A transição para os veículos elétricos é inevitável e precisa ser acelerada
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De tempos em tempos somos lembrados pelo bolso que precisamos reduzir urgentemente nossa dependência dos combustíveis fósseis, mas esse alerta tem sido excepcionalmente constante nos últimos anos, com a escalada dos preços da gasolina motivada por diversos fatores globais e internos. O deplorável ataque da Rússia à Ucrânia é somente o último deles, mas tem um potencial muito nocivo num momento de demanda aquecida.
O governo federal deve anunciar esta semana mudanças na política de preços dos combustíveis, possivelmente fazendo com que a Petrobras, na prática, absorva parte dos aumentos que inevitavelmente virão. Só que essa solução, além de controversa (embora necessária diante do momento atípico), não é uma resposta para um problema estrutural que perdura décadas. Precisamos também dar o passo seguinte rumo a uma nova matriz energética, com energia limpa e renovável.
Até agora, nem todas essas pressões e oscilações do mercado do petróleo e as consequências das mudanças climáticas fizeram com que o Brasil adotasse nos últimos anos uma política mais agressiva de estímulos para aumentar nossa frota de veículos elétricos. Não se trata somente de reduzir tributos de importação e facilitar o acesso de uma parcela mais abastada da população a essa tecnologia automotiva. Mais do que isto: precisamos adotar mecanismos para nacionalizar a fabricação desses modelos de veículos, visando muito mais que reduzir custos, mas buscando uma transferência tecnológica radical para nosso parque industrial e, assim, promovendo desenvolvimento.
A substituição da frota movida a combustível fóssil ou biocombustível tem sido lenta em todo mundo, mas aqui patina ainda mais, devido aos altos custos de importação e o preço final absolutamente fora do horizonte da esmagadora maioria dos brasileiros. Alguns países já estabeleceram prazos para a substituição integral da frota e a Europa estuda adotar 2035 como ano limite para a transição completa. Mas fazer isto aqui seria impensável no cenário atual. Ao todo, foram vendidos 34.990 veículos eletrificados (híbridos e elétricos) no Brasil em 2021, o que representa somente 1,8% de participação no mercado geral no ano passado.
Existe também a necessidade de ampliar a infraestutura para a frota elétrica, com pontos de recarga nas cidades e rodovias. É algo ainda muito incipiente no Brasil, mas um pacote de incentivos, conjugado com adoção de mecanismos para atualizar nosso parque industrial, teria potencial para agregar mais tecnologia e inovação num setor que gera muitos empregos. Se a necessidade nos move em direção à eficiência energética, temos que pensar no longo prazo e sermos mais ousados para termos aqui uma indústria que consiga produzir em larga escala e com custos menores essas tecnologias. Em momentos de transformações tão grandes, não podemos nos contentar somente com o papel de espectadores.
Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em Anápolis. Escreve todas as segundas-feiras. Siga-o no Instagram.
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