Mais de um mês após premiê anunciar renúncia, governo transitório assume no Haiti
Enquanto se aguarda a nomeação de um novo primeiro-ministro pelo Conselho Presidencial nos próximos dias, o Haiti funcionará com uma política provisória
Mais de um mês após o anúncio da renúncia do então primeiro-ministro Ariel Henry, o governo transitório assumiu o comando do Haiti. Nesta quinta-feira (25), os nove membros do Conselho Presidencial de Transição prestaram juramento no Palácio Nacional, em Porto Príncipe, para serem empossados. O comitê tem a missão de tentar restaurar a ordem em um país abalado pela grave violência entre gangues.
Enquanto se aguarda a nomeação de um novo primeiro-ministro pelo Conselho Presidencial nos próximos dias, o Haiti funcionará com um governo provisório nomeado na última quarta-feira (24). O ministro das finanças de Henry, Michel Patrick Boisvert, será o primeiro-ministro interino.
“Hoje é um dia importante na vida de nossa querida república, este dia de fato abre uma perspectiva para uma solução para as crises multidimensionais que o país enfrenta”, disse Boisvert após o juramento formal do conselho de transição.
Ainda não se sabe se o Conselho conseguirá chegar a um consenso sobre a nomeação de um primeiro-ministro e entregar o poder a um governo eleito até fevereiro de 2026. Além disso, as gangues do país expressaram descontentamento por terem sido excluídas das negociações de transição.
Henry, que havia anunciado em 11 de março que renunciaria assim que as novas autoridades fossem empossadas, oficializou a saída do governo. “Agradeço ao povo haitiano pela oportunidade de servir ao nosso país com integridade, sabedoria e honra. O Haiti renascerá”, escreveu em uma carta.
O ex-premiê havia assumido o cargo em julho de 2021, cerca de duas semanas após assassinato a tiros do presidente Jovenel Moïse, que o tinha indicado ao posto. Desde então, o país enfrenta uma crise profunda na política e na segurança pública.
O país caribenho tem sofrido uma explosão de violência desde o final de fevereiro, quando gangues lançaram ataques a delegacias de polícia, prisões, sedes oficiais e ao aeroporto de Porto Príncipe, em uma repressão ao contestado Henry.
Essas gangues, que controlam mais de 80% da capital, cometem vários abusos, incluindo assassinatos, estupros, saques e sequestros. De acordo com as Nações Unidas, cerca de 360 mil haitianos estão deslocados internamente em um país com cerca de 11,6 milhões de habitantes.
A violência aprofundou a crise humanitária. Segundo relatório divulgado pelo escritório de direitos humanos da ONU, os conflitos entre gangues no país mataram mais de 1.500 pessoas desde o início do ano, incluindo crianças. Algumas dessas mortes foram causadas por linchamentos, apedrejamentos e queimaduras.
Já o relatório da OIM constatou que entre 8 de março e 9 de abril, 94.821 pessoas fugiram da capital com destino principalmente a regiões do sul, que já acolhem 116 mil deslocados nos últimos meses. A agência ressalta que esses números não refletem necessariamente todo o fluxo, já que alguns deslocados não passam pelos pontos de controle em que os dados são coletados.
Apesar da escalada recente, a crise no Haiti vem de séculos, desde a independência da França, em 1804. Depois de uma série de sucessão de governos no século 19 derrubados por revoltas ou assassinatos, o país foi dominado pela ditadura violenta de François “Papa Doc” Duvalier e seu filho, Jean-Claude “Baby Doc” até meados dos anos 1980.