Aplaudi e vou apoiar, mas o Brasil está preparado para pagar o piso salarial dos enfermeiros?

Arruinar o serviço público de saúde, sucatear a maioria das unidades, chicotear os servidores efetivos e usurpar a realização de concursos, ao fazer credenciamento que confere ao novo servidor apenas o direito de ficar calado, é uma tática usada com maestria por alguns gestores. A ideia é apresentar como solução, a parceria com organizações sociais. Pauta para outro momento.
São vários assuntos nesse tema ‘saúde’, mas quero nesse artigo me ater à classe dos profissionais de enfermagem, com quem convivo há 40 anos. Reconheço a importância tanto na equipe de assistência, quanto no zelo com os pacientes.
Há dois dias, no Congresso Nacional, foi aprovado o PL 2564/2020, na Câmara dos Deputados, que versa sobre o aumento do piso salarial da enfermagem. Fiz questão de contribuir cobrando do deputado federal que me representa. Ele votou favorável, ao lado de mais 498 deputados.
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Enfermeiros terão agora R$ 4.750 de salário mínimo. Certo? Não é bem assim.
Há vícios no projeto aprovado. Esse PL irá impactar 16 bilhões de reais nos estados e municípios. Carece da indicação de onde virá o dinheiro. Sugiro tirar do Fundão Eleitoral (R$ 5,7 bilhões) e dos privilégios.
Não podemos deixar de destacar, a pressão da categoria. Conheço dezenas de profissionais que viajaram à Brasília por essa causa.
A pandemia deixou claro o quanto esses profissionais são valiosos e merecem a valorização, mas os desafios para o futuro próximo, devem nos deixar em alerta. A alegria dessa semana com a aprovação poderá transformar em tristeza amanhã.
Digo isso, porque poderá aumentar o número de desempregados e sobrecarregar mais ainda os já contratados. Em regiões do país com renda mais alta, será possível cumprir o piso, já que equipara com o valor do mercado. Mas em outras regiões menos desenvolvidas, esse piso poderá ser ignorado.
Já vimos esse filme com o piso salarial dos professores, criado em 2008. Em 11 estados no Brasil, ainda não são cumpridos nos dias de hoje.
Aplaudi a recente aprovação desse projeto, que já circulava há 33 anos. Mas há muito o que fazer para implantarmos sem efeitos colaterais, como o desemprego e a sobrecarga. Ao contrário, ficará evidente que foi um oportunismo eleitoral às vésperas das eleições.
É isso.
José Fernandes é médico (ortopedista e legista) e bacharel em direito. Atualmente vereador em Anápolis pelo PSB. Escreve todas às sextas-feiras. Siga-o no Instagram.
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