ONU põe Lula e Trump no mesmo local pela 1ª vez sob ameaça de novas sanções ao Brasil

Lula já chamou de genocídio por parte de Israel o que ocorre em Gaza e pode se manifestar dessa forma novamente

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Trump vai à ONU, e Lula estará em mesmo evento que americano pela 1ª vez desde início da crise
(Foto: Divulgação/Instagram/Antonio Cruz/Agência Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca neste domingo (21) em Nova York para participar da Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em que discursará no debate anual de alto nível que reúne 193 membros do órgão.

Será a primeira vez em que Lula estará no mesmo local que o seu homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, desde a eleição do americano e da aplicação pelos EUA de uma série de sanções ao Brasil. Não há, porém, expectativa de encontro entre os líderes.

O evento ocorrerá sob ameaça do anúncio de novas punições contra o Brasil, o que pode gerar constrangimentos à delegação brasileira. Para além do clima de tensão entre Lula e Trump, outros assuntos-chave devem permear a assembleia: a guerra entre Ucrânia e Rússia, o conflito entre Hamas e Israel na Faixa de Gaza, além do combate às mudanças climáticas.

A presença militar americana no Caribe, próximo à Venezuela, também pode ser um dos assuntos ligados à América Latina.

Na segunda-feira (22), Lula participará de um evento que vai debater a solução para dois Estados na Palestina, defendida pelo Brasil e da qual os EUA se opõem.

Um integrante do governo petista estima que cerca de 150 países já expressaram a defesa por essa saída. Para que isso ocorra, porém, é preciso que o Conselho de Segurança da ONU aprove a solução, o que já foi barrado pelos EUA.

A tendência é que o tema seja inserido inclusive no discurso que o presidente fará no debate da assembleia, na terça-feira (23). O Brasil é sempre o primeiro a se manifestar.

Lula já chamou de genocídio por parte de Israel o que ocorre em Gaza e pode se manifestar dessa forma novamente. O presidente também deve reafirmar a importância da COP30, a assembleia climática da ONU, que será realizada no mês de novembro, em Belém.

Aliados também acreditam que Lula deverá reafirmar a soberania do Brasil e a importância da democracia diante dos ataques proferidos por Trump ao país.

O tema deve aparecer em menor ou maior grau a depender da aplicação de novas punições pelos EUA. Existe a possibilidade de o governo Trump divulgar punições como resposta à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na segunda (22), gerando um constrangimento ao presidente brasileiro.

Entre as punições em análise estão o aumento de tarifas, a ampliação de restrição de vistos e a inclusão da mulher de Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky, criada para punir violadores de direitos humanos. Se isso ocorrer, um integrante do governo Lula diz que o presidente deverá responder em seu discurso na assembleia.

Os EUA falam logo na sequência do Brasil. Os oradores que se manifestam na assembleia geralmente ficam numa sala à espera do momento de irem ao púlpito, enquanto aqueles que terminam os dicursos deixam o local por outra saída. Por isso, a presença dos dois no mesmo ambiente não é garantia de encontro.

A assembleia deste ano ocorre enquanto o órgão completa 80 anos e passa por um dos momentos de maior enfraquecimento da sua história. Nos últimos meses, Trump atacou a instituição e suspendeu o financiamento a diversos dos seus órgãos, embora ainda a reconheça, a ponto de comparecer à assembleia.

A fala de Lula deve se contrapor à de Trump, para a qual todos os olhos da assembleia devem estar voltados. O Brasil e outras nações querem saber quais mensagens os EUA vão passar em relação às guerras entre Ucrânia e Rússia, Hamas e Israel na Faixa de Gaza e a relação com o mundo como um todo.

Trump diz ter conseguido pacificar ao menos seis conflitos, mas fez todos às margens do Conselho de Segurança da ONU.
O discurso endereçado pelo Irã também deve chamar atenção, pela forma como vão abordar –se vão– os ataques dos EUA contra instalações nucleares do país neste ano.

Nos últimos meses, Trump impôs tarifas a todos os países e tratou de tentar resolver conflitos mundiais sem passar pela mediação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, enfraquecendo o órgão.

Essas são algumas das razões para diplomatas que atuam em Nova York chamarem, em tom jocoso, a reunião de alto nível (high-level meetings) em inglês, de “hell level meetings (reuniões do inferno)”, demonstrando a tensão que ronda a semana.

Segundo o governo brasileiro, mais de 30 países pediram reuniões bilaterais com Lula, entre eles o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. A reportagem apurou que Suécia e Finlândia também solicitaram encontros, mas as confirmações só devem ocorrer neste domingo (21).

A comitiva brasileira que participa da ONU este ano tende a ser esvaziada. O ministro Fernando Haddad (Fazenda), que esteve em 2024, não viajará, sob a justificativa de que tem de de focar a agenda doméstica.

O ministro Alexandre Padilha (Saúde) desistiu de viajar também em razão de limitações de locomoção nos EUA que lhe foram impostas como represália do governo Trump. O país cancelou o visto de parentes de Padilha e de outras pessoas ligadas ao programa Mais Médicos, que contratou cubanos de 2013 a 2018 para atuar em regiões remotas do Brasil.

Estão confirmados em NY o ministro Mauro Vieira (Itamaraty), Marina Silva (Meio Ambiente) e Ricardo Lewandowski (Justiça).

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