Você se lembra do velório que mais te marcou?

Deve ser ruim ficar pensando nisso, mas às vezes, quando estou em casa, e uma canção de partida começa, fico com a sensação de que apesar de sós, não estamos

Narelly Batista Narelly Batista -
Você se lembra do velório que mais te marcou?
Imagem mostra velório do cantor Leandro. (Foto: Reprodução/Acervo O Globo)

No dia 24 de junho de 1998, dia do meu aniversário de cinco anos, vi pela televisão o sepultamento mais marcante da minha vida. Não se trata de um parente próximo, mas do cantor Leandro, irmão do Leonardo. Fiquei horas na frente da TV assistindo a cobertura. Era gigante e bonito. As pessoas cantavam muito alto, para que o céu escutasse.

Onde moro estão estabelecidos pelo menos três funerárias. Poucos metros dali, na Pedro Ludovico, outras três funerárias povoam a região. Por isso, todos os dias, quando saio pela manhã, me deparo com a pequena morte de quem ainda permanece vivo. Aqueles que fecham o caixão, apagam as velas e limpam a sala do velório.

Quando me mudei, demorava bastante a dormir. Ficava ouvindo as orações e canções do adeus. Depois de um tempo, a morte passou a ser parte da vida vivida ao lado. Eu saía para correr às quatro, e me lembrava que a vida acabava. Eu chegava do trabalho às 20h e me lembrava que a morte dói pra quem fica. Mas e pra quem vai?! Dói? Talvez eu jamais tenha essa resposta, mas penso sempre sobre isso.

Tenho um amigo que diz gostar de velórios, pois vê as mais genuínas expressões de amor, frieza, dor e beleza. Desde que ele me disse isso, passei a observar e, de fato, é o maior evento humano do planeta. É quando a dor permite as mais bonitas manifestações públicas de afeto. Muitas vezes com dom e arte que a pessoa nem sabia que tinha.

Me lembro da minha avó paterna citar o quanto o velório de seu filho foi prestigiado. “Cheio, um cortejo enorme de gente. Não dava pra ver o final”. Na minha cabeça, o velório dela foi tão grande quanto o do Leandro.

Deve ser ruim ficar pensando nisso, mas às vezes, quando estou em casa, e uma canção de partida começa, fico com a sensação de que apesar de sós, não estamos. Todo mundo sente. Qual o velório mais te marcou?

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