Com superlotação diária, enfermeiros da UPA Vila Esperança denunciam dificuldades até para conseguir cateter

Profissionais procuraram o Portal 6 para relatarem a difícil realidade da unidade, que enfrenta uma alta demanda

Davi Galvão Davi Galvão -
Com superlotação diária, enfermeiros da UPA Vila Esperança denunciam dificuldades até para conseguir cateter
Situação atual da UPA Vila Esperança foi denunciada por profissionais. (Foto: Reprodução)

Profissionais cuidando de mais de 15 pacientes por vez, cateteres sendo reutilizados, rondas de trabalho até a exaustão e burocracia até mesmo para se obter bolsas de soro.

Esses foram os relatos da equipe médica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dr. Alair Mafra Andrade – localizada na Vila Esperança, em Anápolis, que buscaram o Portal 6 para denunciar a situação.

Uma técnica de enfermagem, que preferiu não ser identificada, relatou a situação de calamidade que ela e colegas têm enfrentado ao longo dos últimos meses.

Ela destacou que a unidade, que já apresenta um problema crônico de superlotação, continua com todos os leitos disponíveis ocupados, com pacientes chegando a ser internados em meio a corredores.

“Só para início de conversa, esses pacientes tinham que estar em um leito próprio, na sala amarela [local destinado para casos no qual o indivíduo é internado], mas não tem espaço, aí eles pegam e colocam essas pessoas para ficar na sala verde, que é de medicação. Já teve paciente ficando mais de três dias sentado na poltrona. Isso quando não mandam para o corredor”, denunciou.

Ainda de acordo com a funcionária, esses pacientes “extras”, que não ficam sequer em quartos, precisam de constante observação e cuidados. Porém, pela falta de pessoal, não é raro ver dez, ou mesmo 15 doentes sob o cuidado de uma só profissional, o que vai diretamente contra as orientações do Conselho Federal de Enfermagem, que sugere uma proporção de um enfermeiro para seis pacientes.

Outra técnica, que novamente preferiu não ter o nome divulgado, deixou claro que, além da superlotação, a própria gerência da UPA vem adotando uma série de medidas que dificultam e atrasam ainda mais o atendimento.

 

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Burocracia também atrapalha

O uso de cateteres, por exemplo, essencial para a aplicação de medicamentos, é de necessidade primordial no dia a dia da unidade. Porém, ela conta que, diferente de antigamente, os itens não mais estão disponíveis integralmente na sala de medicação – que, nesta epidemia de dengue, fica lotada “toda hora do dia”.

Assim, caso o profissional erre a veia – algo não tão incomum, por diversos motivos – teria de passar por uma enorme burocracia e, na falta de equipe, abandonar o paciente sozinho enquanto busca um novo.

“Nisso, já enrolou tudo, porque você tem que deixar o paciente sozinho, ir lá na farmácia, que é longe, abrir um novo pedido para mais um material, justificar o porquê e só aí voltar para a sala. Em qualquer hora do dia, é inviável fazer isso. Já tem gente do lado de fora esperando para entrar, como que você vai parar tudo o que tá fazendo para ir lá?”, questionou.

Ela ainda explicou que, no dia a dia hospitalar, é comum que os profissionais de deparem com situações como cateteres obstruídos, incompatibilidade no tamanho do material e com o paciente.

“Eu entendo que em outros hospitais da cidade possa acontecer assim, mas aqui é uma UPA, a gente não pode deixar o paciente sem ninguém ou ficar sobrecarregando nossos colegas sempre que tiver que trocar o cateter. A gente já tinha eles disponíveis aqui o tempo todo até pouco tempo, por que teve que mudar?”, questionou.

Sem respostas

Por fim, a profissional relatou que qualquer tentativa que os colegas apresentem em tentar se organizar para cobrar uma melhor qualidade no ambiente de trabalho, é encarada da mesma forma pela gerência.

“A gente tinha uma colega, até pouco tempo, que mandou mensagem no grupo, falando que a gente tinha de se unir, mesmo se fosse uma greve, porque não tem como trabalhar assim. No outro dia demitiram ela e já escoltaram para fora, para que ela não pudesse gravar nada”, relatou.

O Portal 6 entrou em contato com o Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), Organização de Saúde (OS) que administra a UPA. Em resposta, foi afirmado que apenas a Prefeitura poderia falar sobre o caso.

A administração municipal, porém, manteve-se em silêncio outra vez.

Davi Galvão

Davi Galvão

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás. Atua como repórter no Portal 6, com base em Anápolis, mas atento aos principais acontecimentos do cotidiano em todo o estado de Goiás. Produz reportagens que informam, orientam e traduzem os fatos que impactam diretamente a vida da população.

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