Pedagogia da frustração

Carlos Henrique Carlos Henrique -

Vivemos num tempo onde as pessoas estão preparadas pra tudo, menos para lidar com suas frustrações. Preparadas segundo suas habilidades e competência, mas despreparadas para seu caminho existencial. O Google é um amigo pra muitos, onde se acha fácil as respostas pra tantas perguntas e o desembaraço em se encontrar as dicas de como fazer uma infinidade de coisas, mas para ensinar a viver, somente no chão da existência e as experiências sobre a fragilidade que é a matéria da vida.

Tantos adultos infantilizados não aceitam o fato de que a vida é uma construção, que nos convida sempre a amadurecer e não a conseguir nosso espaço a cotoveladas, birras e gritos. A felicidade não vem a galope até nós como um direito de herança e sim como uma forma de caminhar e compreender a vida. Alguns sentem que a vida está em constante débito com eles, de fato trilham frustrados e magoados com tudo e todos.

Uma das premissas básicas e de suma importância está em compreender que a frustração e o esforço em se manter com a mente e o coração saudáveis é parte inerente ao processo de amadurecimento e pedagógico em nosso viver, sem os quais teremos cada vez mais adultos idiotizados e mimados, desprovidos de inteligência emocional, sem condições alguma de confrontar seus limites e suas capacidades individuais. Sim, de fato nosso olhar no caminho existencial nos converte primeiro a vencer os obstáculos internos e as ilusões de que temos o direito a uma felicidade fictícia criados por nós mesmos no nosso script de vida.

As oportunidades que nos confrontam dia após dias como frustração, serão delas as melhores pedagogias para o aprendizado de existir – e as respostas para as frustrações virão quando decidirmos absorver e amadurecer a despeito das dores que nos são causadas. Se tivermos boa vontade, disposição e desejo em desenvolver, então encontraremos o baú para as respostas mais íntimas de nosso ser. O que vai importar realmente é em quem nos tornaremos, se vamos melhorar ou piorar quanto ser humano, se conseguiremos manter um sorriso verdadeiro e um coração grato, ou se sustentaremos um sorriso amarelo e um coração revoltado que destila ódio, raiva e frustração amargurada em todos ao redor, dando oportunidade e um solo fértil pra uma semente chamada inveja brotar, criando raízes onde deveria ser jardim bem arado e florido.

Se teimamos e resistimos ao processo dolorido de crescimento, nos tornamos mais infantis e indispostos às mudanças necessárias, não há válvulas de escape pois só conseguiremos dar conta das demandas da vida quando vencemos a nós mesmos e nossa relutância em modificar, em triunfar sobre nossas paralisias emocionais, vencer a maldade e os enganos cultivados em nossos corações, e principalmente as transferências de responsabilidades das nossas escolhas.

Ninguém nasce sabendo que viver é aceitar as limitações e muitos “nãos” da vida, e que ninguém conseguirá sempre o que quer. Por isso a necessidade de crescer amadurecendo nosso ser sem emburramentos e deslumbramentos de idealizações inalcançáveis. Uma coisa é a pessoa simular essa felicidade total e em todo o tempo, outra completamente diferente é a vida em si.Abrir mão da realidade desejando uma vida que as redes sociais pregam através de seus amigos, gurus espirituais, frases formatadas, fará com que você se sinta fora de contexto, extremamente decepcionado e um adulto que chegará aos 80 anos sendo a frustração em pessoa. Ninguém chega a essa vida pra ser bajulado, se ainda não encontrou seu chamado pra existência dê uma oportunidade a si mesmo e cresça. O x da questão é que muitos não admitem mais ouvir, pois implica em reconhecer equívocos e rever escolhas, então é mais fácil se entupir de remédios do que dispor a se enxergar e transformar renovando seus pensamentos e conceitos.

Revoltar, choramingar, reclamar, transferir ao outro e culpá-lo por suas frustrações não mudará sua vertente nem sua “sorte”. É melhor assumir a direção e encarar que a vida é cheia de pormenores que exigem de nós silêncio e compreensão para impulsos para vôos mais altos, tornando saudável pra nossa alma e nos livrando do estigma da eterna vida injustiçada.

Deniza L. Zucchetti é escritora nas horas vagas e mãe em período integral. Escreve todas as segundas-feiras.

 

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