Israel faz mega-ataque na Síria e cria zona de defesa
Observadores veem isso como o primeiro passo para uma área ainda maior de operação
IGOR GIELOW
Israel promoveu um mega-ataque contra posições das Forças Armadas da Síria na madrugada desta terça-feira (10), buscando destruir arsenais que possam ser usados contra o Estado judeu caso caiam na mão de extremistas após o fim da ditadura de Bashar al-Assad.
Além disso, o ministro da Defesa, Israel Katz, anunciou que o país irá criar uma “zona estéril de defesa” na área desmilitarizada que mantém junto à Síria. Observadores veem isso como o primeiro passo para uma área ainda maior de operação.
Múltiplos relatos na mídia árabe apontaram pela manhã que tanques israelenses cruzaram a fronteira à noite e chegaram perto de Qatana, cidade a 25 km de Damasco. Israel negou, dizendo só operar na área sob controle da ONU. Segundo militares, a ação lá incluirá soldados e blindados.
À agência Reuters, o porta-voz militar israelense, tenente-coronel Navad Shoshani, mencionou “operações em alguns pontos adicionais”, sugerindo incursões no território sírio que o governo negava. A área de 400 km² que separa a Síria das Colinas de Golã, anexadas por Israel em 1967, foi invadida na segunda-feira (9). Tel Aviv diz que é uma medida temporária para proteger a população fronteiriça, mas o movimento foi criticado por Arábia Saudita, Egito, Qatar, Irã e Turquia.
O enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, afirmou que os ataques aéreos “precisam parar” e acusou Israel de violar o acordo de 1974, que coloca uma força de paz na zona desmilitarizada. Isso abriu uma nova frente de atrito entre Tel Aviv e a ONU, após a incursão israelense em outubro no Líbano, que visava conter o Hezbollah.
Desde os primeiros ataques no domingo (8), quando Assad fugiu do país, Israel realizou 350 ataques aéreos contra 130 alvos na Síria. No início, os ataques se concentraram em centros de produção e depósitos de armas químicas, usadas por Assad na guerra civil desde 2011. No entanto, os ataques desta noite visaram incapacitar militarmente uma Síria pós-Assad.
A evidência mais notável foi o bombardeio dos portos de Latakia e Al-Bayda, que abrigam a pequena Marinha síria. Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, Israel afundou seis navios-patrulha armados com mísseis. Bases militares em todo o país foram atingidas, destruindo estoques de mísseis balísticos e parte da força aérea síria. No fim do dia, Israel afirmou ter destruído “a maior parte” dos recursos militares estratégicos do regime.
Os EUA também agiram após a queda de Assad, bombardeando posições do Estado Islâmico no domingo. O grupo terrorista continua sendo a justificativa para a presença americana no território, com 800 soldados no país.
Nos últimos anos, Israel atacou regularmente a Síria, visando conexões entre o Irã, o Hezbollah e o Hamas. Com a guerra desencadeada por terroristas na Faixa de Gaza no ano passado, os ataques se intensificaram. O Irã, maior prejudicado com a queda de Assad, está acuado. Seus 529 pontos militares na Síria, conforme estimativa da ONG Jusoor, estão em grande parte abandonados.
A Rússia, terceira maior presença militar na Síria, está focada em proteger seus dois principais ativos: a base aérea de Hmeimim e o porto de Tartus. Ambos são cruciais para sua projeção no Mediterrâneo e operações na África. Imagens de satélite sugerem uma retirada russa, com aviões de transporte chegando a Hmeimim e parte da frota naval no mar, possivelmente aguardando evacuação.
Enquanto isso, a Turquia emerge como a vencedora estratégica, apoiando os radicais islâmicos do HTS (Organização para Libertação do Levante) em sua marcha a Damasco. O cenário na Síria pós-Assad permanece incerto, com potências regionais e globais buscando redefinir sua influência na região.