O cessar-fogo entre a Índia e o Paquistão entrou em seu segundo dia neste domingo (11) apesar de acusações mútuas de violações da trégua em vigor. Na véspera, um acordo entre os adversários históricos reduziram os combates.
O pior conflito entre as duas potências nucleares em mais de 20 anos matou mais de 60 pessoas e provocou o deslocamento de milhares na fronteira fortemente armada. O cessar-fogo de sábado (10) havia dado esperanças de que os ataques fossem interrompidos.
No entanto, bastou algumas horas para que as nações falassem em violações. Na noite de sábado, a Índia afirmou que o cessar-fogo havia sido violado pelo Paquistão após disparos de artilharia serem testemunhados na Caxemira indiana, centro de grande parte dos combates da semana passada. Islamabad devolveu a acusação a Nova Déli, relatando disparos em Bhimber, na Caxemira paquistanesa.
Ao amanhecer, os combates e as explosões cessaram, de acordo com testemunhas da agência de notícias Reuters, e a energia elétrica foi restaurada na maioria das áreas de fronteira na Índia após um apagão durante a noite.
“O chefe do Exército concedeu plena autoridade aos comandantes para neutralizar (…) qualquer violação do entendimento alcançado nas negociações de 10 de maio”, afirmaram os militares indianos neste domingo, em um comunicado que demonstra a fragilidade do acordo.
A Caxemira é uma região de maioria muçulmana onde nascem rios essenciais para a Índia e o Paquistão, que disputam o local desde que eles conquistaram a independência do Reino Unido, em 1947. A partir de 1989, a região passou a ser palco de uma insurgência daqueles que buscam independência ou anexação ao Paquistão e que, segundo Nova Déli, têm o apoio do país vizinho.
A crise atual teve início no dia 22 de abril, após um ataque terrorista cometido por um grupo armado que pede a separação da Caxemira indiana matar 26 pessoas -a maioria turistas hindus. A Índia culpou o grupo jihadista Lashkar-e-Taiba (LeT), sediado no Paquistão, e acusou Islamabad de envolvimento no ataque, o que o governo paquistanês nega.
Os mais afetados pelos conflitos são os moradores de áreas de fronteira de ambos os lados, muitos dos quais fugiram de suas casas quando os combates irromperam, no começo da semana.
Na cidade indiana de Amritsar, lar do Templo Dourado reverenciado pelos seguidores do sikhismo, as pessoas voltaram às ruas na manhã deste domingo, logo após o som de uma sirene sinalizar o retorno à normalidade.
“Desde que os terroristas atacaram as pessoas em Pahalgam, temos fechado nossas lojas muito cedo. Estou feliz que pelo menos não haverá derramamento de sangue de ambos os lados”, disse a comerciante Satvir Singh Alhuwalia, 48.
Em outras áreas de fronteira, porém, as pessoas foram instruídas a não retornarem para suas casas ainda. “As pessoas aqui estão nos recebendo bem, mas assim como um pássaro se sente em paz em seu próprio ninho, nós também nos sentimos confortáveis apenas em nossas próprias casas, mesmo que tenham sido danificadas”, disse Azam Chaudhry, 55, que fugiu de sua casa na cidade paquistanesa de Khuiratta e agora foi instruído a esperar até segunda (12) antes de retornar.
Em Uri, na Caxemira indiana, uma importante usina elétrica que foi danificada em um ataque de drones paquistaneses ainda está em reparos, segundo um funcionário da estatal NHPC, a maior empresa hidrelétrica da Índia, que não quis ser identificado.
O presidente americano, Donald Trump, que correu para anunciar a trégua em sua plataforma, a Truth Social, neste sábado, votou a falar sobre o assunto neste domingo e disse que aumentaria o comércio com os dois países. “Trabalharei com vocês dois para ver se (…) uma solução pode ser encontrada em relação à Caxemira”, escreveu o republicano.
O Ministério das Relações Exteriores do Paquistão saudou a declaração de Trump e acrescentou que “qualquer solução justa e duradoura para a disputa (…) deve garantir a realização dos direitos fundamentais do povo da Caxemira, incluindo seu direito inalienável à autodeterminação”.
O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, afirmou em uma publicação na rede social X que estava “extremamente grato” a Trump por sua “valiosa oferta de desempenhar um papel mais importante na promoção de uma paz duradoura no sul da Ásia”.