Estratégias utilizadas por goianas para escapar dos assédios moral e sexual no dia a dia
De alianças falsas a histórias inventadas, mulheres relatam as táticas criativas que adotam para evitar situações de assédio e combater preconceitos


Imagine um cenário em que, para recusar uma cantada, um simples “não” não é suficiente, sendo necessário justificar com um motivo considerado “válido”.
Essa situação acontece com goianas diariamente em eventos sociais ou até mesmo no trabalho, onde para lutar contra o assédio ou julgamento sentem a necessidade de esconder o estado civil e utilizar métodos para, apenas, não serem incomodadas.
Em entrevista ao Portal 6, Isabella Camargo, 22 anos, contou que é uma dessas mulheres. Ela relata que durante um festival sertanejo precisou fingir que namorava a própria amiga para despistar um homem inconveniente.
“Nesse dia estava eu e minha amiga curtindo um show e cara se aproximou da gente, e pediu um beijo, ela negou, mas ele continuou insistindo”, disse a jovem.
Para ajudar, Isabella interveio na conversa. “Eu disse que éramos namoradas e pedi que ele parasse de incomodá-la. A resposta que eu recebi foi que ele não teria ciúmes de mim.”
A experiência de Isabella não é um caso isolado. Brenda Nascimento, 30 anos, compartilha que quando era mais nova, usava anéis que imitam alianças como forma de evitar interações indesejadas em festas.
“Imagina eu com 16 anos em festas de aniversários ou até festas familiares, sentia a necessidade de usar um anel fino de prata para mostrar sempre que um cara chegava em mim, e mesmo com isso às vezes eles não desistiam”, relembra.
Em um casamento, após rejeitar o convite de um rapaz para sair, ela apontou para o anel como prova de que era “casada”. “Ele me pediu para ver fotos do meu marido. Me senti péssima, além de inventar um relacionamento, precisei provar sua existência.”
Além de funcionarem como barreiras contra assédio, símbolos de comprometimento, também são usados por mulheres para serem vistas como mais sérias e confiáveis.
Giovana Andrade, jovem de 22 anos, revela que começou a usar uma aliança no trabalho para evitar assédios e conquistar credibilidade em um ambiente corporativo dominado por homens. “Pela minha idade, me sentia insegura. A aliança ajudava a ser vista como uma pessoa mais séria e responsável”
Os relatos de Isabella, Brenda e Giovana refletem uma realidade alarmante. De acordo com a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, realizada pelo DataFolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública em março de 2023, cerca de 30 milhões de mulheres no Brasil foram vítimas de assédio sexual apenas no ano de 2022.
Além demostrar a ‘normalização’ desse tipo de crime, situações como essas mostram que muito do valor feminino está ligado sempre a um homem, como um marido ou namorado, como se a mulher não fosse reconhecida como individuo.