Mar Mediterrâneo bate recorde de temperatura da água
Este foi o segundo verão consecutivo com novos picos de calor na região
GIULIANA MIRANDA
Informações preliminares do observatório Copernicus, da União Europeia, indicam que o mar Mediterrâneo bateu seu recorde de calor na última quinta-feira (15), com temperatura média na superfície da água de 28,56°C e mediana (valor central do conjunto de dados) de 28,90°C.
Este foi o segundo verão consecutivo com novos picos de calor na região. Medições do começo da semana já indicavam que as águas tinham igualado as temperaturas do recorde anterior, de 24 de julho de 2023, que teve média diária de 28,40°C e mediana de 28,71°C.
A informação foi revelada por Justino Martinez, pesquisador do Instituto de Ciências do Mar em Barcelona, na Espanha, em entrevista à agência AFP.
“A temperatura máxima em 15 de agosto foi atingida na costa egípcia, em El-Arish (31,96°C)”, explicou o cientista. Martinez destacou, no entanto, que o valor identificado “deve ser tomado com cautela” antes de mais verificações humanas.
Informações do Copernicus e também de outros bancos de dados, contudo, já vinham indicando o aquecimento do Mediterrâneo nos último mês, em um momento em que vários pontos do sul da Europa enfrentaram ondas de calor.
Na Grécia, as altas temperaturas facilitaram a disseminação de uma série de incêndios florestais, inclusive nas imediações da capital, Atenas, com milhares de pessoas sendo evacuadas.
Nos últimos dois verões do hemisfério Norte, o Mediterrâneo tem ficado mais quente do que durante a grande onda de calor ocorrida em 2003.
Na avaliação do pesquisador do Instituto de Ciências do Mar em Barcelona, a manutenção de altas temperaturas por períodos extensos na região do Mediterrâneo também chama a atenção.
“O que é notável não é tanto atingir um máximo em um determinado dia, mas observar um longo período de altas temperaturas, mesmo sem quebrar um recorde”, disse Martinez.
O aquecimento, porém, não está restrito às águas mediterrânicas. Em vários pontos do globo, o mar vem registrando temperaturas cada vez mais elevadas.
Declarado por vários institutos de pesquisa como o ano mais quente da história da humanidade, 2023 também foi marcado por um aumento sem precedentes das ondas de calor marinhas.
Dados da OMM (Organização Meteorológica Mundial) indicam que, no ano passado, as ondas de calor marinha tiveram uma cobertura média de 32% dos oceanos. No recorde anterior, em 2016, o valor era de 23%.
O fenômeno foi tão forte em 2023 que os cientistas decidiram classificá-lo, em um artigo publicado no último mês de julho, como “superondas de calor marinho”, que ocorreram em vários pontos do globo, incluindo no Ártico.
Os oceanos cobrem 70% da superfície da Terra e têm relação direta com vários sistemas climáticos no planeta. É o caso das tempestades. As águas mais quentes dão mais “combustível” a elas, favorecendo, por exemplo, a intensificação rápida de furacões.
O aquecimento dos oceanos também prejudica a vida marinha. As ondas de calor nas águas têm grande influência no processo de branqueamento de corais, ecossistemas essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas.
As consequências vão além do estresse térmico. Os cientistas estimam que entre 25% e 30% das emissões de gases de efeito estufa sejam absorvidas pelo oceano. A interação do dióxido de carbono favorece a acidificação, que também compromete os ecossistemas marinhos.
Na semana passada, o observatório Copernicus indicou que 2024 se encaminha para destronar 2023 como recordista de calor no planeta. O último mês de julho foi analisado pelos europeus como o segundo mais quente da história, atrás por apenas 0,04°C do primeiro colocado, julho de 2023.
O mês passado registrou também os dois dias mais quentes da história recente da Terra. No dia 22, a média foi 17,16°C , enquanto, no dia 23, foi de 17,15°C.
“A anomalia média para os meses restantes deste ano precisaria cair pelo menos 0,23°C para que 2024 não seja mais quente que 2023. Isso raramente aconteceu em todo o conjunto de dados ERA5 [do Copernicus], tornando cada vez mais provável que 2024 seja o ano mais quente já registrado”, disse o observatório, em nota.