Deputada federal Marussa Boldrin denuncia histórico de agressões do ex-marido: “pesadelos diários”

Parlamentar denunciou violências vividas durante casamento por meio de uma carta aberta publicada nas redes sociais

Thiago Alonso Thiago Alonso -
Deputada federal Marussa Boldrin denuncia histórico de agressões do ex-marido: “pesadelos diários”
Deputada Marussa Boldrin. (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Por meio de uma carta aberta, a deputada federal Marussa Boldrin (MDB-GO) denunciou ter sido vítima de violência doméstica praticada pelo ex-marido, Sinomar Júnior, ex-superintendente na Secretaria de Esporte e Lazer de Goiás.

No texto, publicado nas redes sociais nesta segunda-feira (28), a parlamentar relatou ter convivido com agressões físicas, violência psicológica e moral durante os anos em que foi casada com o também advogado.

“Eu estive em um relacionamento abusivo. […] Durante anos, fui silenciada dentro da minha própria casa. Fui desvalorizada, desacreditada, diminuída como mulher, como mãe e como profissional”, diz a carta, intitulada “Por todas as mulheres que já silenciaram sua dor”.

Segundo Marussa, o ex-marido a agrediu fisicamente duas vezes — a primeira em 2023 e uma segunda, “com mais intensidade”, em 2025, quando ela decidiu denunciar o caso em uma delegacia.

Conforme apurado pelo Portal 6, este último caso de agressão foi registrado em uma unidade policial de Rio Verde, onde o casal morava.

No texto, a deputada relembra os momentos de dor que sofreu, com agressões que vão além do físico, expondo episódios de desvalorização pessoal, sabotagem profissional e ofensas verbais.

Apesar disso, Marussa tentou conviver com as dores, as quais ela afirmou acreditar conseguir “suportar em silêncio”, devido aos filhos do casal.

“Me agarrei à falsa esperança de que o amor pudesse curar o que, na verdade, era abuso”, disse.

Ex-marido de Marussa Boldrin, Sidomar Junior. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Dentre os relatos divulgados pela política estão situações em que ele a desmoralizava como profissional, desacreditando de campanhas e até mesmo deixando de comparecer à cerimônia de posse da esposa, no momento, vereadora em Rio Verde.

“Quando decidi avançar na política almejando um cargo maior, ele se reaproximou – não por mim, mas pelo interesse no que eu representava”, pontuou.

Outra memória exposta pela deputada foi quando, amamentando, Sidomar disse “sentir nojo do leite”, proferindo ameaças e xingamentos, em um relacionamento na qual ela disse ser de conhecimento da família como “abusivo”.

“Finalmente resolvi falar. Tive coragem de procurar a delegacia, de fazer o boletim de ocorrência, o corpo de delito, e pedir uma medida protetiva. Porque não cabe amor onde existe violência”, finalizou.

Conforme divulgado na carta, Marussa conseguiu efetuar o divórcio perante a Justiça e, por conseguir comprovar as violências, conseguiu manter guarda dos dois filhos do casal.

“A justiça já conhece a minha verdade, e sei que para uma pessoa que só conhece a agressão, falta a ele tentar agredir minha imagem de maneira pública. Vão usar desse infeliz episódio como uma manobra política para tentar abafar os abusos que vivi em troca de desgaste de imagem e eu não vou aceitar isso”, escreveu a deputada.

O Portal 6 tentou entrar em contato com o empresário, advogado e ex-superintendente na Secretaria de Esporte e Lazer de Goiás, Sidomar Junior, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta matéria. Deixamos o espaço aberto.

Leia a carta na íntegra:

CARTA ABERTA
Por todas as mulheres que já silenciaram sua dor

Eu estive em um relacionamento abusivo. Dizer isso em voz alta já é, por si só, um ato de coragem. Durante anos, fui silenciada dentro da minha própria casa. Fui desvalorizada, desacreditada, diminuída como mulher, como mãe e como profissional. E, por muito tempo, acreditei que suportar em silêncio era o caminho. Hoje, sei que não era.

Me casei acreditando no amor, acreditando na parceria. Tínhamos uma filha a caminho, uma vida inteira pela frente e muitos sonhos a serem vividos. Mas, logo após o nascimento da minha primeira filha, o homem que havia jurado cuidar de mim se afastou, emocional e fisicamente, e as agressões psicológicas começaram. Eu tentava compreender, tentava reconectar, insistia no que já não existia. Não casei para separar – repeti isso tantas vezes para mim mesma.

Insisti, mesmo quando ele passou a me ferir com palavras. Quando dizia que meu trabalho não prestava, que eu era incompetente. Quando desdenhava do meu mandato, usando até mesmo palavras de baixo calão. Quando dizia sentir nojo do meu leite enquanto eu amamentava. Ainda assim, eu me calava. Por medo, por vergonha, por acreditar que tudo ia mudar. Eu me calei. E me arrependo profundamente de ter silenciado a minha voz.

Enquanto eu lutava na vida pública, ele me sabotava na vida privada. Nunca me apoiou com sinceridade, apenas por conveniência. Nem mesmo compareceu à minha posse de reeleição como vereadora. Eu seguia tentando. Mesmo depois de descobrir uma traição, em que a outra pessoa chegou a me mandar mensagem expondo o relacionamento entre eles, tentei reconstruir. Engravidei do segundo filho mais uma vez tentando corrigir a rota do abuso com amor. Ao invés da relação dar sinais de melhora, os abusos se transformaram em pesadelos diários e a pressão psicológica e moral passaram a ser regra dentro de um lar que deveria ser um porto seguro.

Fui xingada, maltratada, ameaçada e humilhada criando, infelizmente, uma rotina de sofrimento. Me agarrei à falsa esperança de que o amor pudesse curar o que, na verdade, era abuso. Mas não há cura quando não há respeito. Não há reconstrução possível onde há destruição emocional diária.

A distância entre nós passou a ser questão de segurança para mim e quando decidi avançar na política almejando um cargo maior, ele se reaproximou – não por mim, mas pelo interesse no que eu representava.

E, mais uma vez, me iludi acreditando que a prestatividade dele era real, mas o tempo provou que eu estava errada. Ele continuou a me machucar psicologicamente e a me humilhar moralmente. E, em 2023, ultrapassou todos os limites: me agrediu fisicamente pela primeira vez. Eu tive medo. Tive vergonha e optei por não contar nem para minha família, que já havia entendido o relacionamento abusivo em que eu estava.

Pensando em proteger nossos filhos do trauma de um divórcio e com medo de expor minha vida em público, decidi seguir com medo.

Nos últimos tempos, minha vida ganhou intensidade. Me dividi entre Brasília e meus filhos, entre compromissos e a maternidade. Direcionei todo meu amor para meus pequenos. Sempre fui mãe, mesmo sob ameaças. Mesmo ouvindo gritos e ofensas e sofrendo agressões. Passamos a coexistir no mesmo ambiente, dividindo apenas o mesmo teto. Eu estava sozinha, buscando forças para sair de um relacionamento que nunca deveria ter sido construído. Em 2025 resolvi seguir com minha vida para tentar voltar a ter paz, ele reagiu com ódio e me espancou pela segunda vez, agora com mais intensidade. E finalmente resolvi falar. Tive coragem de procurar a delegacia, de fazer o boletim de ocorrência, o corpo de delito, e pedir uma medida protetiva. Porque não cabe amor onde existe violência.

Eu sobrevivi.

Busquei em Deus a força e a coragem que eu precisava, e agora, finalmente, eu falei. Falei por mim e por todas as mulheres que sofrem em silêncio. Falei porque quero viver feliz, e a felicidade só é possível com paz. Tomei meu primeiro passo para romper de vez esse ciclo. Meu divórcio já foi consumado pela justiça que entendeu os abusos que vivi e me garantiu a guarda dos meus filhos.

A justiça já conhece a minha verdade, e sei que para uma pessoa que só conhece a agressão, falta a ele tentar agredir minha imagem de maneira pública. Vão usar desse infeliz episódio como uma manobra política para tentar abafar os abusos que vivi em troca de desgaste de imagem e eu não vou aceitar isso.

Eu vou resistir assim como eu já resisti aos abusos morais e físicos. Eu sei que tenho a verdade ao meu lado — e mais: tenho minha história, meu trabalho limpo e o apoio de quem sempre me viu com respeito.

Não quero mais carregar essa dor calada. Não quero mais fingir que está tudo bem. Não aceito mais ser abusada, nem física, nem moral, nem psicologicamente. E se você, mulher, estiver lendo isso e vivendo algo parecido, saiba: você não está sozinha. Não tenha medo de denunciar, de pedir ajuda, de buscar sua liberdade.

Hoje, eu começo a escrever um novo capítulo da minha vida. Um capítulo de cura, de força, de dignidade.

Por mim. Pelos meus filhos. Por todas nós.

Marussa

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