Detalhe chocante sobre obra da Câmara de Anápolis e uma decisão difícil que custará quase R$ 13 milhões

Gravidade do caso já fez a Justiça bloquear bens de dois ex-prefeitos da cidade, mas ambos se esquivam de responsabilidade direta

Danilo Boaventura Danilo Boaventura -
Prédio abandonado da Câmara Municipal. (Foto: Reprodução)

Formada para estudar a situação da faraônica obra da Câmara Municipal de Anápolis, a comissão técnica da Prefeitura Municipal apresentou na tarde desta terça-feira (09), no Centro Administrativo, um panorama dos erros de projeto, execução e viabilidade para a retomada do novo prédio do legislativo local.

Diante de praticamente toda a imprensa goiana foi mostrado que o problema principal está no solo e local do empreendimento, que é extremamente úmido e suscetível a alagamentos.

A insistência por uma construção desse porte no terreno, conforme apontou engenheiros e arquitetos que compuseram a comissão, foi equivocada. No entanto, o que deixou repórteres e os demais presentes boquiabertos foi o fato desse risco ter sido apontado lá atrás, em 2013, ano em que a decisão para o início das obras foi tomada e a construção colocada em prática.

Não bastasse o terreno já ser encharcado de água, ainda foi construído um andar no subsolo, deixando toda a sustentação da estrutura comprometida.

(Imagem capturada do laudo técnico)

A insistência por fazer a obra no local, e criar mais um “cartão postal” no Centro de Anápolis, custou caro. Dos R$ 17,1 milhões orçados, metade deste valor já foi pago à construtura Albenge Engenharia. Mais dinheiro teria sido gasto numa obra condenada a ruir não fosse a pressão de órgãos como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (CREA-GO), Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO) e Ministério Público Estadual (MPGO).

A paralisação total dos trabalhos ocorreu no final do primeiro semestre de 2016, às véspera do período eleitoral, a base de muito contragosto e constrangimento para vereadores e a gestão petista, na época com João Gomes à frente da Prefeitura.

“Como gestor apenas dei continuidade a uma obra que já estava licitada, contratada e com o projeto concluído, tudo feito em comum acordo entre a Prefeitura de Anápolis e a Câmara Municipal, antes da minha posse como prefeito da cidade”, se defendeu o ex-prefeito na oportunidade em que a Justiça lhe bloqueou os bens. atendendo a uma reivindicação do Ministério Público para indenização aos cofres públicos.

Antônio Gomide (PT), o antecessor a quem João Gomes insinuou ser o responsável pela obra, também foi implicado na mesma ação.

https://portal6.com.br/2018/04/18/antonio-gomide-joao-gomes-e-ex-secretarios-de-obras-tem-bens-bloqueados-pela-justica/

O petista, recentemente eleito deputado estadual com a maior votação na cidade, se defendeu jogando a culpa em João Gomes.

“[Na] época da ordem de serviço para o início da obra da Câmara eu não era mais prefeito da nossa cidade”, afirmou em nota ao Portal 6.

Retomada das obras

A comissão concluiu que a retomada da obra é sim possível, mas arriscada. Insistir no erro e continuar construindo o novo prédio da Câmara Municipal no mesmo local custará, conforme os técnicos, mais R$ 12,7 milhões e uma completa readequação que descaracteriza o desenho original.

Todo o trabalho duraria mais de 23 meses para ser concluído, não considerando possíveis paralisações por parte da Justiça ou pela empresa a ser contratada.

O antigo Palácio Santana, um espaço exíguo que funciona em condições precárias com recorrentes inundações, também teria de ser totalmente demolido para abrigar um ‘aterro’ de dreno da água. Pelo projeto original, esse prédio seria mantido.

A difícil decisão pela manutenção da obra no mesmo local, conforme apontou os técnicos, terá de ser tomada pelo atual prefeito Roberto Naves (PTB), que durante a manhã do dia de ontem (09) se reuniu com os vereadores para apresentar a situação.

Os edis já assinalam a “vontade” de “discutir muito” com a população. Querem realizar audiências públicas para saberem o que fazer.

Alguns, mais prudentes, já começam a defender nos bastidores a completa demolição da obra atual e a construção do prédio em uma área realmente adequada, de preferência bem longe do Centro da cidade.

“É até melhor, porque aí não fica indo aquela gente chata para atrapalhar as sessões”, disse um deles em anonimato.

“Se essa for a deliberação, os quase R$ 10 milhões já gastos também virarão pó e vai destruir a estatura política de muita gente”, sentenciou.

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