Conheça a história repleta de mistérios de Santa Dica de Lagolândia, local pertinho de Pirenópolis

Benedicta Cipriano Gomes é lembrada em Lagolândia por milagres, ativismo político e vitórias lendárias com exército que liderou

Emilly Viana Emilly Viana -
Busto de Santa Dica, em Lagolândia. (Foto: Prefeitura de Pirenópolis)

No meio da única praça de Lagolândia, um pequeno povoado ligado ao município de Pirenópolis, o busto de uma mulher de cabelos longos chama a atenção. A imagem é de Benedita Cipriano Gomes, uma poderosa líder comunitária da região que ficou conhecida como Santa Dica. Até hoje a figura atiça a curiosidade até dos viajantes mais distraídos, que se encantam com a trajetória marcada por milagres, revolução política e mistérios.

Dica, como era chamada, nasceu em 1903. A primeira grande história sobre ela se dá ainda na infância. Moradores contam, em relatos que passam de geração para geração, que a Santa adoeceu e foi considerada morta aos sete anos de idade. Porém, durante o procedimento de limpeza do corpo, familiares observaram que Dica suava frio. Eles decidiram não enterrá-la e, depois de três dias, a menina “ressurgiu viva” do leito de morte.

A história se espalhou pela região, chegando inclusive a Pirenópolis, onde a população começou a organizar romarias para pedir a bênção para a garota. Com isso, Dica se tornou famosa e, conforme envelhecia, passou a comandar dezenas de seguidores que repousavam em torno de sua casa e seguiam suas ordens com devoção.

Logo, a lendária Santa de Lagolândia mostrou-se não só uma figura requisitada por milagres. Foi ela a primeira a instituir um sistema de uso comum de solo entre os moradores do povoado, além de utilizar as missas que rezava para difundir ideias de igualdade, abolição de impostos e distribuição de terras.

Imagem de Santa Dica na juventude. (Foto: Divulgação / Prefeitura de Pirenópolis)

Com os anos, a fama de Dica começou a incomodar grandes coronéis e autoridades políticas. Em 1925, o Governo Estadual mandou sitiar o local e prender a dona da propriedade. O episódio é lembrado pelos locais como uma “chuva de projéteis de metralhadoras” sobre o sítio e pela defesa milagrosa da Santa: as balas iam de encontro a ela, mas se enrolavam em seus cabelos e caiam pelo chão.

O episódio terminou em três mortes. Enquanto os fiéis atravessassem o rio Jordão a mando da mulher, Dica acabou sendo presa. Conforme a tradição oral de Lagolândia, Santa Dica amarrou uma sucuri no poção ao fundo de casa para que os soldados não pudessem entrar no rio. Até hoje pessoas que vivem no povoado não passam pelo lugar por medo da cobra.

Imagem de Santa Dica e seus seguidores. (Foto: Reprodução / Prefeitura de Pirenópolis)

A prisão de Dica, porém, não durou muito tempo. Sem provas e com apelo da população, o governo acabou liberando-a. A partir daí a Santa formou um exército e, em uma das histórias populares mais famosas, fez com que os homens passassem vendados sobre a ponte de Jaraguá, em São Paulo, que estava minada. Nenhuma bomba foi detonada e estrutura veio a ruir após a último soldado atravessar, de acordo com a crença.

Dica se casou com o jornalista carioca Mário Mendes, eleito prefeito de Pirenópolis em 1934, e teve sete filhos. Ela morreu em 1970, aos 67 anos, sendo sepultada debaixo de uma gameleira em frente à casa em Lagolândia.

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