Estudo mostra que ainda não é possível dizer se faixa azul reduz morte de motociclistas

Resultado apontou que a faixa azul diminui a quantidade de acidentes em alguns trechos, mas aumenta em outros na mesma proporção

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Faixa Azul para motociclistas na avenida 23 de Maio. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Faixa Azul para motociclistas na avenida 23 de Maio. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

FÁBIO PESCARINI – Um novo estudo concluiu que, de forma geral, não é possível dizer que a faixa azul, sinalização viária para circulação de motocicletas, reduz lesões e mortes no trânsito. O trabalho, realizando durante um ano, foi feito por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), da UFC (Universidade Federal do Ceará), do Instituto Cordial e da organização de saúde Vital Strategies.

O documento foi apresentado nesta quarta-feira (30) em Brasília, em uma série de eventos na Semana Nacional de Prevenção a Acidentes com Motociclistas, que está sendo realizada pela primeira vez e instituída a partir de lei sancionada em outubro do ano passado.

O comportamento de motociclistas foi analisado em 190 km de vias sinalizadas. O número deve crescer para 240 km quando o relatório final for publicado em setembro.

A faixa azul começou a ser testada como projeto-piloto na cidade de São Paulo em 2022. Atualmente são 232,7 km da sinalização que segrega as motos dos demais veículos em 46 vias paulistanas.

Outros municípios brasileiros testam a faixa azul, como São Bernardo do Campo e Santo André, no ABC Paulista, e as capitais Salvador e Recife.

A Prefeitura de São Paulo defende a sinalização e, inclusive, enviou palestrantes a Brasília para mostrá-la como caso de sucesso.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) afirma que o projeto pioneiro diminuiu o número de óbitos de motociclistas em 47,2%, passando de 36 em 2023 para 19 em 2024, nos trechos de vias com a sinalização na capital paulista.

Para se tornar uma política pública de trânsito regulamentada, a faixa azul precisa ser aprovada pela Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), que está analisando os dados enviados pelos municípios, e depois passar pelo crivo do Contran (Conselho Nacional de Trânsito). Não há prazo para isso ocorrer.

Segundo os pesquisadores, o trabalho apresentado neta quarta foi iniciado ao se identificar que algumas análises importantes não estavam sendo consideradas nos relatórios de avaliação que estavam sendo compartilhadas com a Senatran.

“Para esse tipo de sinalização inédita no país, faz-se necessário ter análises com métodos mais robustos”, diz o estudo. “De forma geral, os dados ainda não permitem concluir se a política reduz mortes ou lesões no trânsito, mas indicam tendências distintas conforme o trecho [via de trânsito] analisado”, afirma.

O levantamento identificou aumento de 33% nos acidentes com motociclistas nos cruzamentos, locais tradicionalmente mais críticos em termos de risco viário e, ao mesmo tempo, uma redução de 33% nos acidentes nos meios de quadra. Ou seja, o estudo apontou que a faixa azul diminui a quantidade de acidentes em alguns trechos, mas aumenta em outros na mesma proporção.

O monitoramento também mostrou que sete em cada dez motociclistas ultrapassam o limite de velocidade nas vias com faixa azul, frente a um em cada dez nas vias sem a sinalização, o que chama atenção para o crescimento de um comportamento de risco com potencial de aumentar a chance de ocorrer um acidente, também, de piorar a gravidade das lesões.

“Mais velocidade significa menos tempo para reagir e maior gravidade nas lesões das vítimas envolvidas. Essa combinação é crítica, especialmente em áreas com travessia de pedestres e conversões de veículos”, afirma em nota Ezequiel Dantas, diretor de Vigilância de Lesões no Trânsito na Vital Strategies. “Definir e fortalecer uma estratégia de fiscalização de velocidades nas faixas azuis é imprescindível”.

Na última sexta-feira (25), o secretário nacional de Trânsito, Adrualdo de Lima Catão, afirmou à Folha de S.Paulo que a faixa azul ainda não é consenso. Pois, se de um lado, a prefeitura paulistana apresenta queda de óbitos onde a via segregada foi instalada, o número de mortes de motociclistas na cidade como um todo tem apresentado seguidos crescimentos.

Segundo o Infosiga, sistema estadual que mede a violência no trânsito, o número de motociclistas mortos na capital paulista passou de 366 para 433, entre 2023 e 2024.

Ao contrário do que ocorre na Malásia e Vietnã, onde a maioria das pistas para motos são fisicamente separadas, diz o estudo, o modelo paulistano não possui segregação física, o que aumenta a complexidade dos riscos.

“Os resultados preliminares não apontam para uma recomendação imediata de expansão do projeto em larga escala. O grande aumento do desrespeito aos limites de velocidade por parte de motociclistas os colocam numa situação ainda mais vulnerável. A faixa azul e seus impactos precisam ser melhor estudados para que haja uma regulação adequada, pensando na preservação da vida”, afirma Dantas, na nota.

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