Talibã ordena decapitação de manequins por violação da lei islâmica
Ordem está limitada a Herat, terceira maior cidade do país, que já foi considerada a capital cultural do Afeganistão
BAURU, SP (FOLHAPRESS) – Em novo ato de limitação das liberdades individuais, o Talibã ordenou que comerciantes em Herat, no oeste do Afeganistão, cortem as cabeças dos manequins de suas lojas.
Um vídeo que mostra o processo de decapitação tem circulado nas redes sociais. Na imagem, um homem aparece usando uma serra para remover a cabeça de pelo menos uma dúzia de manequins.
“Pedimos aos comerciantes que cortassem as cabeças dos manequins porque é contra a sharia [lei islâmica estrita]”, disse Aziz Rahman, chefe do Ministério de Promoção da Virtude e Prevenção do Vício – uma espécie de polícia política–, à agência de notícias AFP.
“Se eles apenas cobrirem as cabeças ou taparem o manequim, o anjo de Alá não entrará na loja ou em sua casa para abençoá-los”, continuou Rahman, acrescentando que os comerciantes prometeram obediência à determinação.
A ordem está limitada a Herat, terceira maior cidade do país, que já foi considerada a capital cultural do Afeganistão. Desde que o Talibã reassumiu o poder, no entanto, Herat também foi a cidade escolhida para a exposição de corpos de supostos criminosos executados para “servirem de exemplo”.
A lei islâmica proíbe representações humanas, de modo que, em uma interpretação mais radical, os manequins constituem uma violação. Durante o primeiro regime à frente do Afeganistão na década de 1990, o grupo fundamentalista destruiu, por exemplo, várias estátuas históricas de Buda.
Ainda no campo dos costumes, outro vídeo, que mostra membros do regime despejando vários barris de bebidas alcoólicas em um canal, também repercutiu nas redes sociais. Em nota, a Diretoria de Inteligência Geral do Talibã disse que 3.000 litros de bebidas foram apreendidos e destruídos em um distrito de Cabul.
A venda e o consumo de álcool já eram proibidos pelo governo anterior ao Talibã, mas o grupo fundamentalista também aplica, nesse caso, a visão mais rigorosa da sharia, intensificando a repressão.
Quando as tropas ocidentais deixaram o país definitivamente em agosto, os talibãs reassumiram o poder e prometeram mais moderação –uma promessa menos por convicção do que por tentativas de melhorar sua imagem internacional e receber ajuda externa.
Na prática, porém, o que se vê é uma nova onda de retirada de direitos, em especial de mulheres e meninas. No mês passado, por exemplo, o regime proibiu que mulheres viajem longas distâncias no país sem a companhia de um homem.
As mulheres também foram proibidas de praticar esportes em que tenham seus corpos expostos, só podem estudar se estiverem em espaços separados de homens, e atrizes e jornalistas são obrigadas a usar véus nas transmissões pela TV.