Sobre Prometeu acorrentado e Aécio Neves
"Sentença contra Aécio exigiria a queda de outras colunas que dão sustentabilidade à corrupção, ao escárnio e à deteriorização da política nacional"
A humanidade havia sido criada, mas os deuses do Olimpo temiam que os homens pudessem, de algum modo, se assemelharem a eles. Prometeu, grande amigo de Zeus, o todo poderoso, amava os homens e os protegia sempre. Zeus, por vezes, sentia ciúmes de seu amigo e procurava controlar a bondade de Prometeu em relação aos mortais. Apesar de permiti-lo se aproximar da humanidade, Zeus proibiu que o homem tivesse acesso ao fogo, elemento exclusivo do Olimpo.
Todavia, Prometeu sabia que o fogo seria um instrumento essencial para a evolução da vida humana. Ele conhecia os poderes e benefícios deste elemento; ele sabia que a vida na terra ganharia possibilidades de avanço se o homem possuísse o fogo do Olimpo. Portanto, Prometeu resolveu contrariar os deuses e roubou o fogo dos céus entregando-o aos homens. Zeus ficou enfurecido com o Titã e o condenou a viver eternamente acorrentado a uma rocha, no alto de um penhasco. Em adição à sentença, ordenou que uma águia visitasse Prometeu diariamente para lhe comer o fígado, que era regenerado todos os dias para a perpetuidade da condenação.
Na última terça-feira, dia 17 de outubro, o senado votou o pedido de afastamento do senador Aécio Neves feito pelo STF. Aécio foi denunciado pela Procuradoria Geral da República pelos crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa, além da acusação de atuar em conjunto com o presidente Michel Temer para impedir o andamento da Lava Jato. Não diferente do Olimpo, no Brasil se condena os defensores do povo e se condecora os opressores.
Por essa razão, o senador Aécio Neves recebeu o resultado da votação com tranquilidade; estava certo de que receberia seus louros de glória. Os deuses peemedebistas e tucanos aliançaram-se para pisotearem a supremacia do Supremo. Os 44 votos rejeitando o afastamento de Aécio Neves contra os 26 de sensatez fizeram uma festa bacante no senado federal; sorrisos, aplausos, apertos de mão e a certeza de que o fogo do poder não lhe sairá das mãos.
Caso o referido senador se posicionasse contra a restrição do fogo ao Olimpo e lutasse por investimento à Educação, à saúde e à segurança pública, certamente, teríamos visto sua condenação. Todavia, a sentença contra Aécio exigiria a queda de outras colunas que dão sustentabilidade à corrupção, ao escárnio e à deteriorização da política nacional. Que esses últimos acontecimentos sirvam para despertar Prometeu em nós – é tempo de restabelecermos o estado democrático brasileiro retirando o fogo do poder das mãos destes tantos que se acham os deuses e donos do Brasil.
Daniel Soares é pastor na Igreja Videira, professor do IFG Inhumas e doutor em Educação pela PUC Goiás. Escreve todas as quintas-feiras