Como ficaria mapa da Europa com Finlândia e Suécia na Otan
Embora já tenham assinado o protocolo de adesão, a entrada efetiva vai depender da avaliação dos demais membros
Com a possível adesão da Finlândia e Suécia à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o quebra-cabeça do cenário internacional pode ter suas peças modificadas, com vantagem para os Estados Unidos, que ganhariam dois aliados de peso na aliança, enquanto que a Rússia se sentiria mais ameaçada do que nunca diante do novo cenário.
Embora já tenham assinado o protocolo de adesão, a entrada efetiva vai depender da avaliação dos demais membros. Feito isso, Finlândia e Suécia passariam a contar com a cláusula de defesa coletiva, que garante proteção militar conjunta. Os especialistas afirmam que os desdobramentos atuais podem repercutir em conflitos futuros.
Para Danielle Ayres Pinto, coordenadora do programa de pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a principal alteração que a adesão da Finlândia e da Suécia à Otan pode causar é o aumento das fronteiras da Otan com a Rússia. Ou seja, a organização terá mais possibilidade de fazer fronteira e chegar mais perto do território russo.
“Nesse caso, não só Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, mas também dois dos países nórdicos passariam a fazer parte da Otan”, afirma. Com isso, haveria, no mapa, não só o alargamento das fronteiras com o território russo, mas também maiores problemas por causa disso.
Ucrânia e Geórgia tiveram contatos anteriores para possível entrada na Otan, mas atualmente não têm um pleito ativo.
Segundo a especialista, com isso, a Rússia, obviamente, se sentiria mais ameaçada. “Uma coisa é ter limite territorial na Polônia, outra é ter na Finlândia e Suécia, que estão perto de cidades muito importantes como São Petersburgo, e até alguma proximidade com Moscou”, completa.
Outro ponto destacado por Danielle foi de que, se a Rússia atacar a Suécia ou a Finlândia, por exemplo, os demais países vão fazer o contra-ataque por serem membros da Otan. “Se por um lado teremos o aumento da insegurança e sensação bélica, também poderemos ter uma incapacidade de ataque da Rússia, meio que uma paz armada”, conta.
Na avaliação da especialista em relações internacionais Layla Dawood, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), é preciso reconhecer que a reversão das políticas de neutralidade da Suécia e da Finlândia deve ser tratada como um acontecimento histórico importante.
Segundo Dawood, apesar da mídia ocidental e muitos especialistas internacionais terem caracterizado esse desdobramento como uma vitória da Otan, essa avaliação é precipitada. Segundo ela, a entrada da Finlândia para a Otan, em especial, significa o aumento da fronteira direta da Otan com a Rússia.
“Nesse sentido, tem sido comum a assertiva de que a invasão russa à Ucrânia teria tido efeito contrário pretendido. Ao invés de estabelecer o domínio russo sobre parte da Europa, a invasão teria aumentado a coesão entre os antigos membros da Otan e angariado novos membros para a organização, fortalecendo-a”, frisa.
“É, evidentemente, um efeito direto da invasão russa à Ucrânia, que modificou a opinião pública e das autoridades políticas nesses países, levando a um claro apoio à sua entrada na Otan”, afirma.
NOVOS ALIADOS
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Augusto Teixeira, a Otan ganha mais peso porque a Finlândia possui forças armadas mais robustas que os países bálticos. Já a Suécia não apenas possui essas forças, como também tem tecnologia e base industrial de defesa como outros pontos positivos.
“Para a Otan, a entrada desses países reduz dois estados neutros, com função de ‘tampão’ geoestratégico, e os insere de forma ativa em favor da aliança estratégica contra a Rússia”, opina Teixeira.
Segundo ele, caso entrem, os Estados Unidos irão ganhar aliados de peso no sentido estratégico-militar. A Finlândia possui mais de mil quilômetros de fronteira com a Rússia, aumentando a zona de contato com a Rússia. Por parte da Suécia, os EUA logram trazer para a aliança um país rico, nórdico, que tem uma tecnologia e uma base industrial robusta.
Liderada pelos EUA, a Otan foi criada em 1949 com o objetivo de unir países ocidentais contra possíveis ameaças da então União Soviética em meio à Guerra Fria. Inicialmente, a Otan tinha 12 países-membros. Atualmente, conta com 30 e pode ganhar mais dois, caso a entrada da Finlândia e Suécia se concretize.
Fazem parte da Otan: Albânia, Alemanha, Bélgica, Bulgária, Canadá, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Eslováquia, Eslovênia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Macedônia do Norte, Montenegro, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Turquia.