MARIANA BRASIL
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) afirmou nesta terça-feira (18), ao conceder o Prêmio Camões de Literatura para a poeta mineira Adélia Prado, 89, que sua obra “transborda verdade” em tempos de mentira e negacionismo.
“Sua poesia é uma homenagem ao real, cuja concretude hoje se esfacela em plataformas virtuais e redes digitais. Em um contexto de negacionismo, mentira e desinformação, a verdade que transborda de Adélia é um importante chamado à realidade”, disse.
A premiação é considerada a mais importante da língua portuguesa e consagra autores da língua que, pelo conjunto de suas obras, tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural do idioma.
“Em tempos de crises econômicas, catástrofes climáticas, guerras e pandemias, não sucumbir é um ato de resistência. É na desesperança, no medo e no ressentimento, que viceja o ódio como projeto político”, disse ainda. “Adélia nos inspira a fazer política como ela faz poesia: as pessoas estão no cerne de sua escrita, assim como deveriam estar no centro de qualquer relação de governo”, disse ainda Lula.
A declaração foi feita durante entrega do Prêmio no Palácio do Itamaraty, ao filho de Adélia, Eugênio Prado, que a representou. De acordo com ele, a autora não pôde comparecer por uma fragilidade na saúde.
Por meio do filho, Adélia Prado enviou um texto de agradecimento pelo prêmio, além de um “abraço fraterno” ao presidente português e o recado de que ama Portugal.
A premiação foi realizada por Lula junto ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que foi recebido nesta manhã, no Palácio do Planalto. Na sequência, os dois presidentes se reuniram a portas fechadas.
A poeta havia sido anunciada como a vencedora em junho do ano passado, uma semana depois de ganhar o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, que também seleciona autores pelo conjunto da obra.
À época, Prado havia retomado à literatura depois de mais de uma década do que classificou como um “deserto criativo”.
A escolha por seu nome rompeu uma tradição recente do Camões. O prêmio costuma alternar entre escritores brasileiros, portugueses e de países africanos lusófonos. Desta vez, seleção da mineira vem apenas dois anos depois da seleção de um conterrâneo seu, o crítico literário Silviano Santiago.
A cerimônia desta terça, cujo objetivo é fortalecer os laços entre os países de língua portuguesa, faz parte dos compromissos oficiais do chefe de Estado português no Brasil. Ele e o primeiro-ministro, Luis Montenegro, têm previsão de ficar no país até sexta-feira (20).
Também estiveram presentes no evento o vice-presidente Geraldo Alckmin, os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Herman Benjamin, o senador Jaques Wagner (PT-BA) e outras autoridades brasileiras e portuguesas.
O Prêmio Camões contempla anualmente autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A comissão julgadora é composta por representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa.
O autor vencedor, além de ter o conjunto de sua obra reconhecida, recebe uma láurea no valor de 100.000 euros. Metade deste valor é subsidiado pela Fundação Biblioteca Nacional.
Após o prêmio, Lula e a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, oferecem um jantar no Itamaraty para o presidente de Portugal e demais autoridades.