Human Rights Watch condena ‘tratamento desigual’ a estrangeiros que fogem da Ucrânia

Em relatos, afirmam terem sido empurrados para fora de trens e ônibus

Folhapress Folhapress -
Human Rights Watch condena ‘tratamento desigual’ a estrangeiros que fogem da Ucrânia
Mais de 660 mil pessoas já deixaram a Ucrânia, afirma ONU (Foto: Reprodução Twitter)

FLÁVIA MANTOVANI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A organização internacional Human Rights Watch (HRW) divulgou um comunicado sexta-feira (4) afirmando que estrangeiros que vivem na Ucrânia enfrentam “tratamento desigual” enquanto tentam fugir da guerra ao lado de centenas de milhares de ucranianos.

Segundo a entidade, entrevistas feitas com mais de 30 imigrantes, muitos dos quais estudantes internacionais, revelam “um padrão de serem bloqueados ou atrasados em seu embarque em ônibus e trens, aparentemente para priorizar a retirada de mulheres e crianças ucranianas”.

Homens ucranianos de 18 a 60 anos estão sujeitos a recrutamento e não podem deixar o país.

A fuga do conflito é angustiante para todos, e todos devem ser autorizados a sair, não importa de onde venham, defendeu Judith Sunderland, porta-voz da HRW. “As autoridades ucranianas não devem discriminar com base na nacionalidade ou raça, e os países vizinhos devem permitir a entrada de todos com o mínimo de burocracia”, declarou.

De acordo com o relatório, autoridades ucranianas disseram estar cientes do problema e estão tomando medidas para garantir que os estrangeiros possam deixar o país. No último dia 2, o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, anunciou no Twitter que o governo ucraniano estabeleceu uma linha direta para estudantes estrangeiros que desejam deixar a Ucrânia.

Mais de 80 mil estudantes internacionais estavam no país em 2020, a maioria vindos de Índia, Marrocos, Azerbaijão, Turcomenistão e Nigéria, segundo dados do governo.

Nos relatos colhidos por telefone pela HRW, estrangeiros que estavam na fronteira com a Polônia e na cidade ucraniana de Lviv afirmam terem sido empurrados para fora de trens e ônibus.

Uma jovem com cidadania americana e de Serra Leoa disse que o motorista de um ônibus comercial queria que todos os negros descessem do veículo quando se aproximaram da fronteira com a Polônia e que só conseguiram ficar porque eles e passageiros ucranianos protestaram.

Um estudante de medicina indiano relatou que o grupo em que ele estava passou 12 horas esperando para conseguir entrar em um trem na cidade de Dnipro após policiais dizerem que estrangeiros só poderiam embarcar à noite.

A União Africana e representantes dos governos da Nigéria e da Índia, entre outros, manifestaram publicamente preocupação com os relatos.

Um porta-voz do Serviço de Guarda de Fronteira da Ucrânia disse à Human Rights Watch que as alegações de tratamento injusto “não correspondem à verdade”, que os guardas de fronteira ucranianos “não veem a nacionalidade ou a cor dos passaportes” e que cidadãos de países estrangeiros “tentaram avançar e receber tratamento prioritário”.

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