Parlamento da Geórgia elege presidente de ultradireita anti-União Europeia

Foi eleito o ex-jogador de futebol Mikheil Kavelashvili

Folhapress Folhapress -
Parlamento da Geórgia elege presidente de ultradireita anti-União Europeia
Parlamento da Geórgia (Foto: Wickpédia)

(FOLHAPRESS) – O Parlamento da Geórgia elegeu neste sábado (14) o ex-jogador de futebol Mikheil Kavelashvili como presidente do país, encerrando um processo eleitoral que sofreu acusações de fraude por parte da oposição.

Kavelashvili é um político de ultradireita conhecido por sua posição anti-União Europeia, acenos à Rússia e falas homofóbicas, e sua vitória sinaliza que a ex-república soviética do Cáucaso deve se afastar do Ocidente e se aproximar de Moscou nos próximos anos.

Manifestantes protestam nas ruas desde que o governo em Tbilisi paralisou o processo de adesão à UE, uma medida que causou revolta e contraria a opinião da maioria da população, que é favorável à entrada no bloco, de acordo com pesquisas de opinião.

Em outubro, o partido de direita e de tendências autoritárias Sonho Georgiano venceu as eleições parlamentares com 54% do voto.

A oposição boicota o Legislativo por dizer que o pleito foi fraudado -por isso, Kavelashvili foi eleito por 224 dos 225 eleitores aptos a votar para presidente, que inclui membros do Parlamento e representantes de governos regionais.

Observadores de organismos internacionais, da União Europeia e da sociedade civil georgiana atestaram fraude, manipulação e constrangimento nas eleições.

A atual presidente do país, Salome Zourabichvili, foi à Justiça, pediu o cancelamento do pleito e estimulou uma onda de manifestações e desobediência civil -a oposição diz que vai continuar considerando a política como a presidente legítima.

Defensora da aproximação da Geórgia com a União Europeia, Zourabichvili galvanizou ainda partidos de oposição para deslegitimar o Parlamento, dominado antes e depois do pleito pelo Sonho Georgiano.

A resposta foi violenta. Segundo as forças de segurança, 460 prisões foram realizadas, 300 pessoas ficaram feridas e 80 foram hospitalizadas. A oposição afirma que os números estão longe da realidade.

Em uma publicação no X logo antes do voto no Parlamento, Zourabichvili disse que sua eleição representava “um gesto de desprezo à democracia”.

Já o primeiro-ministro, Irakli Kobakhzide, parabenizou Kavelashvili e disse que Zourabichvili estava a serviço de potências estrangeiras.

Neste sábado, centenas de pessoas enfrentaram neve para protestar contra a eleição de Kavelashvili em frente à sede do Parlamento. Alguns dos manifestantes ergueram cartões vermelhos, em referência irônica à carreira do agora presidente no futebol.

Vezi Kokhodze, ouvido pela agência de notícias Reuters, disse que a eleição do novo presidente era uma traição ao desejo do georgianos de se aproximar da UE e do Ocidente. “Isso representa a vontade do sistema de levar a Geórgia de volta às suas raízes soviéticas”, afirmou.

Kavelashvili é o líder da corrente Poder Popular, uma facção dentro do partido Sonho Georgiano que foi responsável pela controversa lei sobre “agentes estrangeiros” aprovada em maio deste ano.

Segundo a legislação, organizações que recebam mais de 20% de seu financiamento do exterior devem se registrar como agentes de influência estrangeira -segundo a oposição, a medida persegue ONGs e entidades contrárias ao governo.

O novo presidente foi indicado ao posto mês passado pelo ex-primeiro-ministro Bidzina Ivanishvili, um bilionário pró-Rússia que ajudou a fundar e é considerado o principal líder do Sonho Georgiano.

As eleições de outubro acabaram sendo traduzidas como uma escolha entre Bruxelas e Moscou. Em comunicado nesta semana, o bloco expressou preocupação com os rumos do país e pediu garantia aos direitos e à segurança dos manifestantes.

O presidente da França, Emmanuel Macron, gravou na sexta-feira (13) um vídeo direcionado à Geórgia, e disse que “pertencer à Europa não é sobre chantagem, é sobre aceitar regras como um modo de resolver diferenças”, afirmou.

O esforço diplomático de Macron é explicado pelo fato de Zourabichvili ter nascido na França, filha de imigrantes georgianos. Nos anos 2000, a diplomata abdicou da cidadania francesa para se envolver com a política do país.

Macron, porém, tem igualmente boa interlocução com Ivanishvili. O oligarca já morou na França, onde tem diversas propriedades, e recebeu um telefonema do presidente francês nesta semana. O teor da conversa não foi divulgado.

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