Bolsonaro venceu, mas qual o futuro político de Ciro, Amoêdo, Alckmin e Marina?

Passada a prova de fogo que foi essa eleição é hora de juntar as cinzas

Carlos Henrique Carlos Henrique -

Uns soltam foguetes na Praça Dom Emanuel. Outros sentem estar passando um período de luto. A polarização é esse loop mesmo. Pessoas rindo dos que choram de raiva dos que riem.

Apoio crítico. Voto crítico. Aprendemos nesse mês a expressão que significa mais ou menos “eu escolhi você porque você é o que sobrou. Mas se tivesse como, não estaria aqui”.

Dentre os opositores, Ciro Gomes foi aquele que mais saiu “fortalecido” para 2022 – e sim, isso já é realidade na mente dele. Desde 2016 vinha preparando terreno: palestrava em universidades e eventos diversos. Ganhou militância virtual. Mas por trás das cortinas o mesmo Ciro tinha duas posturas: longe dos petistas, fazia críticas pontuais a Lula. Perto deles, concedia palavras de apoio. A realidade é que a candidatura de Ciro foi fortemente isolada pelos petistas que o enxergam como um rival dentro do mesmo campo ideológico. Tal fato o fez terminar a disputa declarando “nunca mais apoiar o PT na vida” e, assim, cair temporariamente no desgosto de muitos que fizeram “voto útil” nele.

O segundo lugar da corrida foi João Amoêdo. Um vencedor moral não por pontuação, mas pelo jogo em si. Obter 2,6 milhões de votos sem participar de nenhum debate televisivo e com quatro segundos de propaganda indica que a proposta do Novo é agradável para os olhares de muitos, mesmo ainda sejam uma parcela tão pequena quanto a elite econômica brasileira. Dito isso, vale lembrar que embora Novo não tenha apoiado Bolsonaro formalmente, o approach que alguns partidários fizeram também decepcionou muita gente que enxergava o partido como uma “oposição à direta”.

Os grandes derrotados dessa eleição foram Alckmin, primeiramente, e depois Marina. Alckmin teve o maior tombo porque teve o maior apoio. Vinha de partido grande, era ex-governador do maior estado do país, tinha um imenso tempo de TV e apoio formalizado do centrão. Tudo isso para resultar em 4,76% das intenções de voto.

Marina já chegou na corrida com considerável rejeição: a pecha de “fraca”, “ausente” e “indecisa” transformou seus 22 milhões de votos em 2014 nos atuais míseros 1%. Marina está intacta no Rede, porém, morreu para os brasileiros. Vale lembrar que a ambientalista ganhou um ponto. A tão requisitada “autocrítica” do PT é uma narrativa de autoria dela e que ganhou seguidores. De agora em diante, por onde o PT andar, as pessoas vão pedir que o partido se avalie antes de rotular os outros.

‪Resta Haddad. Candidato dos 45 do segundo tempo, ainda não é herdeiro da força política de Lula e pode até ter Guilherme Boulos como futuro – mas improvável – rival nesse sentido. Haddad literalmente sobrou. Seu perfil é muito mais ministerial do que linha de frente e ele não será uma voz marcante para a esquerda nos próximos quatro anos.

Já ouvi gente estudada e influente sugerindo que os derrotados deveriam se unir para criar uma oposição fortificada. Mas que dia isso vai acontecer?

Amoêdo quer continuar sendo outsider, Alckmin está vendido pra um centrão sem apoio popular, Ciro é um dos que já chamou Marina de fraca, Marina detesta a prática política petista e o PT, por sua vez, não aceita ocupar nenhum outro lugar que não seja o topo do poder novamente.

Thales Moura é formado em Direito e mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás

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