nós deixamos agora e tudo isso é pensar uma cidade que seja generosa, seja solidária e que seja para todos, não apenas para os bilionários, fazendeiros e ricos.

6. Se Adriana Accorsi não conseguir chegar ao segundo turno, quem você gostaria que estivesse lá?

Se a Adriana Accorsi não conseguir chegar lá, eu gostaria que estivesse lá pessoas com essas características que eu citei, que goste de zelar, que gosta de cuidar, que seja um bom administrador, mas que também pense no futuro de longo prazo. Cinquenta, cem anos. 

Eu não faço campanha e jamais pediria voto para bolsonarista. Esses nunca terão nenhum tipo de apoio porque partem do lugar do preconceito, da maldade e da violência enquanto respostas para as políticas públicas. Fora esses, acredito nós temos que dialogar com grupos que carregam essas características de ter esperança numa cidade que seja generosa, que entenda as políticas públicas enquanto necessária não individualismo, enquanto resposta para as nossas necessidades. Eu não vou citar nenhum nome porque de fato eu não trabalho com a hipótese da Adriana não ganhar e muito menos que a Adriana não estará no segundo turno.

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