Mais poderoso porta-aviões da China entra em operação
É o terceiro exemplar deste tipo de navio desenhado para projetar poder além de águas territoriais

IGOR GIELOW – Com a presença do líder Xi Jinping em uma coreografada cerimônia, a China colocou em operação nesta sexta-feira (7) seu mais poderoso porta-aviões, o Fujian, terceiro exemplar deste tipo de navio desenhado para projetar poder além de águas territoriais.
A embarcação está na categoria dos super porta-aviões pelo porte, estimados 316 metros e mais de 80 mil toneladas de deslocamento, e pela tecnologia: ela usa catapultas eletromagnéticas mais eficientes do que as tradicionais a vapor, algo que só o maior e mais avançado modelo do mundo, o americano USS Gerald Ford, opera.
O Fujian foi lançado em junho de 2022 na mesma Sanya (sul) onde foi comissionado agora, e passou 40 meses em testes, 18 deles no mar. O navio pode levar estimados 50 aeronaves, as três principais das quais testadas em seu deque em setembro: os caças J-15T e J-35 e o avião-radar KJ-600.
Enquanto o J-15T é uma atualização do modelo já o empregado nos dois outros porta-aviões do país, os dois últimos trazem uma revolução para a capacidade chinesa.
O J-35 é um avião de quinta geração furtivo ao radar que, à distância, que lembra muito o americano F-35, também é operado de porta-aviões. Já o KJ-600 é um turboélice de comando e controle, feito para triangular as operações dos caças e outras aeronaves. Também foi apresentado um novo helicóptero naval, o Z-20F.
Com isso, Pequim tenta se equiparar aos rivais americanos, embora os EUA sejam muito superiores em todos os itens ainda. Washington opera 11 grupos de porta-aviões centrados em 10 modelos da classe Nimitz e 1, o epônimo da Gerald Ford.
São gigantes ainda maiores do que o Fujian e, principal, movidos por turbinas cujo vapor vem da operação de reatores nucleares, o que lhes dá autonomia indefinida salvo reabastecimento de comida, água, armas e troca de pessoal.
Já o Fujian, segundo analistas militares chineses, deve poder percorrer cerca de 18 mil km sem precisar reabastecer seus tanques de óleo diesel. Já é uma autonomia considerável para operações no Pacífico, de todo modo, o foco de Xi na sua disputa com os EUA.
Os americanos têm projeção global com sua frota, como o lento trânsito do Gerald Ford do Mediterrâneo para a crise em torno da Venezuela mostra, algo que não parece estar nos planos chineses.
A prioridade de Xi é assegurar a segurança de rotas marítimas por onde passam suas exportações e por onde chega a maior parte do petróleo que alimenta sua indústria.
Mas o próprio nome da belonave, tirado da província chinesa oposta à ilha autônoma de Taiwan, indica sua pretensão geopolítica. Xi reitera sempre que quer reintegrar o território, que vem se armando cada vez mais temendo uma invasão, ao continente por meio de força se necessário.
Aí, ter três porta-aviões faz a diferença, exceto que o comprometimento americano em defender Taipé seja levado ao pé da letra mas aí o cenário arrisca uma Terceira Guerra Mundial, com a aliada chinesa Rússia já ativa na Guerra da Ucrânia.
O próximo passo de Pequim é lançar ao mar o quarto porta-aviões, que está sendo construído com sigilo relativo. O que se especula é que o modelo já contará com propulsão nuclear, entrando numa outra fase da competição com Washington, em paralelo à expansão rápida de seu arsenal de ogivas atômicas.
O plano chinês é operar, até 2035, ao menos seis desses gigantes. Apenas dez nações do mundo têm porta-aviões. De propulsão nuclear, só EUA e França. O Brasil já teve o modelo convencional, mas hoje usa como nau-capitânia o Atlântico, um porta-helicópteros.
Em números, Marinha chinesa já é maior do que a americana, mas as capacidades de Washington ainda são superiores. Antes do Fujian, de desenho próprio, ela operava dois modelos derivados de projetos soviéticos, um comprado da Ucrânia e outro, feito na China.
O tempo de testes do novo navio foi similar ao do Gerald Ford, que ficou 44 meses no mar antes de ir à ação. O primeiro porta-aviões do país, o Liaoning, ficou seis anos fazendo ensaios como o segundo, Shandong, era uma cópia, passou apenas um.



