O governo Lula (PT) disse a dirigentes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que o presidente visitará um acampamento pela primeira vez desde o início do seu atual mandato na sexta-feira (7).
O local escolhido pelos sem-terra foi o Quilombo Campo Grande, localizado em Campo do Meio (335 km de Belo Horizonte), no sul de Minas Gerais, e o movimento planeja reunir cerca de 5.000 pessoas para receber o presidente.
Lideranças do governo e do MST vão se reunir na segunda-feira (3) para alinhar a organização do evento, que deverá ter a oficialização da entrega de assentamentos, entre eles o próprio Quilombo Campo Grande, além de destaque para o lançamento do Desenrola Rural, recém-lançado programa de negociação de dívidas de produtores rurais.
Lula tem buscado se reaproximar dos sem-terra com mais intensidade desde o começo do ano, no momento em que atravessa queda de popularidade.
Em 2025, convidou-os para uma reunião em Brasília, prometeu a visita a um acampamento ou assentamento e convidou João Paulo Rodrigues, dirigente do movimento, a integrar a delegação que participa da posse de Yamandú Orsi como presidente do Uruguai, neste sábado (1º), como mostrou a coluna Painel, da Folha.
Líderes do movimento também receberam com empolgação a recente escolha de Gleisi Hoffmann como ministra da Secretaria de Relações Institucionais do governo Lula. Ela é uma das principais interlocutoras do MST entre os aliados do presidente.
O MST cobra uma visita de Lula desde o começo da gestão, em 2023. Em janeiro, o presidente recebeu líderes do movimento no Palácio do Planalto para discutir os programas do governo de reforma agrária, que são bastante criticados pelos sem-terra.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário diz ter assentado 71,4 mil famílias ao longo de 2024, mas o MST contesta os dados e pressiona o governo a assentar 100 mil famílias que, segundo eles, estão acampadas pelo país.
A visita do presidente ao acampamento acontece pouco antes das principais mobilizações nacionais do MST, a Jornada de Lutas das Mulheres Sem-Terra, em 8 de março, e, especialmente, o Abril Vermelho, caracterizado por marchas e invasões.
Foi durante o Abril Vermelho de 2023 que a relação de Lula com o MST estremeceu no atual mandato, após invasões de fazendas da empresa de celulose Suzano e da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) pelos sem-terra.
O presidente e seus ministros endureceram o tratamento público ao movimento, que rebateu com críticas à morosidade dos programas de reforma agrária e de incentivo à agricultura familiar.
Ceres Hadich, da direção nacional do MST, diz que as entregas recentes do governo ainda são poucas e tardias, mas têm simbologia enorme, pois se referem a áreas de assentamentos que aguardam regularização fundiária há décadas. No caso do Quilombo Campo Grande, por exemplo, o acampamento existe desde 1998.
“Não nos esqueçamos que estamos no terceiro ano do governo Lula e até agora pouquíssimo foi feito pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário em relação à reforma agrária”, afirma Ceres, que ressalta, por outro lado, que “a retomada da criação de assentamentos por meio de decretos de desapropriação por interesse social é muito importante, e indica uma posição política do presidente”.
Ela também diz que os sem-terra têm expectativa de que Lula faça anúncios robustos na sexta-feira sobre o incentivo à produção de alimentos e o desenvolvimento da agroecologia e do cooperativismo.
Historicamente, a relação do presidente com o movimento é marcada por aproximações e afastamentos. Os momentos de mais afinidade costumam acontecer quando Lula encontra-se fragilizado.
Foi assim, por exemplo, quando o petista foi preso, em 2018, e os sem-terra e outros militantes montaram a Vigília Lula Livre em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba por 580 dias.
Pouco antes, em 2016, o MST participou de mobilizações nacionais contra o impeachment de Dilma Rousseff (PT), que durante seu governo foi descrita pelos sem-terra como a pior presidente da história para a reforma agrária.