Ponte danificada da Avenida Ana Jacinta preocupa moradores e ambientalista explica que problema é “mais embaixo”
Maneira como os córregos se desenham, atravessando áreas de grande concentração de asfalto, carrega diversos fatores de risco
Passando por uma das pontes mais antigas de Anápolis, situada na Avenida Ana Jacinta -atrás da Rodoviária -um morador flagrou rachaduras que demonstram um possível desgaste da estrutura, acendendo um alerta de preocupação.
Isso porque, por trás desse sintoma estrutural, esconde-se um problema generalizado da cidade, já que a maneira como os córregos se desenham, atravessando áreas de grande concentração de asfalto, carrega diversos fatores de risco.
Foi o que explicou ao Portal 6 o ambientalista Antônio El Zayek. Ainda segundo ele, com os leitos canalizados e assoreados, a água escoa para fora do curso pretendido – e invade zonas urbanas.
“Acontece é que, à medida que a cidade foi se desenvolvendo, ela foi se impermeabilizando. Temos o conceito de escoar, e não de percolar, então a água não volta para o solo, mas sim para o leito dos rios, pelas galerias, gerando esse excesso”, explicou.
“Ano passado tivemos uma chuva de 80 mm, que nunca havia ocorrido nessa região antes. A ocupação da caixa dos córregos e rios, que é o entorno, o assoreamento, a própria canalização deles, e a perda da cobertura vegetal, são fatores que se unem e, quando a inversão térmica causa a precipitação sobre a zona urbana, a cidade não acomoda”, detalhou.
O especialista explicou também que a maioria das obras, como é o caso desta ponte e de diversas outras, que até caíram em 2023, o planejamento foi feito baseado em outra lógica. Desatualizadas, elas acabam fadadas à destruição, causada pelo aumento crescente do fluxo hídrico.
Alternativa
A situação percebida nas estruturas desgastadas, na realidade, indica um problema ainda maior que a queda de pontes, que também poderá ser causado pela má recepção das chuvas. A perda da água da cidade, que pode gerar crises hídricas no futuro, depende da recarga dos lençóis freáticos e do devido direcionamento das enxurradas.
Zayek ressaltou que a Saneago, companhia responsável pelo abastecimento de água em Goiás, conseguiu uma autorização para furar diversos poços pela cidade, com o intuito de aumentar a oferta de água. No entanto, frisou que tal ação será ineficaz se não for acompanhada por uma atuação sistematizada do poder público.
“A única possibilidade que nós temos é reabilitar a paisagem e o serviço ecossistêmico dela, que é o que a natureza faz, de receber a água de volta ao chão e quebrar o calor pela árvore. Existe solução e ela já foi aprovada em Anápolis, já está no Plano Diretor, só falta executar. Espero que nosso próximo governante tenha a sensatez de executar isso”, finalizou.
O que diz a Secretaria de Obras
Ao Portal 6 o diretor da Secretaria de Obras, Meio Ambiente e Serviços Urbanos de Anápolis, Albenzio Filho explicou que a Saneago teve que deslocar uma adutora para possibilitar a intervenção da prefeitura no conserto da ala de passagem.
Entretanto, segundo ele, a ponte não tem “problema nenhum”, apenas a ala que teria caído e fechado a passagem, sem danos estruturais. Já a calçada, quebrada pela erosão, será recuperada.