China encara pior surto de coronavírus em 6 meses e descarta fim da Covid zero
Nação asiática registrou 7.475 casos da doença nesta segunda-feira (7), um crescimento de mais de 30% em relação ao dia anterior
Dias depois do surgimento de rumores de que a política de Covid zero da China enfim chegaria ao fim –negado pelo regime–, o país enfrenta um novo surto de coronavírus, o pior em seis meses. A nação asiática registrou 7.475 casos da doença nesta segunda-feira (7), um crescimento de mais de 30% em relação ao dia anterior, segundo dados oficiais.
É um aumento modesto se comparado com taxas de infecção de outros países. Mas ele é expressivo para a China, onde surtos do tipo têm sido controlados assim que nascem, com medidas que incluem a imposição de lockdowns a cidades e províncias inteiras, o fechamento de fábricas e de comércios, e o confinamento de milhões de pessoas em suas casas por semanas, às vezes meses.
O principal foco do surto atual é a cidade de Guangzhou, pólo fabril no sul do país que na segunda registrou 2.377 novas infecções por Covid, a maior quantidade de sua história. São quase 500 casos a mais em relação ao dia anterior, e um salto dramático em relação aos números de dois dígitos que apresentava duas semanas atrás.
Segundo o jornal South China Morning Post, as infecções em Guangzhou estão sendo guiadas por uma variante descoberta em Xangai em julho, a ômicron BA.5.2 –diferente, portanto, da linhagem que vem provocando aumentos de casos nos Estados Unidos, Europa e, mais recentemente, no Brasil, a BQ.1.
Ainda de acordo com o veículo, o regime ordenou a testagem da população nos nove distritos de Guangzhou em que foram reportados 90% dos casos, e declarou quarentena em uma dos bairros, Haizhu, no centro da cidade. Uma residente do distrito afirmou, no entanto, que mesmo as autoridades falavam em um “lockdown teórico”, já que boa parte das medidas de prevenção não são obrigatórias, mas dependem da vontade da população de seguir as recomendações estatais.
Além de Guangzhou, Pequim e outras cidades vitais para a economia do país, como Zhengzhou e Chongqiing, também registraram altas de casos e adotaram medidas semelhantes. Na última, oficiais fecharam karaokês, boates e outros locais de lazer citando uma situação “complexa e severa”. Até agora, não houve, porém, anúncios de um lockdown como o que paralisou Xangai por mais de dois meses este ano.
A alta dos casos testa a habilidade da China de manter o rígido controle sobre a pandemia que exerceu nos últimos três anos. Especialistas afirmam que ele fez com que sua taxa de vítimas da Covid fosse muito menor do que aquelas vistas no resto do mundo –oficialmente, houve 5.000 mortos em decorrência do coronavírus no país, uma fração dos quase 700 mil do Brasil. Esses números são, entretanto, questionados em razão da falta de abertura do regime.
Reportagem recente do Wall Street Journal afirma que líderes do Partido Comunista Chinês conversam sobre uma reabertura do país, preocupados com o impacto da Covid zero para a segundo maior economia mundial e para o descontentamento da população. Em outubro, a poucos dias do início do congresso da legenda que levaria Xi a um terceiro mandato inédito, a capital viu cartazes com críticas à política espalhados pela cidade, em um raro protesto contra o regime.
Ao mesmo tempo, os dirigentes se preocupam com as consequências dessa eventual reabertura para o frágil sistema de saúde pública e, consequentemente, para o próprio partido.