Terceira dose de Coronavac aumenta resposta imune, sugerem estudos na China

Uma terceira dose do imunizante é segura e não produz efeitos adversos graves quando aplicada entre seis a oito meses após a segunda dose

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(Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

Ana Bottallo, de SP – A taxa de anticorpos neutralizantes, capazes de bloquear a entrada do vírus Sars-CoV-2 nas células, induzida com a vacinação pode aumentar de três a cinco vezes após uma terceira dose da Coronavac em indivíduos de 18 a 59 anos.

Uma terceira dose do imunizante é segura e não produz efeitos adversos graves quando aplicada entre seis a oito meses após a segunda dose.

Já nas pessoas com 60 anos ou mais, uma terceira dose dada após oito meses ou mais pode elevar o nível de anticorpos produzidos com as duas doses da vacina em até sete vezes.

Esses são os resultados de dois estudos conduzidos na China pela fabricante da Coronavac, a Sinovac, e divulgados na plataforma edrxiv na forma de pré-prints (sem revisão por pares).

O primeiro consiste em um estudo de fase 2 randomizado, controlado e duplo-cego, com 540 pessoas de 18 a 59 anos que receberam três doses do imunizante e mais 30 que receberam placebo (inócua para o organismo). Os participantes foram divididos em quatro grupos, dois dos quais receberam duas doses e dois que receberam a terceira dose. Um grupo recebeu a dose reforço 28 dias após a segunda dose, enquanto o outro recebeu seis meses após a vacinação com apenas duas doses.

As taxas de anticorpos específicos contra o coronavírus em circulação no sangue foram medidas no dia inicial do estudo, no 28º dia após a primeira dose, e, depois, em intervalos de 14 ou 28 dias após a segunda dose, e 14 ou 28 dias após a terceira dose.

Nos primeiros seis meses após a segunda dose, o nível de anticorpos, segundo os autores, já apresentou uma queda considerável, chegando próximo do limiar de corte para a chamada seroconversão (presença de anticorpos no sangue específicos contra o Sars-CoV-2). Com a terceira dose, no entanto, essa taxa apresentou um aumento de três a cinco vezes.

Já o segundo estudo, combinado de fases 1 e 2, também controlado, randomizado e duplo-cego, avaliou 303 pessoas com mais de 60 anos. Os participantes foram divididos em três grupos para receber uma terceira dose mais baixa (3µg), mais alta (6µg) ou uma substância placebo oito meses ou mais após a segunda dose.

Nesse caso, os resultados vieram depois de apenas sete dias após a dose reforço, quando os níveis de anticorpos no sangue dos participantes aumentaram até sete vezes. Essa resposta mais rápida pode ter sido, em parte, impulsionada pelo fato de que, seis meses após a vacinação, é natural o processo conhecido como decaimento de anticorpos no sangue, especialmente em indivíduos mais idosos (fenômeno conhecido como imunoscenecência).

Assim, embora um esquema vacinal de duas doses represente uma boa resposta imunológica, uma dose adicional pode dar um “empurrãozinho” na memória imunológica, ajudando o organismo a voltar a produzir os anticorpos específicos contra o coronavírus.

A terceira dose da vacina também se mostrou segura nos indivíduos mais idosos.

Os autores reforçam, porém que nos dois estudos foram avaliados apenas níveis de anticorpos do tipo neutralizante, que é um, mas não o único, tipo de proteção contra o vírus.

“Como foi visto em pacientes com Covid-19 e em outros estudos de vacinas, células de memória do tipo B [responsáveis por produzir anticorpos] específicas contra a proteína S do Sars-CoV-2 [também chamada de espícula, uma espécie de gancho usado pelo vírus para entrar nas células] foram mais abundantes seis meses após a vacinação do que apenas um mês depois do início dos sintomas, mostrando uma boa capacidade [das vacinas] de induzir resposta imunológica”, disseram os autores no estudo.

Além disso, outras células, como os chamados linfócitos T, podem também ter um papel importante na resposta imune, especialmente na proteção contra o agravamento do quadro e contra hospitalizações e mortes.

Um estudo de efetividade (eficácia na vida real) com duas doses da Coronavac no Chile apontou para uma queda de 65% nos casos sintomáticos da doença, 86% nas mortes, 88% nas hospitalizações e mais de 90% nas internações em Unidades de Terapia Intensiva.

O Instituto Butantan afirmou que os achados são importantes por reafirmarem a eficácia da Coronavac na proteção contra a Covid-19 em um esquema vacinal de duas doses, e que essa proteção é aumentada com uma dose reforço.

No final de julho, o governo de São Paulo afirmou que um novo ciclo de vacinação contra o coronavírus vai se iniciar no dia 17 de janeiro de 2022 no estado. Para o secretário da Saúde do estado, Jean Gorinchteyn, esse novo ciclo não é uma terceira dose.

“Isto não é um reforço. Isto é uma necessidade que temos de estar sempre, anualmente, fazendo uma proteção. Nós chamamos de reforço vacinal quando usamos uma terceira ou quarta dose”, disse, em uma entrevista no Palácio dos Bandeirantes, na zona oeste da capital paulsita, na ocasião.

Segundo o diretor do Butantan, Dimas Covas, os estudos mostraram o que os especialistas já sabiam. “O perfil de segurança se manteve o mesmo e a resposta foi multiplicada de três a cinco vezes após uma dose reforço na população adulta, e de até sete vezes nos mais velhos. Isso não quer dizer que está sendo proposta uma dose reforço; isso depende de outros fatores, inclusive da circulação de novas variantes, mas são estudos importantes”, afirmou ele durante entrevista coletiva desta quarta-feira (11) no Palácio dos Bandeirantes.

Já o Ministério da Saúde anunciou que encomendou um estudo para a avaliar a necessidade de uma terceira dose em pessoas que receberam a Coronavac.

A pesquisa, que será encabeçada pela Universidade de Oxford, irá testar uma nova dose da Coronavac em participantes que já receberam as duas doses, além de avaliar também uma dose reforço das outras três vacinas aprovadas no país: AstraZeneca, Janssen e Pfizer.

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